O primeiro bilhete

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O bilhete caiu assim que abriu a lancheira do seu energético filho. De início Sugawara não sabia muito bem como reagir. Será que era outro "recadinho" dos professores pertinente ao seu filho? Se esse fosse o caso, esperava encontrar tal recado na agenda, como os tantos outros que ali se acumulavam. Será que eles estavam tentando outra tática? Ou a agenda já estava por demais lotada para mais recados?

Shoyo poderia ser uma criança meio difícil de lidar, no ponto de vista do padrão educacional tradicional. Ora, ele era uma criança energética, ficar sentado quietinho fazendo sua lição simplesmente não era possível! Ainda mais quando a lição se tratava de ficar repetindo a mesma coisa várias e várias vezes... E para piorar a situação havia a questão "ômega". Sim, Shoyo era ômega tal como o próprio Suga, logo a sociedade esperava um certo padrão de comportamento. Ômegas deveriam ser comportados, quietos e obedientes. Shoyo não se enquadrava em nenhuma dessas características... De fato, a escola até questionou o resultado do exame ABO o que obrigou a Sugawara a refazer mais de uma vez.

Ao final, ele sabia que muitos dos professores o culpavam pelo comportamento do filho... Sugawara era ômega, solteiro e que sustentava a própria casa, em outras palavras, ele era o representante de tudo que um ômega não deveria fazer como se tornar um adulto: engravidar, não casar, ser independente e trabalhar. Era quase como ele fosse o bicho papão ômega das histórias infantis!

Suga não se arrependia de suas escolhas, talvez sentisse um pouco de preocupação de como suas escolhas poderiam afetar Shoyo, mas até agora eles estavam vivendo muito bem do jeito em que estavam, mesmo com o preconceito e as toneladas de "recadinhos" que recebia.

– Shoyo Sugawara, você saberia me dizer o que seria isso? – Indicou o bilhete para o seu filho que no momento estava pulando no sofá, gastando a energia em meio a pulos e cambalhotas.

– Ah! Isso? É um papel! – Disse ele todos sorridente – Eu sei como papeis são feitos, aprendi hoje na escola! Eu prestei atenção, papa! Aposto que podemos fazer papeis aqui em casa! Aí iriamos vender papeis e ficaríamos ricos!

– Não me diga... – Suga ergueu as sobrancelhas, sabia identificar muito bem quando o seu filho estava tentando mudar de assunto – Mas esse papel em particular tem algo escrito...

– Oh! – Shoyo continuava pulando – Mas para isso que servem os papeis, papa...Para escrever. Outras vezes para fazer aviãozinho ou barquinhos... E desenhos! Eu fiz desenhos muito legais hoje...Depois eu te mostro!

Suga desistiu, seu filhote não iria falar nada sobre o bilhete. Talvez não fosse algo importante, por isso resolveu ler.

Meu filho empurrou o seu, peço perdão. Não irá ocorrer novamente – Daichi.

– Como é? – Franziu o cenho. Leu e releu o bilhete só para ter certeza de que tinha entendido a mensagem ali escrita.

– Shoyo! Alguém te empurrou na escola? – Questionou alarmado.

– Ahh... – O menino parou de pular e resmungou – Foi o Tobio.

– Oh. – Suga sentiu o canto de sua boca ensaiar um sorriso – O Tobio. Pensei que você estava tentando ser amigo dele...

– E eu estou tentando! – Choramingou Shoyo – Mas ele é tão chato, papa! Tipo, sempre fica fazendo uma cara braba.

E para demonstrar o que queria dizer o menino tentou imitar o referido colega de turma: colocou seus cabelos alaranjados para baixo e seus grandes olhos expressivos agora assumiram um mirada fulminante. Aquilo fez Sugawara gargalhar, não era possível que uma criança pudesse ter uma expressão tão azeda assim! Seu filho deveria estar exagerado.

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