CAPÍTULO 6 - TRABALHO DOBRADO (REVISADO)

6.9K 748 653
                                    


Acordo assim que meu despertador começa a tocar.

Mal abro os olhos e sinto uma palpitação de pavor. O rosto de Artur está quase colado ao meu. Seus olhos bem abertos me observam atentamente e ele tem um sorriso nos lábios.

– Então... – Artur fala de um jeito galanteador, mas também extremamente patético – Nós dois, hein...

Afasto meu corpo do dele e me sento na cama.

– Se toca, Artur, nada aconteceu.

Mas ele parece me ignorar e rola para mais perto de mim, passando por cima da muralha de travesseiros que coloquei para manter seu corpo longe do meu.

– Pelo visto já deixamos as formalidades de lado – ele fala – Ou você não acabou de me chamar de Artur?

Concordo com a cabeça, enquanto faço um rabo de cavalo.

– Chamei sim. Você perdeu meu respeito ontem a noite. Não merece mais um tratamento formal.

Seu sorriso parece vacilar e ele me olha sem entender.

– Como assim? Você está querendo dizer que eu... eu não consegui... performar ontem à noite?

Sua escolha de palavras é tão bizarra que eu demoro a entender o que ele está querendo insinuar. Minha nossa, ele realmente está insistindo nessa história de que algo aconteceu entre nós!

– Acorda, Artur! A única "performance" que você fez ontem foi a de "bêbado sem rumo". Você me ligou de madrugada porque não conseguia encontrar seu carro e eu te busquei no Mc Donalds da rodovia.

Ele fica em silêncio, até que fala baixinho, para si mesmo.

– O Mc Donalds verde...

Aleluia, senhoras e senhores! Ele se lembrou de tudo!

– Sem contar que ontem você estava tão bêbado que nem se eu quisesse, e eu jamais iria querer, alguma coisa poderia ter rolado entre nós. Já ouviu falar de "consentimento" por acaso?

Ele concorda com a cabeça, seu semblante se tornando estranhamente... triste?

– Que bom que sua memória voltou – eu falo, irônica, tentando ignorar a expressão cabisbaixa da Artur – Porque eu estava prestes a roubar sua identidade e me tornar a nova CEO da Picato.

Mas Artur não acha graça na minha piada. Na verdade, sua cabeça está tombada, como se ele encarasse o próprio umbigo e eu quase não consigo acreditar quando ouço os primeiros soluços.

Artur está... chorando?

Sento-me ao seu lado, com cuidado, tentando avaliar a melhor forma de agir naquela situação.

– Artur, você está se sentindo bem? – pergunto no tom mais delicado que consigo – Eu tenho umas aspirinas aqui para... ressaca.

Ele não me encara e seus soluços só ficam mais altos. Vejo as lágrimas que escorrem pelo seu rosto.

– Eu sou um bêbado inútil e asqueroso! Claro que você não ia querer nada comigo, claro que ninguém quer nada comigo!

Fico pensando se eu deveria concordar com suas palavras e transformar aquilo numa espécie de aula de autoajuda, mas ele parece sentido demais para suportar a verdade. No lugar disso, dou tapinhas nas suas costas.

– Para com isso, Artur, você é o sonho de um monte de mulheres por aí.

Provavelmente mulheres malucas ou golpistas de olho no dinheiro dele, mas não preciso entrar em detalhes. Ele enxuga as lágrimas na manga da camisa, que está manchada de ketchup, deixando sua bochecha com um risco vermelho. Preciso engolir uma gargalhada para não rir do meu cliente em um momento de fragilidade como aquele. Mas que ele parece patético... ah, isso ele parece mesmo!

Procura-se uma namorada (para o meu chefe) - [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora