No dia seguinte chego ao escritório da Picato às oito horas em ponto. Sei o quanto minha calça jeans e minha jaqueta de couro chamam a atenção naquele ambiente que mais parece um mar de camisas sociais flutuantes, mas agora que já sei qual o meu real trabalho aqui, eu não ligo. Eu não sou uma mera anotadora de recados do CEO, sou a pessoa que veio salvar essa empresa de afundar nas mãos de um riquinho babaca.
Enquanto atravesso o corredor do trigésimo segundo andar, os funcionários me lançam olhares que são um misto de espanto e alívio, como se eles já soubessem que eu estou ali para colocar Artur Picato nos eixos.
Entro na sala de Artur sem bater e encontro o idiota deitado no chão lendo uma revistinha em quadrinhos. Ele me olha pelo canto dos olhos e parece feliz em me ver.
– Bom dia, senhorita Lima! – ele fala em tom de deboche, como uma criança travessa que está pronta para colocar as asinhas de fora com a nova babá.
– Bom dia senhor Picato. Vamos começar a trabalhar? – eu falo séria, fechando a porta atrás de mim.
Artur larga a revista em quadrinhos e se senta, encostado contra sua mesa.
– Consigo pensar me pelo menos quatro coisas que nós dois poderíamos fazer que seria muito mais divertido do que trabalhar – ele responde, cruzando só braços e me lançando um olhar de desafio.
Chego a sentir um arrepio de nojo daquele homem. Mas me sento no sofá de couro, de frente para ele, e falo com minha voz séria no melhor estilo "não vou tolerar esse tipo de comportamento".
– Escuta aqui, senhor Picato, se você continuar falando com suas funcionárias desse jeito, sua empresa vai sofrer uma enxurrada tão grande de processos de assédio que logo você vai estar deitado na sarjeta tomando sopa dentro de um balde.
Artur me encara e para minha surpresa seu semblante se torna sério. E claro que isso o torna ainda mais bonitão.
– Eu não falo com as funcionárias de empresa desse jeito – ele responde com uma sinceridade desconcertante, mas volta a dar um sorriso logo depois – Guardei meu charme só para você.
Eca.
Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo, que é praticamente um ritual que eu sigo sempre antes de começar a trabalhar. Embora na metade do dia já não restem mais do que três mechinhas do meu cabelo cor de salsicha ainda presas no rabo. Lembro do longo cabelo castanho que eu costumava ostentar por aí, mas agora não adianta mais chorar sobre o leite condensado (ou qualquer coisa do tipo, nunca consigo me lembrar desses provérbios direito).
Volto a focar no meu trabalho.
– Preciso da sua agenda de hoje, senhor Picato. Quais são seus compromissos? – falo, decidida.
Artur dá um sorriso no canto da boca enquanto finge olhar na tela do celular.
– Deixa eu ver... – ele fala com uma voz idiota – Um jantar com a minha assistente pessoal às oito?
Como eu detesto meus clientes nos primeiros dias de trabalho!
Não é nada incomum que esse bando de milionários enjoados fique dando em cima de mim, embora a maioria só esteja querendo me comprar para que eu faça vista grossa para suas besteiras. Mas de uma coisa vocês podem ter certeza: nunca dá certo.
Me ajoelho diante de Artur como se eu estivesse falando com uma criancinha.
– Vamos esclarecer uma coisa aqui, senhor Picato: eu não tenho e nem nunca terei o menor interesse amoroso ou sexual em você, então já vamos riscar esse tipo de comportamento do nosso relacionamento.
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Procura-se uma namorada (para o meu chefe) - [DEGUSTAÇÃO]
ChickLitCatarina Lima tem um emprego nada convencional. Ela é babá de riquinhos que têm mais dinheiro do que bom-senso. Sejam vovôs milionários que querem gastar toda a herança da família ou adolescentes mimados que não se cansam de rasgar o dinheiro dos...