*[I]NOTA: A partir daqui as falas dos gatecos já estarão todas traduzidas para o leitor. O único que continuará ouvindo aquelas palavras estranhas e ficará sem entender nada, é o próprio Arton.*
Ao ouvirem as palavras da Chefe, todos ficaram momentaneamente paralisados. Aos poucos começaram os burburinhos e cochichos que propositalmente ou não, eram nada discretos:
"Eu sei que não é nada do que esperávamos, mas…"
A Chefe falava quando foi interrompida por Reco-reco:
"Claro que não é o que nós esperamos! O que você está dizendo é um absurdo! Como um titã seria o escolhido para ser o novo oráculo de Adrêina?" Depois de, seja lá quais palavras que foram ditas por Reco-reco, houve um alvoroço lá embaixo. Não podia entender nada do que diziam, e não sabia o que Reco-reco havia dito, mas a multidão de gatecos parecia concordar com ele. Gritavam de volta, falando coisas na mesma intensidade e com a mesma expressão de indignação que ele.
"Mas quem disse que ele é o escolhido para ser o oráculo?" respondeu a Chefe, e novamente, como de praxe, todos fizeram silêncio. Mesmo não entendendo o que ela falava, a forma como ela se portava ao falar transmitia serenidade. Fazia eu querer acreditar que ela estava certa, e que sabia o que dizia."Eu apenas disse que ele pode ser o sinal do nosso fim. Resta apenas saber qual será a escolha que teremos de fazer para sabermos se viveremos ou morreremos.
"E como sabe que ele é o sinal?" Perguntou alguém lá embaixo. Era um gateco gorducho que usava apenas uma pequena calça de pano, e segurava uma miniatura de cutelo sobre o ombro.
A Chefe fez silêncio por alguns segundos, como se pensasse bem nas palavras que teria de dizer:
"É aí que entra a questão tão delicada. Assim que o vi, Adrêina me mandou um trovão como sinal de que ele não era alguém normal. Foi quando percebi o seu pelo." Ela apontou pra minha cabeça. Se aproximou de mim e tocou meu cabelo. "Adrêina profetizou a mim que enviaria o novo oráculo dela, e que ele teria o pêlo da cor do Crepúsculo."
"Eu sabia! Está enlouquecendo? Acha que Adrêyna enviaria um titã pra ser seu oráculo?"Reco-reco de novo.
"Acho que ela o mandaria pra ficarmos confusos. Pra não sabermos o que fazer. Será que ele é nosso oráculo? Eu não sei, mas ele preenche todos os requisitos. Ela nunca disse que ele seria um gateco. Ela disse que enviaria 'alguém' de pelos vermelhos. Aí está a questão: o que fazemos com ele? Essa é a nossa escolha. Matamos ele? O que aconteceria se matassêmos o oráculo enviado pela propria deusa? Aclamá-lo? O que aconteceria se banhassêmos um estranho, um ser incompleto com a seiva sagrada? Entende agora, senhor Boring?"
Todos fizeram silêncio, parecendo preocupados. Eu já estava cansado daquela situação. Estar preso em uma caverna subterrânea, amarrado, e à mercê de estranhos seres que podiam nesse mesmo instante estar planejando a minha morte. Comecei a gritar:
"Me soltem! Me deixem ir! Eu prometo que nunca mais volto aqui, por favor! Socorro! Socorro."
Minha inquietação parece tê-los assustado os despertando, pois assim que um dos guardas que me seguravam tapou minha boca enfiando um pano inteiro nela, eles voltaram a discutir:
"Então, o que pensa em fazer? Viu comos eles grunhem? São selvagens. Matam gatecos!" Exclamou Reco-reco
"Vamos dar um tempo, alguns dias. Ele será nosso prisioneiro enquanto o Conselho discute e decida o que fazemos com ele. O que acha, senhor Boring?"
