Tia Aurora estava na mesa de madeira da cozinha com um café de novela posto, tinha comida ali suficiente para alimentar um time inteiro.
- Pra que tudo isso? - perguntei me sentando ao lado de Caliel, que não tinha mais vergonha e já estava à vontade enfiando uns pãezinhos na boca.
- Não reclama, eu adorei tia, posso levar alguns para a faculdade? - Tia Aurora apenas ria dessa grande criança que havia se apoderado da nossa casa.
- Pode sim pequeno Swan, e você pequeno d'Lemond, quer que eu arrume uma lancheira pra você também? - debocha da minha cara por detrás da sua caneca "não sou uma boa babá".
- Aaaaa o bebê Gregório quer uma lancheirinha? - Caliel cutucava minhas bochechas, ele estava incontrolável ultimamente. Mas eu sabia que também estava triste, como no momento que seu celular tocou, e sua expressão ficou séria de repente.
- Não vai atender? - perguntei, mas já sabia a resposta.
- É a minha mãe... eu não sei... não posso mais confiar nela né? - mastigou mais um pão de queijo.
- Mas exatamente por ela ser sua mãe, ela deve estar preocupada... acho que deveria ao menos avisar que está aqui e está bem... né tia? - pedi por ajuda a tia Aurora, que só deu de ombros, como se não estivesse completamente certa disso.
- Greg, foi ela quem te deu o bracelete que te levou para as mãos de Florenzra, eu... eu acho que minha mãe não é uma boa pessoa...
Eu não tinha argumentos contra isso. Realmente acreditei que ela estava aceitando nosso relacionamento e fiquei feliz quando me presenteou, mas isso ferrou tudo.
- Tia Aurora, eu ainda quero os lanches - acaricie as bochechas de meu namorado rindo da sua capacidade de jamais perder o apetite.
- Sabe titia, Caliel quer falar uma coisa para a senhora... pedir na verdade, né - o encarei e recebi uma expressão de pavor como resposta.
- Não deve ser permissão pra ficar aqui né, até porque tá mais à vontade que um cachorro...
[engasgo coletivo]
- Chega, saiam daqui, vão pra escola logo, estamos parecendo três senhoras fofoqueiras - praticamente nos enxotou da cozinha, nos empurrando porta à fora com pano de prato como ameaça numa mão e uma caneca na outra. - E Caliel... você tem a minha permissão.
Sorri
- Obrigado senhora... - quase fez uma saudação budista em agradecimento - mas permissão para qual das duas coisas?
- As duas menino bobo, as duas. - Deu um sorrisinho por detrás da caneca.
ººººººººº
- Você ainda vai comer isso? - Kath me olhava curiosa para Caliel, na verdade, ela apenas deu uma olhadela nele, seu desejo era o pedaço de torta que tinha em seu prato.
- Toma, pode comer. - ele entrega a vasilha - acho que se eu falar não você vai pegar a força, sua esfomeada!
- Para com isso, aposto que você trouxe de propósito, só pra esfregar na nossa cara que a tia de Greg está te mimando - alimentou Romeu dando lhe na boca.
Ri por saber que é verdade. Tia aurora vinha nos tratando bem demais, especialmente Caliel, parecia que ele era mais seu sobrinho do que eu.
Após toda a confusão dos últimos dias estávamos tentando não comentar sobre os acontecimentos, mesmo sem nenhum acordo sobre isso, todos pareciam concordar, talvez estivéssemos com medo de que ao tocar no assunto o tornaríamos real, e na verdade era melhor que não fosse, seria melhor se lidássemos como um surto coletivo. Mas assim como não se pode tapar o sol com a peneira, também não éramos capazes de nos esconder para sempre, porque todos sabemos que não vencemos guerra alguma, e esses dias calmos na realidade é o silêncio apavorante entre o relâmpago e o trovão.
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Almas Presas.
ParanormálníAlgumas pessoas nascem pré destinadas a grandes coisas. Essa história fala como Greg, um calouro de história, encontra o amor e o ódio em Nova Orleans. Como seu nome está escrito na magia antiga da cidade e como ele vai sobreviver a rituais macabr...