O bilhete secreto

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Quando recebeu o telefonema em seu trabalho, Sugawara estranhou. Normalmente a escola evitava contatá-lo desta forma, preferindo usar a tática de recadinhos na agenda. Por isso, Suga atendeu o telefone com receio...Alguma coisa muito séria deve ter ocorrido.

– Venha a escola. – Informou a diretora em um tom ríspido, não era um pedido e sim um comando.

– Oi? E por quê? Ocorreu algo?

– Seu filho e outro menino alfa quebraram uma das vidraças da escola. Obviamente o seu filho deve ter influenciado o alfa, incitando de alguma forma. Afinal, sabemos como é o efeito dos ômegas nos alfas. Por isso temos uma turma só para ômegas, algo que você negou de colocar a sua criança.

– Espera...Espera um pouco. – Suga tentava decifrar as informações lançadas sobre ele como uma metralhadora – Você está acusando o meu filho? Pelo fato dele ser um ômega...Que ele, de alguma forma misteriosa, desperte o pior nos alfas a sua volta? E com esse poder ômega ele fez o alfa quebrar a janela? Mesmo que isso fosse verdade... Para que isso ocorresse era necessário que Shoyo produzisse ferormônios e isso só irá ocorrer na puberdade! Meu filho tem apenas 6 anos de idade!

– Bem, não devemos esquecer o modo como o seu filho está sendo criado. Um ambiente nada saudável para um ômega em desenvolvimento. Sem um pai alfa ou beta para limitar suas más tendências, tendo um pai ômega que... – Ela não continuou, mas Suga era bastante esperto para preencher com palavras o que não fora dito – Bem, isso não importa agora... O que realmente importa é saber quem irá pagar pelo prejuízo resultado das ações de seu filho.

Suga teve muita dificuldade de conter a sua fúria. Queria proferir uma longa lista de palavrões para aquela diretora ordinária, mas tinha que se controlar. Fora muito difícil conseguir matricular Shoyo em uma escola, afinal, algumas dessas instituições de ensino só permitiam a matrícula de um ômega através de uma assinatura do pai alfa ou beta, o pai ômega era um ser praticamente invisível e destituído de responsabilidade paternal. Isso não era algo previsto em lei, mas era um senso comum disseminado na sociedade...Ômegas não podem ser o pilar familiar. Todo ômega precisa de alguém para protegê-lo e ditar a sua vida. O filho de um ômega é de responsabilidade do seu pai beta/alfa, pois o ômega não tem responsabilidade emocional para tomar as decisões pertinentes a criação do filho. E se esse filho é um ômega? Pior ainda. Um ômega como pai solteiro? Era errado e não-natural. As escolas não aceitavam e quando aceitam era seguidas com várias restrições. Suga se recordava que teve que buscar um alfa para assinar a requisição de matrícula de Shoyo, um alfa que seria como um "tutor responsável pela família". Ainda bem que Ryunosuke Tanaka, seu amigo da época de escola, se ofereceu para assumir a tal posição.

Além do problema pertinente a matrícula, havia a questão da localização da escola. Não iria encontrar outra escola que era tanto perto de seu local de trabalho quanto de sua residência. Se já era difícil equilibrar a sua jornada de trabalho com a vida escolar de Shoyo, imaginava o quanto pior seria caso tivesse que escolher uma escola distante...

Por isso, teve engolir seu orgulho e sua raiva. Tinha que aguentar essas humilhações, por seu filho. Esse era o sacrifício que faria para o bem estar de seu adorado filhote.

– Eu já irei aí. – Falou rangendo os dentes e desligando o telefone antes que a diretora soltasse mais veneno.

Soltando um grande suspiro, tentou arrumar forças para enfrentar aquela crise.

"Espera...Shoyo não quebrou aquela vidraça sozinho!" recordou. A outra criança, a que seria alfa...Será que era o Tobio? Se fosse, isso significava que Daichi também seria chamado. O que também significava que aquela seria a primeira vez que encontraria, pessoalmente. Pelo visto, aquela possibilidade foi o tipo de energia que Suga necessitava para incita-lo a ir a escola.

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