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"Ó vós que entrais, abandonai toda a esperança

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"Ó vós que entrais, abandonai toda a esperança..." - Dante Alighieri, Inferno.

⊰⊱

ABRI meus olhos, mas a claridade fez com que eu os fechasse mais uma vez. O único som que eu podia ouvir era o apito constante de um medidor cardíaco. Quando me acostumei com a claridade, fitei o quarto de hospital em que eu me encontrava, e forçei minha memória ao máximo para lembrar como havia ido parar alí.
- Que bom que acordou!
Virei a cabeça, rápido demais até, na direção da mulher sorridente que entrava no quarto. Ela carregava uma prancheta em suas mãos, um prontuário, e o colocou em frente a cama.- Desculpe pelos sedativos um pouco fortes demais, mas você estava com muita dor.
- O que aconteceu comigo? - Perguntei, sem saber qualquer coisa que pudesse explicar eu estar em um quarto de hospital. Aliás, ao parar para refletir... Eu nem mesmo me sentia capaz de dizer o meu próprio nome.
- Não se lembra? Ah, também pudera. A senhorita chegou aqui de madrugada, levou um tiro na cabeça. Não dizia coisa com coisa, apenas... gritava muito, dizia que estava com dor e...
Ele hesitiu uma segunda vez, chamando minha atenção.
- E?
Incentivei.
- Acho melhor você ver o médico primeiro, tudo bem? Você pode ter tido algum trauma sério.
Ela se retirou apressada, antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, e voltou alguns minutos depois com um homem de meia idade e expressão simpática.

- Boa tarde, eu sou o Doutor Paul Elkis - Falou, sorrindo.- Como se sente?
- Não sei direito - Respondi, me sentia confusa, com uma dor de cabeça que ficava cada vez mais forte e uma constante sensação de que estava atrasada para algo.- Eu levei um tiro?
- Foi de raspão - Respondeu o médico enquanto tirava uma pequena lanterna do bolso e apontava para os meus olhos, um de cada vez.- Lobo temporal, mais especificamente. Consegue me dizer como se chama, aonde está e que dia é hoje?
Eu estava prestes a negar com a cabeça, até olhar pela janela e avistar a Estátua da Liberdade.
- Estou em Nova York. Mas... Acho que não posso responder as outras duas.
O médico fez uma expressão preocupada.
- Como sabe aonde está?
Indiquei com a cabeça a estátua que apareciam claramente pela janela. O Doutor acenou com a cabeça.
- Não se lembra de como chegou aqui? Ou de quem é?
- Não.
- Aparentemente temos aqui uma amnésia retrógrada. Você não se lembra do passado. O tiro afetou sua memória explícita, significa que sua memória de longo prazo está danificada.
- Eu... vou ficar assim para sempre?
Pergunto com medo.
- Não temos como saber agora. Com os exames certos, talvez possamos descobrir. Mas, por hora, creio que seja melhor você descansar. Está sentindo dores?
- Estou.
- Certo - Falou. Ele se afastou e foi até um armário de metal e vidro no canto do quarto onde apanhou uma seringa e um vidrinho. Enquanto retornava ele explicou: - Esse anestésico vai melhor a dor, e você vai dormir tranquilamente.
Ele injetou no meu acesso intravenoso, mandando o medicamento junto com o soro direto em minha corrente sanguínea.
- A enfermeira disse que eu estava gritando....- Comecei já sonolenta, porém lutando contra os efeitos do sedativo.- O que... Exatamente eu gritava?
- Fora que estava com muita dor - Ele falou.- Não parava de repetir algo semelhante com "cerca trova". Acredito que seja isso. Cheguei a imaginar que fosse estrangeira.
O médico sorriu e balançou a cabeça, logo deixou o quarto. Lutei contra o sono esmagador por mais um tempo, os olhos fixos no céu azul da cidade que se estendia através da janela. Imaginei quem seria eu, e como cheguei aqui. Tentei pensar em por que alguém tentaria me matar, e considerando que não lembro-me nada sobre mim... o que de tão terrível eu teria feito?
Foram com esses pensamentos que acabei adormecendo.

✓ 𝗖𝗘𝗥𝗖𝗔 𝗧𝗥𝗢𝗩𝗔 | 𝗦𝗨𝗣𝗘𝗥𝗡𝗔𝗧𝗨𝗥𝗔𝗟Onde histórias criam vida. Descubra agora