🔑 - Parte II

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Três meses antes

Acordei assustado sentindo meu coração pulsar sem parar, me levantei agoniado jogando o cobertor no chão. Sentado sobre a cama logo voltei à consciência que aquilo fora apenas um sonho. Os raios de sol penetravam as brechas da janela como pequenos fios de luzes chegando até meu corpo, eram quentes e me fez pensar que já seria mais de dez horas da manhã.

Me sentei, ainda sentia o corpo pesado e o coração aos poucos desacelerando conforme fazia meus exercícios matinais. Não era o primeiro pesadelo que tinha e tão pouco o último.

Meu quarto era pequeno, possuía uma cama de casal que ocupava metade do quarto, um guarda-roupa velho doado pela minha avó e um criado mudo desgastado do tempo que encontramos na rua, mas ele era tão bonito que Alice e eu não resistimos em pegar.

Senti um cheiro gostoso de ovos fritos, o aroma vinha da sala como um espírito me puxando com seu toque suave. Levantei-me da cama em um pulo desajeitado, limpando as remelas que pregava meus olhos, procurei meus chinelos e não os encontrei, "jurava que estavam aqui," pensei comigo mesmo. Caminhei descalço em direção a porta do quarto e a abri, pude ver os raios de sol invadirem meu quarto por inteiro.

Segui em direção ao banheiro e senti tapete macio sob meus pês. Entrei liguei a lâmpada e segui até o armário que guardava meus objetos de higiene, o abri e tirei minha escova e o creme dental. Depois de fechá-lo me olhei-me no espelho e me senti bem, meu rosto estava sem barba e meu cabelo bem cortado. Enquanto terminava de escovar os dentes não consegui parar de pensar no cheiro de ovos fritos e saber que podia encontrá-la.

Após terminar minha higiene fui até a sala e meu coração se encheu de alegria quando a vi arrumando o pequeno cômodo e preparando a mesa, fiquei um tempo parado só observando o que ela fazia e naquele momento eu não precisava de mais nada.

— Bom dia David, eu não te vi. — ela se aproximou de mim e me deu um beijo delicado na boca e bagunçou meu cabelo. — Dormiu bem? — Ela perguntou e voltou para junto da mesa.

— Tive um sonho horrível, mas estou melhor agora com você aqui. — eu disse por fim.

Alice era uma jovem de 23 anos, tinha cabelos escuros na altura do ombro, pele alva como a neve, grandes olhos castanhos e uma boca pequena e macia. Ela também era muito alegre, otimista e adorava ler e escrever; nos conhecemos no ensino médio e desde aquele esbarrão na aula de português, não nos desgrudamos mais. Quando completamos dezoito anos nos casamos e todos foram contra a ideia, dizia que éramos novos de mais para essa responsabilidade, mas se tinha uma coisa que ambos concordávamos, era que o nosso amor era real.

— Qual foi seu sonho? —Alice perguntou se sentando à mesa e cortando o pão.

— Sonhei que estava preso em um casulo de vidro e quando eu te via, gritava seu nome, mas você não me ouvia... e inesperadamente aquele tanque começa se encher de água e eu me afogava. — Disse olhando fixamente para o vazio, o sonho era tão real. Meu mentor dizia que isso era muito bom, os sonhos eram rascunhos de boas histórias.

— Foi apenas um sonho, não fique assim. — ela puxou minha mão e a segurou sobre a dela. — Estou aqui e não vou a lugar nenhum.

— E você? com o que sonhou? — perguntei.

— Bem, não vou dar detalhes porque foi bem picante... — Corou ela e enquanto Alice descrevia seu sonho eu ficava olhando seus lábios se mexendo para cima e para baixo, eram lindos.

— Nossa isso é injusto eu queria estar nos seus sonhos. — me sentei ao lado dela e peguei os ovos fritos que estavam sobre a mesa e os coloquei no pão.

A Chave de OuroOnde histórias criam vida. Descubra agora