capítulo I

32 2 0
                                    

Ele era atraente e sabia disso. Sua reputação de conquistador também já havia se espalhado pela cidade,
uma vez que não costumava resistir a convites explícitos. Entretanto, os olhares que estava recebendo da
mulher desconhecida, sentada a uma mesa do canto, o estavam deixando irritado. Os últimos seis meses
haviam sido difíceis e ele andava bebendo demais e saindo com muitas mulheres... pelo menos era isso o
que ouvia em casa. Não que desse atenção a esses comentários. Não depois de saber que aquelas pessoas a quem considerava como sendo a sua família, na verdade não o eram.
Ele a fitou com atenção, notando os cabelos negros presos num coque, os seios firmes sob a blusa
branca, a cintura fina e as pernas longas e elegantes metidas numa calça jeans justa. Ela estava em
companhia de Hoseok, seu meio-irmão e a noiva dele, Yuna. Embora não soubesse o nome da
desconhecida, supunha que fosse a convidada de Yuna, já que na pequena cidade,
todos ficavam sabendo quando alguém recebia hóspedes. Ele deu mais um gole no uísque, pensando, com certa amargura, no quanto vinha bebendo nestes últimos tempos.
Quando se começa a levar mulheres para a cama e não se consegue lembrar de nada na manhã seguinte,
é hora de repensar a vida. Seo Eun o havia pego num momento de fraqueza e agora o estava
pressionando, querendo oficializar um compromisso sério. Não que ela fosse feia, mas não passava de um
dos muitos casos que o estavam levando direto para o inferno. Pelo menos era isso o que dizia o seu meio- irmão.
Ele olhou para o rosto desaprovador de Hoseok, tão diferente do seu, e lentamente levou o copo aos
lábios com um sorriso zombeteiro. Porém recusou a nova dose oferecida pelo garçom. Não fora a expressão
reprovadora de Hoseok, que o fizera dar um basta, mas a maneira com que a mulher desconhecida o estava
fitando. Havia algo suave e sensível naquela face, como se ela o compreendesse. E quando seus olhares sé encontraram, ele sentiu uma emoção súbita apertar-lhe o peito. Estranho, nunca havia sentido nada assim
antes. Talvez fosse a bebida.
Ele olhou ao redor. O bar estava cheio, embora fosse pequeno o número de mulheres e graças a Deus
não havia sinal de Eun. Nas sextas-feiras costumava dirigir até o bar, atrás de um pouco de diversão,
porém hoje não se sentia disposto. Tivera um aborrecimento no trabalho ao entrar em atrito com um dos
seus homens, depois de ter ouvido certos comentários maliciosos e seu temperamento explosivo o fizera
perder um bom mecânico. Quando estava zangado, costumava tornar-se agressivo. Talvez essa fosse uma
característica herdada do pai, ele pensou com amargura. Do seu pai verdadeiro, não do homem com quem sua mãe estivera casada por mais de vinte anos. Até seis meses atrás seu nome havia sido Jeon Jungkook,
sendo considerado, por todos, como um dos filhos de  Jeon Hank . Mas há seis meses, Hank havia
morrido (dez anos depois da sua mãe), deixando um testamento com a divisão dos bens e também uma
carta, onde confessava haver adotado Jungkook  aos quatro anos de idade.
Jungkook pagou a bebida e caminhou em direção à porta do bar, hesitando quando Hoseok o chamou.
Seu meio-irmão agora o substituía no comando da fazenda Triple N, cargo que ocupara até a morte daquele a quem considerava o seu pai verdadeiro. E este havia sido um golpe duro no seu orgulho, uma vez que passara de filho a intruso, cabendo a Hoseok a posição de herdeiro legítimo. era difícil acostumar-se a uma nova ordem das coisas.
Jungkook caminhou em direção à mesa do irmão, as feições rígidas, os olhos escuros faiscando sob os cílios
negros.
- Você ainda não conhece Jungkook, não é mesmo Valerie? - Yuna perguntou com um sorriso.
Yuna era pequenina, morena e de olhos escuros. Seu tipo físico se assemelhava ao do noivo, já que Hoseok tinha a mesma cor de cabelos e olhos. Hana, a meia-irmã de Jungkook, também possuía essas mesmas características.
- Não, ainda não nos conhecemos - Valerie respondeu com delicadeza, fitando-o com intensidade.
Jungkook nunca havia visto olhos como aqueles: castanhos, enormes e cheios de ternura.
- Como vai, sr. Jeon? - ela perguntou com um sorriso capaz de iluminar um dia sem sol.
Ele ficou tenso por um instante. Valerie o havia chamado de sr. Jeon, porém ele não era um Jeon.
Mas que diabo, este era o único nome com que fora chamado em toda a sua vida!
- Senhorita...
- Park.
