fourth

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Alyssa Lee

Sinto a pele do meu rosto esquentar, e eu já sei que é a luz do sol, mas não estou com vontade alguma de me levantar da cama. Estou tão exausta que poderia dormir por dias e ainda assim me sentiria cansada. A noite passada foi horrível, e se eu não estivesse tão cansada por conta do fuso horário, provavelmente nem teria pregado os olhos. Mas assim que tomei uma ducha pra lá de demorada, meu corpo pesou e logo caí na cama.

Me levanto da cama e me arrasto até a janela na intenção de fechar a cortina, mas paro para olhar o lado de fora do prédio. Aqui realmente parece um bairro bom, vários prédios, a avenida está movimentada e as pessoas estão caminhando tranquilas pela calçada. Mesmo que estejamos no meio da semana, essa parte da cidade me parece calma demais. Por um segundo, penso no meu pai enquanto olho para os carros lá fora. Será que ele já se deu conta de que não estou mais lá? Digo, quando discutimos horas antes da minha fuga, ele disse que estaria me esperando para procurarmos alguma faculdade por Los Angeles. Estou torcendo para que ele não venha atrás de mim, não quero brigas, mas ele não me entende. Ninguém nunca me entendeu de verdade, nem mesmo Olivia, mesmo que seja ela a pessoa que faz o papel de mãe na minha vida. Nada nos Estados Unidos estava me atraindo, pelo contrário, eu estava exausta daquele lugar e das pessoas do meu círculo social. Eu precisava respirar ar puro, e essa a fuga maluca foi uma mão na roda.

Balanço a cabeça e saio da janela. Estou morrendo de fome, e se eu correr, ainda consigo pegar o café da manhã do hotel. Me apresso em pegar qualquer roupa na bagunça da minha mala, e vou para o banheiro.

Saio do quarto e vou até o elevador enquanto checo algumas mensagens no meu celular, e por sorte, nada do meu pai. Preciso trocar de número o mais rápido possível, e talvez até de celular. Não quero que meu pai decida rastrear meu telefone ou algo assim. Ele nunca fez nada do tipo, nem mesmo quando eu aprontava, porém não é como se eu estivesse de brincadeira agora. Agora estou em uma situação pra lá de séria, estou literalmente correndo atrás do meu futuro e eu não preciso de distrações agora.

Quando chego no restaurante do hotel, vejo que está quase vazio, a não ser por dois caras sentados em uma mesa ao lado das largas vidraças do lugar, que dão visão ao lado de fora, bem na calçada e avenida. A mulher atrás de um balcão me olha feio, e eu apenas ignoro. Acho que ela estava pronta para encerrar o café.

Me sento em uma mesa perto da janela, e continuo olhando o celular. Preciso montar uma lista sobre o que fazer hoje e nos próximos dias, tenho que me estabelecer de algum modo. Durante o tempo em que eu ainda morava com o meu pai, eu conseguia fazer umas economias aqui e ali com a mesada, mas não foi muita coisa. Preciso fazer muitas coisas, mas minha prioridade no momento é dar o fora desse hotel, não posso ficar pagando a diária por muito tempo, ou não vou ter dinheiro nem para comprar um sorvete.

A mesma mulher que estava atrás do balcão se aproxima, e se oferece para tirar a minha mesa, já que acabei minha refeição. Isso foi um claro gesto que está na hora de eu sair daqui. Agradeço à moça quando me levanto, e vou em direção ao elevador. Preciso dar uma volta pelo bairro e ver se acho algo que me ajude ou me dê uma luz. Honestamente, estou um pouco perdida sobre o que fazer agora. Até então, eu só tinha em mente sair dos Estados Unidos, e agora que saí, estou quase sem rumo. Mas com sorte, tudo isso vai se ajeitar rapidamente. Eu espero.

Guardo o celular no bolso assim que entro no elevador, e aperto o botão do meu andar. Quando as portas estão prestes a fechar, uma mão impede. O mesmo cara assustador de ontem a noite entra, e dessa vez sozinho. Sua cara amarrada ainda me assusta, e eu trato de colar as costas no fundo do elevador. De todas as pessoas que poderiam entrar nesse maldito cubículo metálico, esse cara é de longe o pior. Algo nele me deixa com uma sensação esquisita, talvez seja a energia negativa que ele exala, talvez seja as roupas pretas ou até mesmo o cabelo preso em um pequeno rabo de cavalo, como ontem à noite. Tudo nele me deixa com um pé atrás.

If You Do »» JB visionOnde histórias criam vida. Descubra agora