Capítulo III

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Valerie não se sentia muito confortável para conversar com Yuna a respeito de Jungkook, entretanto a curiosidade era invencível. Ele mesmo a havia avisado, dizendo que não valia grande coisa, mas sentia-se atraída do mesmo modo. Ela sempre, até então, havia levado uma vida irrepreensível, nunca dera um mau passo. Talvez fosse por isso que um homem tão sensual e agressivo a fascinasse tanto. -Você não pode envolver-se com ele - Yuna falou, quando, no dia seguinte, Val começou a fazer-lhe perguntar. - Ele não me parece um homem sem valor  - Eu não disse que ele era. De fato, seria difícil encontrar alguém mais leal, com um caráter mais reto. Mas desde que descobriu a verdade sobre o pai, ele pareceu perder a cabeça. Você ouviu o que Hana falou ontem, na festa, e ela não estava brincando. jungkook não faz segredos sobre a única coisa que deseja de uma mulher e nos últimos meses tem bebido e farreado além da conta. Todos  sabem disso e, se você fosse vista com ele, sua reputação estaria arruinada. Eis aí porque eu não gostaria de vê-los juntos. Eu nunca me interporia à sua felicidade, Val, porém Jungkook poderia lhe custar a sua respeitabilidade. E isso é algo que você não pode perder, especialmente por causa da sua profissão. - Sim, eu sei. Você disse que Jungkook não sabia nada sobre o seu pai verdadeiro. - Não. Ele tinha apenas quatro anos quando a mãe se divorciou e casou-se com Jeon Hank. Até seis meses atrás, quando o padrasto morreu, ele não sabia que era adotado. - Pobre homem! Deve ter sido horrível descobrir a verdade assim. - Tem sido muito difícil para todos. Hoseok e Hana sentem por Jungkook o mesmo amor de antes, mas ele vê as coisas de uma maneira diferente e além do mais idolatrava Hank. -Então é de se esperar que esteja tão amargo. - Não é bem assim - Yuna falou secamente. -Esse seu coração sensível ainda vai metê-la em problemas. Eu não creio que Jungkook ainda possa se emocionar com alguma coisa e será capaz de magoá-la se você tentar se aproximar.  - Sim, eu sei. Senti isso também - Val murmurou com um sorriso triste. - E eu não sou o tipo de mulher capaz de atrair um homem tão bonito, tão seguro de si quanto ele. Eu sou apenas... eu.  - Mas você não era você mesma na festa de ontem. Estava representando o papel de uma mulher sofisticada, experiente. Jungkook não tem idéia de quem você realmente é, e este tipo de segredo é perigoso de guardar. -Todo segredo é perigoso de ser guardado. -Amém. Então confie em mim e mantenha distância. Porém não subestime os seus atrativos, minha amiga. Você fica linda quando se veste com apuro e esse seu coração carinhoso atrai qualquer pessoa, mesmo homens como Jungkook. - Mas nunca aconteceu algo assim antes. Bem, nunca atraí o tipo certo de homens. - Qualquer dia desses o homem ideal aparecerá. Você o merece mais do que ninguém. - Obrigada. E o sentimento é recíproco. Eu gosto muito do seu Hoseok. -Eu também - Yuna respondeu sorrindo. - Depois do casamento vocês pretendem morar com Hana e Jungkook? 
- Não. Há uma outra casa na fazenda, onde o avô de Hoseok morava. Está sendo totalmente reformada e é para lá que iremos. Se você quiser, posso levá-la até o local, para dar uma olhada. - Eu gostaria muito. - Você está muito melhor agora do que quando chegou aqui. A dor diminuiu um pouco? - Sim, graças a você e a sua mãe. - É isso o que nós queremos. Logo papai estará de volta e poderemos passear pelos arredores. Você sabe que eu não sou uma grande conhecedora da área e mamãe não gosta de dirigir durante horas seguidas. Há muitos passeios legais que poderemos fazer. - É verdade!
As duas continuaram conversando sobre alguns possíveis passeios e o nome de Jungkook não foi mencionado outra vez, embora não saísse dos pensamentos de Valerie. Nos dias que se seguiram eles se viram ocasionalmente e sempre por obra do acaso, que parecia querer aproximá-los. Quando Yuna e ela visitavam Hoseok na fazenda, jungkook costumava aparecer e parar por alguns instantes, interessado na conversa. Valerie não prestava atenção em quase nada, mas tudo o que a interessava era ter a oportunidade de estar perto de jungkook. Ele notava a maneira com que ela o fitava e sentia-se perturbado. As mulheres sempre o haviam perseguido, mas havia algo diferente em Valerie. Que ela se sentia atraída não havia a menor dúvida, entretanto parecia tímida demais para flertar abertamente, o que servia apenas para aumentar o seu interesse. Jungkook passou a procurar oportunidades de vê-la, embora dissesse a si mesmo que não pretendia envolver-se. Valerie despertava algo dentro dele que jamais imaginara existir. Às vezes sentia-se estranhamente irritado pelos sentimentos que vinha experimentando, porém tinha a impressão de que havia sido pego por uma avalanche que não conseguia fazer parar.  Alguns dias depois da festa, Jungkook notou o carro de Yuna passar pela fazenda em direção. Ao perceber Val na direção, e sozinha, ele arrumou uma desculpa para ir à cidade, dizendo a si mesmo que precisava comprar cordas novas, embora soubesse que o estoque da fazenda estivesse muito bem fornido. 
Assim que Valerie e ele se encontraram, como que ao acaso. Ela estava comprando algumas linhas de crochê para a sra. Lee, enquanto Yuna se ocupava em resolver detalhes do seu vestido de noiva numa outra loja. 
Jungkook se aproximou com as cordas novas nas mãos. O mau humor que o consumia tinha um nome: Valerie. Todos os motivos pelos quais não devia se envolver com aquela garota saltavam-lhe aos olhos, pois ela era sinônimo de complicação, a última coisa que precisava na vida neste exato momento. A senhorita Alta-Sociedade não era o tipo de mulher que se adaptasse à vida numa fazenda. As muitas mulheres com as quais costumava sair já não lhe atraíam mais e a idéia de uma esposa e filhos vinha-lhe à mente com maior freqüência. Talvez filhos estivessem fora de cogitação, considerando o caráter do seu pai verdadeiro.
Além do mais, a sua reputação de mulherengo acabaria por dificultar a possibilidade de encontrar uma mulher decente que quisesse se casar com ele. É claro que não era assim tão fácil colocar freios no próprio interesse e ao ver Valerie diante de si, ele não conseguiu evitar a reação imediata do corpo. 
- Olá, Jungkook! Está pretendendo sair à procura de alguma ovelha desgarrada? - ela perguntou com um sorriso, apontando para acorda. 
- Vim apenas comprar uma corda nova - ele respondeu irritado consigo mesmo por ter dito uma mentira tão óbvia. 
- Oh! Você sabe preparar um laço? 
- Esta é uma corda de náilon e tem outras utilidades - Jungkook falou secamente. - Você está sozinha? 
- Não. Yuna veio comigo e está resolvendo detalhes sobre o vestido de noiva. 
- O casamento deles será o acontecimento do ano. 
Jungkook não conseguiu disfarçar o sarcasmo da voz. Hoseok era um Jeon legítimo e havia herdado a parte do leão nos negócios, embora ele não pudesse se queixar de seu quinhão na herança. Entretanto, era difícil abrir mão da sua condição de filho legítimo de uma hora para outra.
- Você está magoado, não está? 
A pergunta, feita com suavidade, o pegou de surpresa. Havia compaixão e compreensão naqueles olhos castanhos e ele não sabia se gostava ou não do que via. 
- Você não tem que ir para algum lugar agora, Valerie?  - Pelo seu tom de voz, suponho que você esteja querendo se ver livre de mim. Então é isto, estou sendo rejeitada - ela falou com um suspiro teatral, tentando esconder a timidez atrás do humor. - Pode me deixar de lado, eu sei lidar com a situação.
- Sabe mesmo? - Jungkook murmurou, levando um cigarro aos lábios. 
- Provavelmente não. Yuna me avisou para me manter afastada. Ela diz que você é muito mulherengo. 
- É mesmo? Sua amiga está certa. Eu nunca fiz segredo dos meus pendores. Ou você esperava uma resposta diferente? - Fico satisfeita por ter ouvido a verdade. - Presumo, então, que nós dois façamos parte de uma minoria, já que a grande maioria das pessoas gostam de ouvir mentiras...  Valerie sentiu-se culpada por alguns momentos, uma vez que estava tentando se comportar como alguém que de fato não era. Mas só agia assim porque sabia que o seu eu verdadeiro não poderia atrair aquele homem. 
Jungkook percebeu a mudança de expressão no rosto de Val e ficou intrigado, mas antes que pudesse fazer qualquer comentário, reparou que Yuna se aproximava. 
- É melhor que você se vá. A sua guarda-costas está a ponto de vê-la conversando comigo. E não lhe dará sossego durante o resto do dia se nos ver juntos. 
- Você se importaria com isso? - Sim, em atenção a Hoseok. Não quero me indispor com Yuna antes mesmo do casamento - Jungkook riu com sarcasmo antes de continuar: - Há tempo de sobra para isso depois. 
- Você não é esse mau caráter que finge ser. - Não acredite nisso, doçura. É melhor que você vá agora. 
- Está certo. Vejo-o qualquer dia desses. - Claro.  Jungkook caminhou até o jipe sem olhar para trás. Ter ido à procura de Valerie havia sido um grande erro. Ela era a melhor amiga de Yuna e sua futura cunhada estava determinada a impedir um relacionamento casual entre ambos. Era preciso manter a cabeça fria, pois já tinha problemas suficientes na sua vida. Val estava aparentemente tranqüila ao se encontrar com Yuna, que parecia não caber em si de satisfação. 
- Meu vestido vai ficar lindo! - ela falou com entusiasmo. - Você estava conversando com alguém? 
- Nada de importante. Já comprei as linhas para a sua mãe - Valerie respondeu mudando de assunto. 
Yuna aceitou a explicação e ambas voltaram para casa sem tocar no nome de Jungkook.  Entretanto, Val não conseguia esquecê-lo e quando dois dias depois ela e Yuna foram convidadas para um jantar na casa dos Jeon, não pôde deixar de pensar que talvez o destino estivesse trabalhando a seu favor. Na noite do jantar Valerie decidiu usar um vestido cinza claro de gola alta e como complemento apenas um cinto delicado.  Embora não se tratasse de um modelo sexy, seu corpo bem-feito ficava em evidência. Os cabelos presos num coque simples e a maquiagem suave davam o toque final de elegância. Sua aparência era bem menos sofisticada do que a do dia da festa, o que não deixava de ser intrigante. 
- Você está ótima - Yuna comentou. - E esta noite, por favor, não tente parecer o que não é.  - Por quê? Você espera que Jeon Jungkook mantenha distância de mim se me ver como eu realmente sou:  uma mulher antiquada?  - Eu não estou tentando ser chata, Val. só não quero vê-la magoada. Jungkook... tem andado tão diferente. - Como era ele antes? 
- Alguém muito divertido - Yuna respondeu sorrindo. - Sempre teve um olho comprido nas mulheres, porém era mais sutil. Agora está indiferente parece não ter consciência, não se importando em ferir as pessoas. 
- Eu não creio que Jungkook viesse a me magoar. - Não aposte nisso. Você acredita demais nos outros. Há gente que não tem escrúpulos. 
- Não penso assim. Não depois de ter presenciado tantas coisas na minha vida. Muitas vezes a beleza se esconde nos lugares mais terríveis.  Yuna não sabia o que mais dizer à amiga. Provavelmente seus avisos não surtiriam efeito. Só lhe restava torcer para que Jungkook estivesse ausente ou, caso se encontrasse em casa, demonstrasse um interesse genuíno em Valerie.  Estava anoitecendo quando as duas chegaram à casa dos Jeon. 
- Vocês estão adiantadas - Hana falou, parecendo bastante alterada ao abrir a porta para as convidadas. -oh, Deus! Será que uma de vocês sabe alguma coisa a respeito de primeiros socorros? Hoseok deu um pulo até a cidade para comprar vinho e jungkook está com um corte profundo no braço. Eu não sei o que fazer... - Onde está ele? - Valerie perguntou num tom de voz seguro e profissional. - Eu sei o que deve ser feito. 
- Graças a Deus! - Hana murmurou levando-as em direção aos quartos. 
- Acho que vou esperá-las na sala de estar, se vocês não se importarem - Yuna falou. - Eu não sei como poderia ajudar. 
- Então você não ficará sozinha - Hana apressou-se a dizer. - Eu também não posso ver sangue. Ele está no banheiro daquele quarto. E dá para ouvi-lo praguejar. 
Valerie entrou, um pouco hesitante, reparando no ambiente sóbrio ao redor. A decoração era em tons terrosos e poucos móveis dominavam o ambiente: uma escrivaninha, duas poltronas junto à lareira e uma cama de casal enorme. Como a porta do banheiro estivesse entreaberta, ela entrou. Jungkook estava de pé junto à pia, sem camisa, e tendo num dos braços um corte que ia do cotovelo ao pulso. O sangue jorrava sobre o mármore. 
- Vai precisar de pontos - ela falou. 
- Que diabo você quer aqui? - ele retrucou com raiva, com os olhos faiscando. Valerie se aproximou, tentando não fitar o corpo musculoso e viril que a deixava sem fôlego. 
- Hana e sua futura cunhada estão à beira de um ataque de nervos, mas eu não. Deixe-me ver o ferimento, por favor. Logo ela estava limpando o corte com um desinfetante e passando pomada de penicilina. 
- Imagino que você se oporia se eu sugerisse uma ida ao hospital? 
Jungkook a fitou com intensidade, tomado por emoções desencontradas.
Havia planejado não estar em casa quando Yuna e Valerie chegassem para o jantar. Só que não imaginara ferir-se quando, em vez de prestar atenção no que estava fazendo, deixara a mente vagar, os pensamentos centrados em Val...Ela tentava ignorar as batidas aceleradas do próprio coração, lutando para esconder o nervosismo. Jungkook, por sua vez, também tinha o pulso alterado e a respiração rápida. 
- Pelo menos parou de sangrar. Será que você tem curativos prontos? 
- O quê? - ele murmurou sem deixar de fitá-la. 
- Curativos... Não tem importância, eu posso usar este material aqui.  As mãos dela estavam frias sobre a sua pele quente e ele não podia deixar de notar o quanto Val demonstrava segurança no que fazia. - Você já fez isso antes, não é mesmo? - Oh, sim, muitas vezes. Estou acostumada a tratar de pessoas. 
- Obrigado. Estou me sentindo melhor. - Como foi que você se cortou?  - Eu virei para a esquerda quando deveria ter me virado para a direita, doçura. Agora que você já cuidou deste ferimento, será que poderia dar uma olhada neste outro aqui? 
- Qual? Jungkook apontou para um corte pequeno no peito e que ainda sangrava. - Acho que sua camisa está acabada - Val murmurou, tentando esconder o tremor das mãos ao tocar o ferimento. 
Era bom sentir a pele quente daquele homem sob os seus dedos. Ele estava ferido e ela não podia correr o risco de perder o controle, entregando-se às emoções que tanta proximidade despertava. 
- A camisa e a jaqueta também - Jungkook falou em voz baixa, sentindo o corpo responder ao toque de Valerie. - Mas se você pretende pôr algum curativo aqui, é melhor esquecer. - Acho que... que tirar o curativo depois pode ser doloroso...A maneira com que ela falou foi levemente excitante. Jungkook passou a mão no peito, enquanto dizia:
- Então apenas limpe o corte, querida, e não faça mais nada - Está bem, 
Querida.  Nunca, homem algum a havia chamado assim com uma voz tão profunda e sensual. Ela tomou a pomada e a passou sobre a área machucada em movimentos suaves, parando no instante em que sentiu Jungkook ficar tenso.  - Está doendo Val perguntou baixinho, intrigada pelo brilho daqueles olhos. - Não da maneira que você está pensando - ele respondeu secamente. 
Jungkook sentia o corpo rígido de desejo, mas não podia permitir que nada acontecesse. Tinha que dar um paradeiro naquelas emoções e o melhor era que fosse já.   Mas Val tinha a fragância de flores e o toque delicado sobre a sua pele nua parecia embriagá-lo. Sem que se desse conta, pressionou os dedos dela sobre o peito, fitando-a com intensidade. 
Ela parecia mais jovem hoje, vestida com simplicidade. E ele a apreciava ainda mais assim do que metida no vestido sexy da noite da festa. Esteve a ponto de dizer isso, porém conseguiu calar-se a tempo. 
- Já... parou de sangrar - Valerie sussurrou, fitando-o nos olhos. 
- Sim.  Jungkook acariciou a mão dela, fazendo-a deslizar sobre o seu peito, deixando-a perceber o efeito que esta 
carícia suave produzia em seu corpo. 
- Jung... - ela murmurou, sentindo o coração pulsar com violência.  Ouvi-la dizer o seu nome com a voz sumida o fez perder a cabeça. Sem deixar de fitá-la ele se inclinou lentamente, com um único pensamento: beijar os lábios entreabertos que pareciam convidá-lo. Ela nem mesmo tentou fingir uma pequena resistência. 
Valerie queria ser beijada quase que com desespero. Nunca homem algum a havia atraído tanto. Ao menos uma vez, queria sentir o gosto de Jungkook. Ao menos uma vez... Valerie fechou os olhos entregando-se ao momento, seus lábios quase se tocando. E então uma voz feminina quebrou o encanto, rompendo o silêncio carregado de emoção.

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⏰ Última atualização: Mar 28, 2020 ⏰

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