Eles me olhavam interessados, alguns com curiosidade, outros com uma espécie de raiva ou rancor. Eu já estava ali tempo suficiente para saber que não entenderiam nada que eu falasse, então me mantive calado, esperando para ver o que aconteceria a partir dali.
A Chefe deu um passo a frente e começou:
" Aqui está ele… o titã que Miv capturou no exterior. Ele esta aqui a três dias e parece não ter causado mais nenhum transtorno, certo Miv?"
" Sim, senhora. O titã demonstrou um comportamento bastante pacífico e até simpático. Chegamos a …."
" Ora quanta bobagem, sabemos que eles são espertos e sabem quando devem se vestir de pele de cordeiro. Não seja ingênuo, Miv. Sabemos que a verdadeira natureza dele… é sombria e cruel." Reco-reco interrompeu o Tan-tan.
A Chefe esperou ele terminar e o ignorou se dirigindo aos outros:
" O ponto principal é; o que vamos fazer com ele? Pois tem a questão da profecia de Adrêina que diz que aqueles com os pêlos cor do crepúsculo será o sinal que nos forçará a fazer a tal escolha…"
" Mas ele não é um de nós, senhora Zog" falou um gateco bem apessoado, que tinha uma pose de superior. " Adrêina é a nossa deusa… deusa dos gatecos. Os titãs são nossos inimigos, por que ela mandaria um monstro desses para ser seu Oráculo?"
" Prefeito Gus, já cansei de repetir. Seria muito simples mandar um gateco, pois não teria dúvidas. A dúvida é o centro de tudo… a escolha que faremos em relação a Faraher, irá ditar nosso destino. Assim disse Adrêina que é mais sábia que nós."
" Você deu nome a essa fera?" Perguntou outro que usava um pequeno par de óculos, e uma espécie de toga preta. " Algo me diz que você está sendo parcial no seu julgamento, Senhora Zog."
" Tenho meus pressentimentos, que considero ser alertas da deusa. Eu, como sacerdotisa de Adrêina, devo alertar a todos o caminho que me parece mais fiel aos desígnios de quem nos dá luz, comida e ar pra respirar. E não tenho medo de expor o que penso, pois é para o bem de todos aqui. Sinto que Faraher é mesmo o escolhido para ser nosso oráculo... devemos purificá-lo e banhá-lo com a Seiva Sagrada."
"Eu concordo com a Senhora Zog" Tan-tan completou.
" E que voz você tem no concelho? É apenas um patrulheiro. Só porque pegou esse monstro já está se achando um herói? Herói seria se tivesse o matado assim que ele estivesse caído na sua frente" Reco-reco falou enfáticamente.
" Eu nunca faria nada disso... nunca mataria alguém que nunca me fez nenhum mal, Senhor Boring"
Nessa hora Reco-reco pareceu perder as estribeiras.
" Está mesmo me dizendo isso?… eu… que perdi minha família por culpa desses monstros? E ainda ousa dizer que ele nunca lhe fez mal? Quantos gatecos esse ser já não deve ter machucado, ferido e até matado? Seu egoísmo teria que ser enorme pra não levar isso em conta antes de dizer que ele nunca lhe fez mal!"
" Sinto muito pela sua família, Senhor Boring. Sinto de verdade, pois sei como se sente... também perdi minha família por culpa de titãs... mas… seja lá quem foram os desgraçados que fizeram isso... Faraher não tem nada a ver . Ele não merece ser julgado por algo que outros da sua espécie fez. Por enquanto ele vem sendo um amigo esses dias… venho conseguido me comunicar um pouco com ele…"
" Isso é ridículo!! Me admira você dizer uma coisa dessas… vai proteger um monstro que pode ter matado seus pais... teria vergonha de ter um filho como você!"
" Pois saiba que foram eles mesmos que me ensinaram isso… preciso manter meu coração puro, e limpo de rancor… de raiva… pois posso acabar eu mesmo me transformando em um monstro." Ele falou isso olhando pra Reco-reco como se o estivesse chamando de alguma coisa nada boa.
Depois disso Reco-reco ficou calado olhando Tan-tan bem nos olhos como se estivesse desviando sua raiva de mim para ele.
" Precisamos tomar logo uma decisão. O povo espera... vamos á votação. Se empatar, então consultaremos o povo." Todos ali concordaram com as cabeças.
Eu apenas observava tudo, ali perto, preso á enorme rarieira, impotente. Depois de um tempo ali, ficou mais fácil para mim compreender as intenções de cada um, mas é claro que era algo simples e dicotômico, como; Tan-tan e a Chefe? bom. Reco-reco e o Toguinha? Ruim.
Demorou um tempo em que cada um falava algo como se estivessem fazendo uma votação e a Chefe continuou:
" Eu, Prefeito Gus, Mestre Gilly, Provedor Call e o Ministro Marr, votaram para a consagração, e Boring, Juiz Torl, Madama Galma, e o Capitão Milder votaram para a execução... então falta apenas você, Illa… seu voto pode decidir ou empatar e deixar que o povo escolha. "
" hum… tenho certeza que se eu empatar o povo votará para que o executemos.… isso tiraria a responsabilidade de mim…"
Esta havia ficado o tempo todo em silêncio, e falava pela primeira vez, era engraçado como se vestia; simplesmente parecia haver apenas roupas amarelas em seu guarda-roupa, pois ela só usava coisas dessa cor, o que por algum motivo me irritava. Senti medo, pois depois que ela falou isso, Reco-reco sorriu.
" ...Ou talvez... apenas aumentaria ela drásticamente. Confiarei em seus sentidos senhora Zog. Que finalmente o oráculo volte para o nosso povo." Chefe e Tan-tan comemoraram e Reco-reco bufou irritado e saiu batendo o pé e eu sorri aliviado. Pois sabia que alguma coisa boa havia acontecido. Talvez... só talvez... eles fossem me soltar...e me deixar ir…
" Ótimo… fique com ele hoje a noite Miv, amanhã mesmo ele sera consagrado a Adrêina e ficará aqui para sempre como o nosso oráculo. E que tenhamos feito a escolha certa.
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Os Amuletos do Mago Livro 1: O Último Mago
FantasyO jovem Arton tinha um sonho: conhecer o mundo. Nascido em uma cidade totalmente isolada do resto de Höm( o mundo), o Rapaz sempre quis saber o que existia além da grande muralha que cercava a cidade. Porém seus anseios sempre foram barrados pela i...