Gustavo gostava de visitar aquele lugar. Tinha um monte de árvores e uns vovôs e vovós que eram bem legais, com óculos amarelados que deixavam eles com olhos gigantes. Alguns dos velhinhos tinham bigodes, outros colocavam a calça acima da barriga. Era engraçado.
Naquele dia, tinha sol, então a mãe deixou ele levar a bola de futebol. Era pena que os vovôs e vovós usavam bengala e não podiam jogar futebol... Acabou que ele chutou um pouco pelo jardim e se enjoou. Foi pegar um colo com a mãe.
A mãe ficava com uma velhinha toda a vez que iam ali. Era estranho, porque ela era magrinha que parecia que ia soprar um vento e derrubar ela. Ela sempre chamava o Gustavo de Brunhildo e de vez em quando xingava. Ela dizia que ele tinha que ir pra horta ajudar o pai, alimentar as galinhas ou fazer outra coisa assim.
O Gustavo não entendia. Às vezes, sua mãe chorava. A vovozinha mandava ela sair, gritava com ela, não sabia quem ela era. Ele achava muito triste, tinha pena. Não entendia muito bem porque aquela vó não era que nem a vó Bianca, que fazia pão de queijo pra ele e tinha um monte de cachorros.
Naquele dia a vó que xingava estava bem. Estava sentada na cama, e olhava a mãe com uns olhos perdidos. Parecia que ia lembrar alguma coisa, que queria dizer.
Ele entrou de fininho, se enfiou do lado da mãe. A vó olhou.
-Brunhildo – disse a vó – vem cá dar um abraço.
Gustavo foi, tinha que ir, deu abraço.
-Vai logo ajudar o pai agora. E leva a moça até a porta, acho que ela está perdida.
Gustavo olhou a mãe. Ela chorava. Saiu com ele, chorando ainda. Era sempre assim. Ela sempre saia chorando e toda a semana voltava. Ele não chorava, também não se lembrava e no seu coração, o esquecimento não doía.
Mas quando estavam no carro, naquele dia, ele se pendurou atrás da cadeira da mãe.
-É muito triste terem roubado a memória da vó. Fica bem, ta mãe? Eu não deixo ninguém roubar a sua, assim você nunca vai me chamar de Brunhildo também.
A mãe riu um pouco. Ele ficou feliz. Foram pra casa e também esqueceram. Pelo menos, até a próxima visita.
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O livro da memória
Cerita Pendek"Era mestre no fabrico de memórias. Ninguém as tecia como ela. Poucos tinham a capacidade de armazenar pequenas tolices cotidianas transformadas em poesia. Ela conseguia." Trecho do conto "Fabricantes de memórias" As recordações fazem parte de qu...