Reco-reco, estava mais controlado, respirou fundo, olhou em volta e falou:
"Tudo bem, mas se quer saber o que eu acho. É óbvio que o certo é matarmos ele. Ele não merece ser servo de Adrêina, não é digno pra isso." Ele falou isso, enquanto olhava pra mim, e eu pude perceber algo nos olhos dele, algo que eu lembrei ver nos olhos de um comerciante da Zona Oriental quando ajudei os Touros Mascarados a roubar uma de suas flautas feitas a mão por ele mesmo. No dia em que estava tentando impressionar a Lena; era ódio.
Depois disso, todos foram voltando aos poucos aos seus deveres, enquantos os guardas me ergueram novamente, e começaram a descer a colina, em direção a cidade dos gatecos. todos abriam caminho conforme passávamos, mas continuavam me olhando com curiosidade, principalmente as crianças. Um grupo de filhotes de gateco começaram a nos acompanhar, enquanto riam e falavam coisas ininteligíveis. Eu havia me tornado uma atração, o centro das atenções.
"Senhora Zog, acha mesmo que ele é o sinal do nosso fim?" ouvi o Zarolho falando com a Chefe.
"Eu sinceramente espero que não senhor Sib, mas é o meu dever alertar o povo. Mas devo admitir que fico feliz da possibilidade de termos um novo oráculo. Sinto falta de podermos falar diretamente com a deusa."
"As pessoas não parecem estar dispostas a aceitar isso, o fato dele ser um titã." Zarolho parecia preocupado, andava a passos curtos e vez ou outra tropeçava nas próprias pernas. Ele me lembrava muito um vizinho que eu tinha. Um amigo do meu pai, o Senhor Lívio. Ele vivia atrás de meu pai pra vender suas estatuetas de madeira. Geralmente ele era obrigado literalmente a ir atrás do meu pai, tentando acompanhá-lo com seus passinhos curtos, enquanto meu pai ia ao trabalho. Ele morreu a alguns anos. Meu pai ficou com dor na consciência por nunca ter lhe comprado nada, apesar da insistência dele. "Ainda mais com o Boring incitando todos."
"Se elas não aceitarem, então sinto dizer senhor Sib, mas sinto que estaremos condenados. E quanto a Boring, não é surpresa pra ninguém ele não ficar em paz até matar esse humano, depois do que houve com a família dele."
"Então a senhora acha que ele realmente foi escolhido pela deusa? Se a senhora disser que sim, então eu também irei acreditar nisso."
"Algo me diz que sim, ele foi escolhido. Mas só o concelho decidirá isso, e farei o que puder pra que acreditem em mim."
Nesse instante, uma pedra se choca contra meu rosto, me fazendo dar um grito abafado pelo pano em mimha boca.
"Quem foi que fez isso?!" reagiu a Chefe enquanto os filhotes de gateco corriam pra longe enquanto riam, ou eu achava que aquilo era uma risada. Entenda, eu nunca imaginei como seria um gato rindo, então fica aberto a interpretações."Vai ser difícil mantê-lo protegido."
"Eu me ofereço para protegê-lo. Ficarei vigiando ele até que o concelho decida." era Tan-tan falando.
"Mas você não é um patrulheiro do exterior?" Zarolho se dirigiu a ele.
"Sim, mas foi o meu último dia. Eu troquei de serviço com o Tsev."
"Tudo bem, eu confio em você, Miv. Levem ele para o parque Central!"
"Senhora Zog, me desculpe, mas eu acho melhor ele ficar no meu campo. Acho que será mais seguro pra ele." O Zarolho parece ter dado alguma sugestão.
"Muito obrigado, senhor Sib, concordo com o senhor. Vamos até lá."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Amuletos do Mago Livro 1: O Último Mago
FantasyO jovem Arton tinha um sonho: conhecer o mundo. Nascido em uma cidade totalmente isolada do resto de Höm( o mundo), o Rapaz sempre quis saber o que existia além da grande muralha que cercava a cidade. Porém seus anseios sempre foram barrados pela i...