CAPÍTULO 4 - PERGUNTAS E PRESENTES (REVISADO)

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Para minha surpresa Artur não se comporta tão mal quanto eu esperava e nem tenta fugir me acertando na nuca com um pote de vidro de maionese (sim, isso aconteceu uma vez com um outro cliente. Não, não posso dar nomes. Sim, vocês provavelmente sabem quem é, ele é muito famoso).

Aproveito que vamos comprar um terno e uma camisa limpa para ele e já compro logo de uma vez cinco opções de cores variadas para termos guardadas em seu escritório. Não nasci ontem e já sei que essa história de bebedeira e dormir no escritório ainda vai se repetir algumas vezes até que ele aprenda a dormir na própria cama (e sóbrio). E quando eu digo cores variadas para suas camisas quero dizer: branco, branco gelo, branco casca de ovo, branco sal marinho, branco neve do Polo Sul, branco neve do Polo Norte...

Quanto mais importante você é na sua empresa, mais sem graça tem que se vestir. Não sei por que, mas é assim que as coisas são!

Depois do shopping, vamos para a reunião e Artur ouve tudo, em silêncio, fingindo interesse e fazendo anotações um caderninho. Ele parece tão compenetrado que eu preciso ver o que ele está anotando. Para quem disse que nem sabia do que se tratava a própria empresa, ele parece estranhamente focado. Me levanto discretamente do cantinho onde fui colocada para esperar e espio por cima do ombro dele.

Ele está jogando jogo da velha com si mesmo!

Mas suponho que isso seja melhor do que aparecer na reunião bêbado e cheirando a pastel de feira.

O resto do tempo fico tentando entender o motivo daquela reunião, para – finalmente – descobrir o que a empresa Picato faz, mas é impossível! Parece que eles estão falando outra língua ou palavras desconexas. Não me admira que o CEO deles seja um alcoólatra impulsivo, só assim mesmo para suportar um emprego que ele não mesmo sabe do que se trata.

Quando a reunião termina, levo Artur para almoçar em um restaurante vegetariano na esquina da Picato. Ele faz cara feia quando eu peço dois sucos de laranja.

– Vários outros empregados da empresa bebem uma cerveja no horário de almoço! – ele reclama.

– Você não é um empregado da empresa. É o dono. Tem que dar o exemplo – eu falo, firme.

– E agora vou ter que virar vegetariano também? – ele pergunta, quando se dá conta de que as almôndegas no seu macarrão são feitas de berinjela.

– Só enquanto você estiver na minha companhia – eu falo tentando disfarçar um tom de satisfação – Mas você pode se surpreender com o quanto vai gostar dessa vida sem carne.

Artur suspira e se esconde atrás do seu celular, de onde o vem o som irritante de um joguinho de corrida. Eu puxo o celular da sua mão e enfio na minha bolsa.

– Se concentre na sua comida – eu falo – Faz mal comer olhando para o celular.

Minha nossa, Artur não dorme na própria cama, não tem modos na mesa... é como ter de criar de novo o filho de outra pessoa. Sinto falta dos meus clientes octogenários. Muitos deles malucos de pedra, mas pessoas muito finas e bem-educadas.

– E aprenda a comer devagar – eu completo, quando vejo Artur enfiando uma almôndega inteira na boca – A pressa é inimiga da digestão.

Ele balança a cabeça, confuso.

– Você quis dizer "da perfeição"? – ele pergunta, disfarçando uma risada.

– Quis dizer o que eu disse – respondo, contrariada.

Artur dá um sorriso forçado.

– Está bem. Vamos conversar então, como dois adultos. Quantos anos você tem?

Procura-se uma namorada (para o meu chefe) - [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora