|0.6| LACUNAS...

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"Quem és tu que queres julgar, / com vista que só alcança um palmo, / coisas que estão a mil milhas?" - Dante Alighieri

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"Quem és tu que queres julgar, / com vista que só alcança um palmo, / coisas que estão a mil milhas?" - Dante Alighieri.

⊰⊱

DO LADO de fora da capela, enquanto caminhavamos pelas vielas, Sam e Dean estavam estranhos. Eles murmuravam entre si e em tom extremamente baixo. Eu sabia o motivo, com certeza estavam me achando uma maluca que saí por ai falando sozinha.
Eu sentia um vazio dentro de mim que parece estar ficando cada vez maior, um estranho sentimento de estar sozinha no mundo. Será que era esse o sentimento que me assombrava antes que eu perdesse todas as minhas memórias?
Eu sinto como se cada passo que dou, cada coisa que descubro, me leve para mais fundo em um abismo escuro e que no fim... no fim eu não poderei voltar.

- Tudo bem?
Sam perguntou, vindo falar comigo.
- Não tem que falar comigo por pena - Murmurei, abraçando meu corpo com mais força e fitando as pedras da rua.
- Pena?
- Não finja inocência - Pedi.- Eu vi a forma como você e seu irmão estão me olhando desde que saimos da capela. Me olham como se eu fosse doida.
- Isso não é verdade, Luna - Ele negou.- Só estamos preocupados.
Eu parei de andar.
- Preocupados com o que exatamente?
- Com você, é claro! Acha que tudo o que fizemos até agora não tem a ver com você? Atravessamos o mundo com você.
- Eu não pedi que viessem, eu viria de qualquer maneira, vocês vieram por vontade própria!
- Luna...
- Não, Sam - Eu o interrompi.- Eu me sinto uma estranha dentro do meu próprio corpo, uma intrusa em minha minha própria mente, então não venha...
Eu mesma me interrompi e respirei fundo, sentindo minhas mãos tremerem.
- Droga, o que está acontecendo com ela? - Dean veio correndo e ajudou o irmão a me segurar quando cedi nos braços de Sam, o mesmo respondeu perdido.
- Eu não sei.

Inicialmente pensei que estivesse tento o colapso que tanto achei que teria, minha cabeça começou a doer tanto que parecia prestes a explodir. Eu perdi a força nas pernas e cambaleei nos braços de Sam. Meus olhos estavam borrados, mas eu conseguia ver, eram cenas bem nítidas que eu percebi serem lembranças... as minhas lembranças. Uma por uma elas começaram a se revelar, eu não entendia bem a ordem, mas logo elas estavam se rearrumando. A última memória do dia em que sofri o acidente era com Sam.
Aos poucos fui recuperando a firmeza de meus membros. Ainda assim sinto que preciso me sentar então é o que faço. Me sento na rua.
- Por que não me disse?
Perguntei a Sam.
- Disse o que?
- Por que não me disse que nós transamos no dia que eu perdi a memória?
Sam desviou o olhar, seu irmão estava claramente deslocado, ele deu alguns passos para trás, saindo do raio de vista.
- Não surgiu uma oportunidade, Luna, eu não podia chegar no meio de toda essa tempestade que você está passando e jogar isso encima de você.
- Ou... você não queria se comprometer com uma maluca.
Falei sem olhar para ele.
- Isso não é verdade, - Ele falou sério.- Não é nada disso.
- Me conta a verdade, como da sua cama eu fui parar em uma cama de hospital? - Quase rosnei.
- Você acordou no meio da noite. Saiu correndo, eu... eu não sabia o que fazer. Fui atrás, mas não consegui alcançar você. O resto você já sabe. Quero saber como tudo aconteceu tanto quanto você.
Joguei meu corpo para trás e deitei. O que eu temia esse tempo todo aconteceu, eu fiquei mesmo louca, deitada no chão de uma viela de pedra em Florença às oito da noite.

✓ 𝗖𝗘𝗥𝗖𝗔 𝗧𝗥𝗢𝗩𝗔 | 𝗦𝗨𝗣𝗘𝗥𝗡𝗔𝗧𝗨𝗥𝗔𝗟Onde histórias criam vida. Descubra agora