Capítulo 9

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Capítulo IX

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói, e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

Na manhã seguinte eu fui arrastado até o hospital por Jungkook e o que ele pensava tinha se concretizado: eu quebrei o pulso. Depois do que se pareceram horas naquele lugar horrível eu finalmente estava indo para casa, mas infelizmente com uma tala enorme e horrível no braço.

- Não está feio. – disse o alfa rindo do meu mau humor.

- Está sim, está terrível! – rebati enquanto tentava esconder parte daquele monstro com o meu blusão. – Você não acha isso porque vive no hospital e vê esses negócios toda hora. – continuei reclamando. Depois dos últimos acontecimentos eu não tinha mais tanta vergonha e preocupação com o mais novo. Eu ainda o achava um idiota e infelizmente ainda estava apaixonado por ele, mas como eu poderia afastá-lo?

Eu acho que simplesmente deixei de lutar contra a corrente. Não tinha expectativas, mas não ia mais me afastar loucamente como havia feito até então. O choro da noite passada e os braços acolhedores de Jungkook me mostraram que eu estava quase tão errado nessa história quanto ele. Eu não o deixava se aproximar e depois tinha pena de mim mesmo. E pena não resolveria o meu problema, só me faria morrer mais cedo, provavelmente.

- Você realmente é fofo com raiva. – disse ele apertando minhas bochechas. Alguém quer morrer.

- Você anda reparando demais em mim, já deu. – falei me esquivando de seus toques. Tudo bem que eu era apaixonado por ele, mas velhos hábitos eram difíceis de deixar para trás, como meu mau humor, minha aversão a toques e a pessoas fofas demais.

Deus, como eu gosto de alguém que é tudo o que eu odeio? Eu nunca tinha pensado por esse lado, mas Jungkook nunca esteve tão perto antes e só agora eu percebia o quanto o mesmo era irritante.

- E você sempre reparou em mim né hyung? – disse ele ainda sorrindo. Senti minhas bochechas corarem e o mesmo selou uma delas antes de enroscar o braço em meu pescoço.

- Está maluco? – indaguei com a pior expressão que eu tinha enquanto tentava me afastar. – Me solta Jungkook.

- Não mesmo, eu disse que não ia mais te soltar hyung e eu não estava brincando. – seu hálito quente estava perto demais do meu pescoço e eu queria apenas chegar no carro logo para conseguir tirar o mais novo da minha cola.

- Mereço. – reclamei pela última vez antes de correr até a porta do carro.

O caminho foi silencioso, mas pela primeira vez desde que comecei a receber as estranhas caronas do alfa, era um silêncio confortável. Eu tentava prestar atenção no caminho para evitar o mais novo, que vivia me encarando nos semáforos fechados e parecia querer falar algo.

- Hyung... – começou o alfa quando já estávamos perto da minha casa.

- Que. – falei desinteressado, ou pelo menos aparentando isso.

- Acho que descobri porque o seu apelido é bolinho. – disse ele enquanto estacionava o carro na frente do meu prédio. Eu olhei para ele procurando por algum indício de alguma brincadeira, mas havia apenas um sorriso tranqüilo estampado em seu rosto.

- E por que seria? – falei tentando melhorar o meu humor. Eu admitia que estava sendo um chato, mas eu não conseguia evitar. Bolinho?

- Porque você sabe ser docinho como um quando quer. – disse ele antes de me beijar levemente nos lábios. – Depois eu volto com os meninos, tenta não forçar esse braço até eu voltar. – disse ele com uma voz mais séria, mas eu já tinha parado de prestar atenção em suas palavras a algum tempo.

- Ok. – respondi mecanicamente antes de sair do carro e andar como um robô até a entrada. Eu ainda não estava acostumado com beijos dessa forma e eu não entendia muito bem o que estava acontecendo.

E bolinho ainda era cafona demais, credo.

...

Eu dormi por mais ou menos quatro horas até perceber que a campainha estava tocando sem parar. Eu queria muito matar o ser que estava me acordando e nem pensei muito antes de andar pelo meu apartamento apenas de moletom e shorts – bem curtos por sinal.

Abri a porta de forma agressiva, pronto para matar quem estivesse na minha frente, mas mal consegui raciocinar antes de minha casa ser invadida por muitas pessoas.

- Belas pernas. – disse Hoseok entrando primeiro e olhando ao redor com interesse.

- Não olha para as pernas dele seu idiota. – vinha Jungkook reclamando atrás. Eu ainda estava confuso quando notei Taehyung e Yoongi esparramados no meu sofá e Jin já mexendo na minha cozinha enquanto Namjoon ligava a minha TV.

- O que está acontecendo? – perguntei perdido.

- O Jungkook disse que você sabia que estávamos vindo. – disse Namjoon.

- E eu realmente disse, mas acho que ele estava pensando em outra coisa né hyung? – Jungkook falou com a voz cheia de malícia.

- Claro, eu estava pensando nessa tala horrível que vou precisar usar durante um mês. – respondi de imediato tentando não corar. Eu nunca ia admitir que o beijo tinha me deixado fora de órbita e eu mal tinha entendido uma palavra que o maior tinha dito depois.

- Sei. – disse ele rindo da minha cara.

- Idiota.

- Vocês parecem próximos. – disse Yoongi enquanto abraçava Taehyung pelos ombros, o puxando para perto de si.

- Tem certeza que nós que parecemos próximos? – nos defendeu Jungkook enquanto apontava para o estado dos dois meio irmãos, que pareciam se fundir ao sofá de tão perto que estavam.

- Nós sempre fomos assim, vocês não perceberam porque estavam ocupados demais tentando ignorar um ao outro. – continuou o alfa mais velho, me deixando corado e sem graça. Como sempre.

- Trocando de assunto, onde estão suas canetinhas hyung? Quero desenhar no seu braço.

- NEM PENSAR TAEHYUNG!

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