Prefácio

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Olhei para o relógio pela décima vez em três minutos. Olhei para os monitores de hospital que apitavam constantemente em meu ouvido, na esperança de um deles ter mostrado alguma coisa diferente nos últimos três minutos, mas tudo permanecia igual.

Olhei, então, para o teto branco, encostando meu corpo na cadeira, soltando o ar com força e pedindo, mais uma vez, para que ele acordasse. Não podia terminar desse jeito. Quando uma lágrima quente escorreu pela minha bochecha, abaixei a cabeça e encarei o corpo de Charles deitado na cama do hospital, ligado a tantos aparelhos que diziam a mesma coisa: Ele só iria acordar se um milagre acontecesse, e eu que nunca fui religiosa, rezei mais uma vez para que o milagre virasse realidade e ele voltasse para mim.

Meus dedos apertaram com força a mão do homem para quem eu dissera sim, dois meses antes - para falar bem a verdade, desde que eu cheguei, não soltei a mão dele.

- Você precisa voltar para mim. Por favor - supliquei abaixando minha cabeça para que minha testa encostasse o peito de sua mão - Por favor, Charlie, volta para mim. Acorda.

E mais uma vez, as lágrimas desceram pelo meu rosto sem a minha autorização, mas eu também não fiz nenhum esforço para impedi-las. Naquele momento eu só precisava que parasse de doer. Eu só precisava ouvir a voz dele mais uma vez e dizer o quanto eu o amo.

- Ele iria te matar se soubesse que você não sai desse quarto há cinco dias - uma voz familiar ressoou ao meu lado e eu senti a mão de alguém fazendo pressão no meu ombro. Olhei para cima, com o rosto ainda molhado e encontrei Max com o rosto suave, mas o olhos preocupados.

- Eu não posso sair daqui - respondi secando as lágrimas com a minha mão livre - Eu não posso sair do lado dele.

- Chelsea, você precisa comer, dormir e de um banho - ele fez uma careta - Definitivamente você precisa de um banho.

Revirei os olhos para o homem que se tornou um dos meus melhores amigos no último ano. Max Verstappen, com toda a cara de marrento que tem, na verdade é dono de um dos corações mais lindos que eu conheci. Max arqueou uma das sobrancelhas para mim e apertou, outra vez, meu ombro.

- Max, se eu sair daqui e qualquer coisa acontecer - dei ênfase na palavra qualquer, para mostrar meu desespero - Eu nunca vou me perdoar. - Balancei a cabeça e olhei para meu noivo, mais uma vez.

Céus, como eu queria que tudo isso não passasse de um pesadelo.

- Mulher, vai para casa, toma um banho quente, troque de roupa e faça uma refeição decente - Max disse sério

- Mas e se...

- Se qualquer coisa acontecer - ele me interrompeu - E eu digo qualquer coisa mesmo, eu te ligo no mesmo segundo.

- Max - protestei e foi a vez de ele revirar os olhos para mim

- Chelsea, isso é uma ordem - ele me puxou pelo braço e em um movimento rápido se sentou no meu lugar na poltrona - Vai para casa, eu te ligo se algo acontecer.

De pé, ainda do lado da cama, senti meu coração apertar e minha garganta inchar com o pensamento que me consumiu. O peso da realidade me atingiu quando eu sussurrei:

- Por favor, ele não pode partir sem que eu me despeça

Minha voz não passava de uma súplica silenciosa, e meus ombros pareciam pesar mil toneladas enquanto eu olhava o rosto sereno de Charles Leclerc, como se ele estivesse em paz. Max ouviu meu pedido e segurou minha mão com força. Abaixei meus olhos em sua direção e vi que lutava contra a vontade de chorar. Quem dera eu tivesse essa força.

FastWhere stories live. Discover now