A porta dos fundos do Illusion's abria para uma rua estreita, na verdade deveria ser umas dessas vias de serviço, mas a essa hora da noite tudo parecia como um beco escuro e sujo que fedia a lixo e mofo. Caliel estava comigo, mesmo que contrariado e resmungando desde que pisamos fora do estabelecimento, o que me deixaria com dó caso estivesse pensando direito, mas eu estava feliz por não estar sozinho, por estar com ele nisso.
A proximidade das edificações deixavam o beco escuro, iluminado apenas nas extremidades pela luz fraca que vinha de uma rua movimentada – a metáfora da luz do fim do túnel seria literal.
Assim que meus olhos se acostumaram com a escuridão consegui ver o vulto de alguém alguns metros a frente, tinha que ser a garota do bar.
- É ela Caliel! – bati em seu braço para lhe chamar atenção – você está vendo né, lá na frente, vamos! Anda! – e sai correndo.
- Greg! É só um vulto, pode ser qualquer uma... – tentava me dizer enquanto andava rápido meio correndo pra me acompanhar – afinal, uma garota não se ariscaria de andar por becos... sozinha e a noite... nós deveríamos estar fazendo isso... vamos pegar uma rua iluminada...
- Ei! – gritei chamando a pessoa (o vulto) que ora parecia uma silhueta, ora parecia sombra e fumaça, enquanto escutava a voz abafada de Caliel, distante, como se tivesse a quilômetros, um chiado de voz. – Você! Só um minuto, espere!
A confirmação de que se tratava de uma pessoa aconteceu, porque ela respondeu a meu chamado parando de se mover, e se iluminando enquanto virava-se em nossa direção. Realmente era a garota que estava cantando no bar e pude notar a mesma expressão que tinha enquanto nos encarava pouco antes de fugir para esse beco. A expressão de surpresa, desafio e curiosidade, enquanto parecia se divertir.
Eu estava de certa forma hipnotizado nela, não conseguia desviar os olhos da energia que irradiava mesmo à distância. Estava andando rápido, cada vez mais, até ao ponto de estar correndo, correndo sem ao mesmo sair do lugar, cada vez mais longe dela, como se estivesse indo em sentido oposto, correndo de costas
- Gregório! – Caliel gritou perto demais de mim – O que tá acontecendo?! – sua voz me tirou do transe em que estava e me virei pra vê-lo com as mãos no joelho, ofegante – eu estou perdendo o ar...a minha respiração tá ficando difícil...
Minha visão de repente ficou turva e embaçada, como se tivesse preso numa pintura do Van Gogh, e o chão se parecia com gelatina sobre os meus pés. Caí.
- Ahh! – me assustei com um grito forte do garoto do meu lado e me fez reerguer a cabeça ainda girando. – Ahh! Que droga é essa?!
Ele havia tirado as mãos dos joelhos e estava com elas na cabeça agora, a segurando como se fosse uma bola que quisesse furar.
- O que foi? O que tá acontecendo com você? – me aproximei dele tocando seu braço – Ca... – mas caio de lado agarrando minha cabeça também, que está a ponde de explodir, um som ensurdecedor que a faz latejar como se um prego estivesse sendo atravessado de um ouvido a outro, não conseguia ter controle da dor. Eu queria que alguém me matasse ali de uma vez só pra fazer isso parar.
Abri meus olhos novamente pra ver Caliel, mas ele estava imóvel no chão ao meu lado, desacordado.
Senti tanto medo que podia sentir seu peso sobre os meus pulmões enquanto me arrastava pra ficar mais próximo dele, e me colocar em posição fetal, como se fosse possível nos proteger quando não conseguia mais permanecer consciente e vultos começaram a dançar ao nosso redor.
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Almas Presas.
ParanormalAlgumas pessoas nascem pré destinadas a grandes coisas. Essa história fala como Greg, um calouro de história, encontra o amor e o ódio em Nova Orleans. Como seu nome está escrito na magia antiga da cidade e como ele vai sobreviver a rituais macabr...