PERIGOSAMENTE ANDANDO NA BORDA DO CÍRCULO

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Estava em uma clareira, e parecia início da primavera, porque as árvores ao redor tinham suas folhas numa coloração muito verde, e o capim baixo estava todo pintado por pequenas flores brancas que se balançavam pela brisa que soprava as vezes, e o sol brilhava forte demais, me obrigando a fechar os olhos quando seus raios atravessavam os galhos das maiores árvores. Estava deitado no capim e não tinha pressa para levantar, mas meu corpo reagiu, como se não tivesse mais sozinho, e a tensão me colocou de pé e me fez começar a caminhar como se soubesse aonde ir, e a cada passo a brisa ficava mais forte até que havia se tornado um vento forte que chacoalhava os salgueiros da beira de um lago de águas escuras.

Agachado na borda desse lago estava um rapaz alto e magrelo e seus cabelos eram uma confusão dourada respondendo aos impulsos do vento.

Me aproximei e percebi que o rapaz se tratava de Caliel.

- Ei, o que você tá fazendo? – falei, mas ele nem mesmo pareceu notar que eu estava ali – Caliel, Ei!

De algum jeito ele não podia me ouvir, estava encantado com alguma coisa no lago, pois não desviava os olhos momento algum da água.

Caliel tinha o tom de pele comumente avermelhada por sempre estar queimado de sol, e usava uma camisa vermelha larga de mangas compridas, parecia um personagem de alguma peça de Shakespeare, com uma pequena coroa de flores brancas na cabeça e tudo.

Me aproximei e toquei seu rosto o desviando para mim e então pela primeira vez notou que eu estava ali e sorriu ficando de pé, abrindo a boca pra dizer algo, mas logo mudando de ideia e voltando a sorrir enquanto se aproximava e me tomava num abraço apertado, me tirando um suspiro surpreso e gerando um calor morno e agradável, relaxante e demorado. Enquanto ele descansava a cabeça no meu ombro fiz o mesmo aproveitando esse momento que poderia durar pra sempre, mas que infelizmente durou até meus olhos correrem pelo nosso reflexo no lago e eu notar que esse não refletia Caliel, apenas me refletia.

O susto que levei fez ele me abraçar ainda mais forte, quase machucando, e então encarando com olhos tristes e sem brilho, nos atirou com tudo pra dentro do lago.

Eu não conseguia enxergar quase nada, era como se a água tivesse uma película que rebatia toda a luz do sol lá fora e não te deixasse saber contra o que estaria lutando até encontrar o fundo enlameado do lago e morresse afogado ou enforcado pelas algas. Estava cada vez mais difícil de ficar com os olhos abertos e se manter acordado, então eu parei de lutar e novamente ela apareceu.

ºººººººººº

Abri os olhos e não tinha água me afogando ou alga me sufocando, a única coisa era minha cama completamente bagunçada e a luz do sol que entrava pelas frestas dos galhos na sacada, tudo não havia passado de um sonho.

Eu na verdade não estava surpreso, desde minha aventura no Illusion, vinha tendo sonhos intensos. Algumas vezes acordava com falta de ar, outras vezes pingando a suor, mas dessa vez o elemento a mais foram as minhas unhas ficando sujas de uma coloração verde escuro que provavelmente é algo ou lama do fundo do lago.

Já eram 9:00 horas da manhã, vi no visor do celular, Caliel tinha me ligado 5 vezes, resolvi retornar.

- Poxa cara! Tô te ligando desde cedo, onde você estava?

- Dormindo... eu acho, mas o que foi, porque me ligou tanto assim, aconteceu alguma coisa? A gente não tem aula só a tarde hoje?

- Sim, só que resolvemos começar o trabalho sobre civilizações perdidas hoje mesmo – pausa para alguma reclamação minha que não houve – e estamos aqui na biblioteca da Faculdade... é cara vem logo, depois a gente vai comer alguma coisa na lanchonete aqui perto – falou Katherina meio alto e foi abaixando o volume provavelmente sendo lembrada que estavam em uma biblioteca – Anda logo, porque já começamos separar alguns volumes.

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