- Você já está indo para a fazenda, Jungkook? - Hoseok perguntou, um pouco hesitante.
- Sim.
- Vejo você lá, então.
Jungkook olhou para Valerie outra vez. Ela não era exatamente bonita, mas tinha algo de muito especial.
Sem dúvida os olhos e a boca eram os pontos fortes do rosto delicado. Ele continuou a fitá-la até percebê-la
corar. Que reação estranha para uma mulher que devia ter uns vinte e poucos anos. - Jungkook, você pretende
comparecer à festa amanhã à noite? - Yuna perguntou.
- Talvez - Ele respondeu ainda fitando Valerie e perguntando numa voz profunda: - Você é hóspede de
Yuna?
- Sim, mas apenas por umas duas semanas.
Deus! Como este homem era capaz de deixá-la nervosa! Nunca havia sentido uma atração tão imediata
por alguém.
E tampouco Jungkook. Ele estava tendo dificuldades para desviar o olhar daquela figura esguia e se afastar.
Tinha a impressão de estar acordando do torpor que o dominara nos últimos dias, só não entendia bem
porquê.
-Tenho que ir para casa agora - ele falou afinal, forçando as palavras.
Park Valerie o fitou até vê-lo desaparecer. Nunca havia conhecido alguém tão fascinante quanto
aquele homem. Ele se parecia com os cowboys de cinema: alto, forte, ombros largos e pernas musculosas. E ela, que sempre se mantivera afastada dos homens, sentia-se tão afetada pelo rápido encontro que estava
trêmula e ruborizada.
- Eu não pensei que Jungkook fosse parar de beber tão cedo - Hoseok falou com um sorriso triste. - Ele tem
me evitado e a Hana também. Exceto para começar discussões.
- A situação não está mais fácil na sua casa, não é mesmo - Yuna perguntou com simpatia, acariciando
a mão do noivo.
- Jungkook não quer falar sobre o assunto e se comporta como se nada tivesse acontecido. Hana está se
sentindo no fundo do poço e eu também. Nós o amamos, porém ele se convenceu de que não faz mais parte da família.
Valerie prestava atenção sem compreender muito bem sobre o que os outros dois estavam falando.
Interessada, resolveu arriscar uma pergunta:
- Ele é  mais velho ou mais novo?
- Um pouco mais novo.
- Mas ele não é o tipo de homem com quem você deva arriscar o seu coração - Yuna falou com
delicadeza. - Jungkook tem passado maus pedaços. Sente-se ferido e está pronto para magoar qualquer um que chegar muito perto.
- Eu detesto ter que concordar, porém Yuna está com a razão - Hoseok interveio. - Jungkook tem ido de
mal a pior nestes últimos meses. Mulheres, bebidas, brigas. Hoje de manhã ele deu um soco no nosso mecânico e o despediu. - O homem mereceu - Yuna falou. -Você sabe muito bem do que ele chamou o seu irmão.
- Ele não teria chamado Jungkook de nada disso, se o meu irmão não tivesse parado de se comportar como o patrão e começado a agir como um dos empregados. Ele odeia a rotina. Jungkook cuidava dos negócios e era bom em organização e administração. E eu não sou. Eu me saía muito
melhor quando cuidava da compra e venda. O testamento do meu pai inverteu nossas funções e
agora ambos nos sentimos infelizes. Não consigo liderar os homens e Jungkook recusa-se a voltar a fazê-lo. A fazenda está à beira da ruína porque ele não se concentra no trabalho e deu para beber nos fins de semana. A moral dos homens anda baixo e eles parecem procurar desculpas para pedirem as contas ou serem demitidos.
- Mas...ele bebeu apenas uma dose no bar - Valerie comentou.
- É verdade - Hoseok respondeu. - Ele ficou olhando para você e então deixou o copo de lado, eu vi
muito bem. Essa foi a primeira vez, nos últimos tempos, em que o vi parar depois do primeiro drinque.
- De fato, Jungkook raramente bebia - disse Yuna. - E quando o fazia, não passava da primeira dose.
- Ele anda amargurado demais. Deus! Eu o entendo e sinto pelo que tem passado. Posso imaginar como
eu estaria reagindo se estivesse no seu lugar. Jungkook tem se sentido muito só.
- A maioria das pessoas sente-se assim - Valerie falou com suavidade. - E quando elas estão feridas
tendem a fazer coisas desagradáveis.
- Você seria capaz de encontrar desculpas até para um criminoso, não é mesmo? - Yuna comentou
com um sorriso afetuoso. - Suponho que este seja o motivo de você ser tão competente no que faz.
- No que eu fazia - Valerie corrigiu a amiga. - Eu não sei se um dia serei capaz de voltar a fazê-lo.
- Você precisa de tempo, Val.
- Isso é algo que eu tenho em comum com o seu futuro cunhado, Yuna. Espero que você tenha razão.

Perigosa atração ;* jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora