23. Um pesadelo não lembrado

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[3 horas antes]

Jungkook estava prestes a fechar a loja, organizando as últimas cadeiras e os últimos doces da vitrine, ligando as luzes destas e desligando o resto das da confeitaria. Até que um homem se aproxima de si, pedindo um único pedaço de torta. O Jeon até tentou explicar que o seu expediente já tinha acabado, e que a loja já estava fechando, mas o outro homem parecia não o escutar muito bem, ignorando grande parte do que o mais novo falou, adentrando a loja tranquilamente.

Como a confeitaria já estava prestes a fechar, o Jeon não achou outra alternativa além de chamar seu chefe, para que ele pudesse resolver o problema calmamente, porque Jungkook não teria tempo de ficar mais ali na loja. O jantar seria em pouco tempo, e Taehyung já havia ido para casa. Seu chefe era realmente a única opção.

Quando chamou o Jung e finalmente o viu descer as escadas, explicou rapidamente a situação e se despediu do amigo com um abraço, correndo para fora do estabelecimento, deixando o homem - ao qual tinha uma vaga lembrança - e seu chefe sozinhos.

- E então, qual torta vai querer? - Virou-se para o outro, observando o rosto dele. Seu corpo parecia que o conhecia, mas sua mente falhava ao lembrar.

- Qual a torta que você acha a mais deliciosa? - Perguntou inocentemente, tentando fazer os olhos do outro se fixarem em si, mas Hoseok estava com medo de quem aquele homem poderia ser, então não fazia o menor esforço para olhá-lo.

- Eu não provo os doces, senhor. Me perdoe. Mas dizem que 'Blue Side' é uma das melhores tortas feitas em Seoul - Jung mantinha as mãos juntas em frente ao corpo, não conseguindo as manter longe uma da outra.

- Dizem que é feio conversar com alguém e não olhar para esse pessoa, Hoseokinho - O apelido despertou algo como um clique em sua cabeça, que o fez olhar para o homem em sua frente. Um sorriso beirava os lábios dele, sorriso este que o chefe conhecia bem.

Foi quando voltou a sua infância. Aquele era o mesmo sorriso que tinha visto naquela rua. Três meses e meio vendo o mesmo par de olhos o observar todos os dias. O gosto em sua boca tornou-se extremamente doce. A cabeça passou a doer, sem mais, nem menos. Ou talvez mais, porque as lembranças passaram a o atingir.

Voltou para o tempo em que havia se perdido nas ruas da cidade, e que foi parado por um homem, parecia ser um mero jovem adulto, mas que conseguiu o arrastar até uma casa. Que conseguiu o manter lá por três meses e meio, o fazendo se alimentar apenas de doces. O fazendo morrer aos poucos, sem nada mais. Voltou para o tempo em que ainda tentava ver bondade em Kim Seokjin toda vez que ele ia lhe alimentar naquela cadeira, naquela sala mofada, e batia em si.

As mãos de Hoseok passaram a tremer incontrolavelmente, mas ele as levou até o pescoço do Kim. Expulsou ele até fora da confeitaria. Trancou a porta. Se fechou dentro da própria loja. Se fechou dentro da própria mente. Se fechou dentro de si mesmo. Se manteu ali dentro, derramando as próprias lágrimas.

As mãos formigavam onde tinham encostado a pele de Seokjin, pareciam queimar a si mesmo. O peito doía conforme lembrava de tudo, conforme lembrava do gosto de cada bala, chocolate e coisas que ele não fazia a menor ideia do que era naquele tempo, conforme lembrava de cada machucado que o Kim havia feito enquanto era garoto.

Parecia um enorme pesadelo, não sabia de onde tirava forças para continuar ali, para continuar acordado. Mas aquilo não era a única coisa que formava o sonho ruim. Se formava também porque não tinha ninguém ao seu lado naquele momento. Se formava também porque o sorriso maligno de Seokjin não era o único estampado em sua mente.

Se formava também porque o rosto de Namjoon estava no meio de sua infância esquecida também.

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