- Que saco, por que eu tô tão nervoso? Até parece que eu nunca fui pra um casamento antes...
- Vou fingir que nenhum de nós sabe o porquê, que tal?
Marcela McGowan ajeitava cuidadosamente a gravata de Daniel Lenhardt, enquanto tentava sem muito sucesso acalmar a ansiedade do rapaz. Os dois eram um dos poucos que ainda permaneciam para fora da igreja, já que quase todos os convidados estavam acomodados em seus lugares.
O trânsito de São Paulo, como de praxe, os havia atrasado. Marcela foi buscar Daniel no hotel em que estava hospedado, a fim de chegarem juntos. Isso apesar de não ser segredo para ninguém àquela altura que os dois já não namoravam, mas se tornaram bons amigos. Conversavam sempre que podiam e aparentemente, o fim do relacionamento fez bem aos dois.
Ao chegarem praticamente junto com o carro da noiva, correram desesperados para dentro do templo, chamando a atenção de alguns dos presentes. Tentando se concentrar para não ser o centro das atenções, Daniel demorou a perceber que Ivy apontava o lugar que reservara para eles ao seu lado.
Ao se ajeitarem, pode perceber uma olhada não muito discreta de Felipe Prior, que estava na fileira oposta, em sua direção. Automaticamente, sentiu que sua mão tentava afrouxar o colarinho da camisa branca que estava usando, a fim de tentar dissipar o nó que formava em sua garganta.
O casamento transcorria com tranquilidade, arrancando sorrisos e suspiros de todos os cantos da igreja. Enquanto isso, Daniel e Felipe insistiam em não sair de seu mundo particular, já não se preocupando em esconder um do outro as frequentes trocas de olhares, que se intensificavam a cada segundo. Àquela altura, nenhum dos dois conseguia esconder muita coisa, mas ainda havia muita subjetividade pairando sobre eles.
Algumas horas depois, todos se reencontraram na luxuosa festa. Sem reservas, os conhecidos conversavam uns com os outros, mas Daniel decidira manter uma distância segura de Prior, que não entendia o motivo daquilo depois da cumplicidade na igreja. Tentou se aproximar dele em vários momentos, sendo esquivado na maior parte deles. Só ficavam próximos quando tinham amigos no meio, nunca a sós.
Até Daniel ir ao toalete.
Prior percebeu a oportunidade e, ao confirmar que não seria notado, seguiu-o.
Ao ter certeza que estavam enfim sozinhos, deu um jeito de trancar a porta. Não daria chance ao gaúcho de se esconder dele tão facilmente como já tinha feito nos últimos dois anos.Alguns minutos depois, ao abrir a porta do compartimento, Daniel deu de cara com uma figura familiar fitando o espelho, perdido em pensamentos. Ao notar o olhar distante do rapaz, lavou as mãos e tocou as palmas molhadas no rosto ao seu lado, a fim de trazê-lo à realidade.
- Prior? Tá tudo bem? - questionou o loiro virando o rosto do outro para si, nitidamente preocupado.
- Ah... - o arquiteto buscava concentrar-se, fingindo casualidade - Oi, salsicha. Estou bem.
- Não parece.
Lenhardt, a fim de acalmar o amigo, segurou-lhe os ombros, buscando trazer algum conforto. Naquele momento, os olhares dos dois voltaram a se encontrar por longos segundos e as palavras novamente desapareceram de suas bocas.
Felipe tentava descobrir o que estava acontecendo para Daniel evitá-lo, mas não conseguia. A única coisa que tinha certeza era que aquelas trocas de olhar mexiam demais com ele de uma forma inexplicável, que jamais sentira com nenhuma outra pessoa. No fundo, já sabia o que estava acontecendo, mas para ele era complicado admitir.
- Err... - Daniel finalmente conseguiu juntar forças para sair daquele transe e suspirou - Acho que é melhor voltarmos. Devem estar preocupados com a gente. - Pegou o celular do bolso do paletó e observou rapidamente as notificações - Não é a toa que tem várias mensagens da Marcela.
Felipe tentava ao máximo se recompor da brusca interrupção.
- Vai na frente. Depois eu apareço por lá.
- Beleza. Só não demora muito porque tenho certeza que várias minas estavam de olho em você lá no salão - riu ele, depositando leves tapas em suas costas e indo em direção à saída.
Ao destrancar a porta, olhou para Prior, que permanecia de costas para ele, e percebeu que todo aquele momento entre eles não foi só uma mera coincidência. Tentou afastar tais pensamentos, mas sua cabeça criava várias teorias sem o mínimo controle.
Felipe estava furioso consigo mesmo por não conseguir resolver esse problema com que vinha lutando incessantemente. Olhando novamente para seu reflexo no espelho, percebeu que seus olhos inundavam. Voltar a ver Daniel revelou uma parte dele que jurava ser parte de seu passado. Nunca soube lidar com o que o loiro causava nele e aquela sensação estava voltando com mais força que nunca.
Enxaguando o rosto com o máximo de esmero possível, esfregava constantemente as palmas de suas mãos contra o rosto a fim de mostrar que nada demais havia acontecido ali. Respirava pesadamente a fim de manter o foco, então decidiu mudar sua estratégia.
Também evitaria Daniel. Assim os dois estariam quites.
No salão, uma cena que fora improvável na casa do BBB, se tornara real. Babu, Marcela, Flayslane e Ivy conversavam sem nenhum alarde próximos à pista de dança, bebendo suas bebidas.
Daniel dançava com Pyong, Thelma e Rafa em meio aos outros convidados, fora de cena.
Durante a conversa, Babu observou Prior saindo do toalete e percebeu que havia algo errado. Então, comentou a respeito com as meninas.
- Prior tá pra baixo. Será que devo falar com ele?
- Claro, ele deve estar precisando de um ombro agora. Ainda mais se o motivo disso tiver relação com o que estou pensando - disse Marcela, também analisando o ex-brother, que estava sentado sozinho na mesa.
- Como assim? - perguntou Flay, tentando situar-se no assunto.
- Ah, certeza. Pelo menos agora fica mais fácil ter certeza que é recíproco. Acabou de vez com a pulga que eu sempre tive atrás da orelha - Ivy retrucou, seguindo a fala de Marcela.
- Gente, dá pra vocês me situarem no que tá acontecendo?? - Flay chamou a atenção do grupo.
- É o seguinte - Marcela começou - Dani tem um crush encubado no Prior desde o tempo em que a gente namorava. Tanto que foi por isso que decidimos terminar na época.
- Sério? Que babado!
- E você achando que era a Rafa, né amiga? - Gizelly chegou no círculo, já enteirando a história, o que arrancou risos das duas.
- Pois é, fui trouxa mas vida que segue - Marcela continuou - Enfim, continuamos muito amigos, até que, em um dia que ele ficou muito bêbado, me contou que continuava afim do Prior mesmo depois do fim do reality, mas nunca teve coragem de contar pra ele por não saber como o cara ia reagir.
- Achei pesado. Pode continuar - riu Flay, sem poder se conter.
- A melhor parte da história - Babu voltou a falar - É que Felipe também tem sentimentos encubados pelo branquelo. Ele nunca me disse nada admitindo isso, mas ainda na casa dava pra ver o jeito que ele se comportava quando estavam perto, principalmente nas festas onde os dois se soltavam quando estavam sozinhos.
- A cara do Felipe foi emblemática quando viu o Dani e a Má se beijando lá pela primeira vez. Eu tava quase do lado dele e vi de camarote. Quando tudo acabou, achei um print melhor de ângulo na internet e confirmei minhas suspeitas - Ivy completou.
- Amo um casalzinho não assumido - divertia-se Flay, que continuou - Agora vocês sabem - apontou para Marcela e Gizelly - que foram umas empata foda né?
- A gente sabe, mas não temos muito orgulho disso - retrucou Gizelly imediatamente.
- Enfim, precisamos fazer alguma coisa pra esses boiolas se resolverem. Não pode passar de hoje, porque se o Dani vai embora, tudo continua igual nessa nhaca - Ivy concluiu.
- Eu tenho um plano. Querem escutar? - Flay disparou, atraindo a atenção de toda a roda - Prestem atenção.
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Efêmeros
Fiksi PenggemarSentimentos mal resolvidos e um encontro esperado. Parece o cenário perfeito para colocar as cartas na mesa e, com alguma sorte e uma pitada de atitude, outras coisas também.