Nascer do Sol.

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Quarta-feira, 3 de Março.

Já experimentou assistir o nascer do sol dentro de um ônibus? É uma das coisas preferidas de Lya Alves.

Quando ela está desanimada, ela sai mais cedo de sua casa, entra em um ônibus vazio, coloca seus fones de ouvido e dá play em sua playlist enquanto assiste a grande cidade de São Paulo despertar. Isso lhe causa uma sensação única, a faz sentir em um mundo só seu, era muito bom ver as luzes dos prédios acenderem uma a uma conforme o sol nos dá o ar de sua graça.

Lya fica imaginando quantas pessoas estão acordando para ir trabalhar, estudar ou viajar, e as vezes até conta quantas luzes acendem enquanto cantarola alguma música aleatória.

Hoje, particularmente, ela não se sentia nada bem. Apesar de ter 21 anos, ainda morava com seus pais e as coisas não andavam muito boas em casa. O lugar que é titulado para ser o seu refúgio, seu ponto de paz, ultimamente estava sendo um local com uma atmosfera pesada para ela, mais uma vez ela havia os pego brigando durante a noite e seu pai dormiu fora de casa. Isso começou há alguns meses, porém ela ainda não sabia o motivo, sempre que tenta perguntar eles procuram uma forma de mudar de assunto.

Lya sempre foi uma pessoa observadora, quando pequena enxergava um amor tão lindo entre os seus pais, notava a forma em que eram sempre carinhosos um com o outro, haviam sempre trocas de olhares recíprocas, e era o seu sonho encontrar alguém para ter o mesmo que eles algum dia, eles eram o seu exemplo do que era amor, mas agora observando toda essa situação, já não sabia mais se desejava o mesmo. Essa situação estava lhe afetando.

Aos poucos o ônibus vai enchendo, conforme o sol toma o seu lugar no céu, pessoas entram com suas típicas caras de desânimo e sono, uns assim que se sentam acabam dormindo, outros ficam vidrados no celular e ela ficava o trajeto inteiro curtindo seu bom gosto musical.

Nada fora do comum, parada vem, parada vai, até que entra uma mulher de pele alva, lindos cabelos negros e ondulados amarrados em um rabo de cavalo, a morena usava um jeans claro favorecendo suas curvas e uma jaqueta de couro preta.

Ela paga sua passagem, se senta em um banco que a deixa no campo de visão de Lya e, por fim, começa a mexer em seu celular assim que o tira de seu bolso traseiro esquerdo. Ela esboçava um sorriso verdadeiro, daqueles cativantes que até os olhos sorriem, era a única no ônibus inteiro que estava animada logo pela manhã.

Ela tinha uma aura diferente, e isso chamou a atenção de Lya, sua postura demonstrava confiança e despreocupação, o que era o seu oposto ultimamente.

Lya a encarava indiscretamente e só percebeu o que estava fazendo quando os olhares das mulheres se cruzaram rapidamente, a sua reação instintiva foi desviar o olhar, por saber bem o constrangimento ou o incomodo que é alguém ficar te encarando por tanto tempo, porém, mesmo que o contato visual tenha durado apenas por milésimos de segundos a moça de fones havia conseguido ver as íris em tom castanho escuro da morena, e notar um leve esfumado preto em sua linha d'agua.

Por ser um tanto quanto introvertida, observar as pessoas já havia virado meio que algo automático diariamente para a Alves, já era um hobbie, e era engraçado tentar imaginar o dia-a-dia de cada um, no que trabalha, do que gosta apenas observando seu jeito e traje.

Nesse momento a maior vontade de Lya era saber o que tinha no visor daquele celular que a deixava tão feliz em plena matina, nunca havia visto alguém tão genuinamente feliz em um transporte público, era algo que ela gostaria de sentir também.

Vários questionamentos começaram a surgir em sua mente, ela tentava de todas as formas pensar em todas as possibilidades para a motivação do sorriso da morena.

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