A NOITE era fria, nublada, tal como qualquer outra noite londrina naquela época do ano. As pessoas caminhavam apressadas pelas calçadas, não dando a devida atenção às coisas que as rodeavam.
Em um beco escuro uma vida sem importância fora usurpada, contudo, nenhuma alma apercebeu-se de tal premissa, nenhuma delas se daria ao luxo de bisbilhotar em um beco após ter ouvido um grito estridente a sair do mesmo. Tudo o que fizeram foi apertar os próprios passos, no intuito de fugir de seja lá o que for — ou quem for — o responsável pelo grito.
As palavras vida sem importância são, aqui, usadas no intuito de descrever a vida de um pedinte, tendo em vista que a grande maioria das pessoas os dá como indigentes antes mesmo de estarem desfalecidos.
Minutos após uma sombra distorcida desaparecer, uma caixa azul se materializou ao lado do corpo. Dela saíram duas mulheres, uma ruiva e outra morena; que caminharam com cautela até o cadáver.
A ruiva possuía olhos velhos, cansados, olhos de quem certamente viveu mais do que deveria ter vivido, os mesmos olhos de soldados que vivenciaram os horrores das guerras. Já a morena possuía olhos joviais, brilhantes, que exalavam animação; eram olhos de alguém que, certamente, não vivenciou as piores coisas do mundo.
Ambas olharam, fixamente, para o corpo; tentando encontrar alguma pista de quem — ou o quê — usurpou a vida do pobre morador de rua.
Entristeço-me em dizer que sua tentativa foi frustrada. Não encontraram nada, nem ao menos uma pista sequer.
— Qual a probabilidade de ser o prisioneiro que, acidentalmente, deixamos escapar? — A morena indagou, seu olhar vagava pelo horizonte ao final do beco
— Qual a probabilidade de isto ser apenas uma coincidência? — A ruiva devolveu a indagação
Clara bem sabia, a Doutora não acredita em coincidência e acaso, nunca acreditou; nem mesmo quando era o Décimo Primeiro. Tudo sempre teve um motivo, um porquê.
"As coisas não acontecem simplesmente por acontecerem, Clara; elas estão predestinadas. Elas acontecem porque precisam acontecer." — Era o que a Doutora costumava dizer
A mais nova dentre elas respondeu com um simples encolher de ombros; ela sempre soube que não vale a pena debater em demasia com a pessoa que acompanha. A Doutora sempre tem argumentos plausíveis em demasia, argumentos os quais sempre acabam por deixá-la desarmada e com a única opção de concordar.
Com o tempo aprendeu que era demasiadamente mais fácil concordar logo no início, tendo em vista que acabaria por fazê-lo de um jeito ou de outro.
— Deveríamos ir; estamos começando a atrair olhares curiosos. — Clara se pronunciou, por fim, apontando com cuidado para os moradores dos apartamentos do prédio do lado direito do beco
A contragosto a Doutora adentrou a caixa, sendo seguida por sua fiel companheira. Clara está com ela desde quando ela era ele. É a companheira que mais durou, está junto dela há quatro reencarnações, o que é um recorde admirável tendo em vista que a maioria de seus companheiros morriam ou desistiam meses após se juntarem a ela.
Apesar de nunca se dar ao luxo de admitir, ela aprecia a companhia da morena. Nem mesmo River Song foi capaz de ficar ao seu lado por tanto tempo.
— Precisamos encontrá-lo antes que mais assassinatos ocorram! — A ruiva se pronunciou ao que colocou a TARDIS para funcionar
Clara sabia, assim como a Doutora e eu, que o fugitivo poderia estar, literalmente; em qualquer canto do espaço tempo, que poderia, até mesmo, ter voltado para seu planeta de origem e que poderia não ter sido o responsável pelo assassinato; mas o fato irrefutável que nenhum de nós três queríamos admitir naquele momento era o de que precisávamos procurar em todos os cantos possíveis e levar cada anomalia — por menor que fosse — extremamente a sério.
Livrinho escrito com meu pão de mel _deniov
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Os irmãos Holmes e a caixa misteriosa
FanfictionLondres, 2020, uma série de assassinatos estão a assolar a capital inglesa. Testemunhas relatam a aparição de uma misteriosa caixa azul nos locais nos quais os crimes foram cometidos; contudo, não há nada quando a polícia chega para investigar. A aj...