Cuecas

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França, Paris, Sweet Amoris, 2017

Com o fim do ensino médio, muitas coisas aconteceram na minha vida. Comecei e terminei a faculdade de administração para continuar os negócios do meu pai, e ainda fiz um pequeno curso online de relações públicas para aperfeiçoar meu desenvolvimento.

Eu não mantive muitos contatos com os alunos de Sweet Amoris, mas hora ou outra mandava felicitações no aniversário quando o facebook avisava. Eram as únicas mensagens que eu trocava com eles. Não que eu odiasse meu tempo na escola, longe disso, mas eu sinto que não fiz amizades tão duradouras assim.

Fiz alguns amigos na faculdade, e é com eles que eu passo meus dias de folga, afinal, não só de um negócio vivereis um homem. Homem. Mesmo com 25 anos de idade, me sinto um adolescente que mal consegue cuidar de si. Claro que já estava acostumado a morar sozinho e cuidar do meu próprio nariz, mas confesso que sentia falta de brigar com a Ambre ou dos abraços da minha mãe, mesmo que raros.

Hoje o dia na empresa seria cheio, principalmente depois que me tornei o vice-presidente, estando logo abaixo de meu pai. Claro que eu não tinha chegado até o patamar com minhas habilidades – mesmo que fossem excepcionais – até porque eu cheguei à empresa há um ano. Meu pai me colocou à frente de tudo, mesmo eu tendo recusado e com o tempo passei a ignorar os comentários dos funcionários, mostrando meu trabalho bom.

Acho que um dia vão perceber que eu não sou tão ruim assim e que faço jus ao meu cargo.

Ajeitei meu cabelo e peguei as chaves do carro, pronto pra ir trabalhar. Peguei uma barrinha de cereais e a abri, colocando na boca, enquanto enchi minha mão com alguns papéis que eu precisava levar. Abri a porta com um pouco de dificuldade e andei até o elevador, apertando o andar do térreo com o cotovelo.

Saí apressado pro carro, falando um "bom dia" quase não entendível para o porteiro por causa da barrinha e coloquei os papeis no banco detrás. Sentei-me na frente e dirigi para a empresa. Liguei o som que estava com as músicas do meu pen drive e cantei junto com a música, pedindo aos céus que aquilo me fizesse ficar menos estressado.

A empresa estava um caos esses dias desde que meu pai resolveu mudar os garotos propaganda. Ou melhor: o tema. Sabe, trabalho com uma empresa que vende roupas íntimas masculinas, ou seja, cuecas. Uma cueca necessita de conforto e qualidade, o que é muito presente em nossa marca – humildade pra quê? Sou realista – e com a ideia nova genial do meu pai de mudar o conceito de uma semana pra outra, tudo virou de cabeça para baixo.

Faríamos uma campanha direcionada aos homens adultos que possuem uma vida corrida. Mas não! O CEO Francis Bellerose assistiu uma partida amistosa de boxe que eu participei e quis mudar todo o conceito para o conforto das cuecas em esportistas. E lá estava eu, o cansado e estressado Nathaniel Bellerose, correndo contra o tempo para encontrar um modelo novo e famoso, praticante de um esporte e que estivesse na mídia constantemente.

Eu não sou um cara ligado na mídia, nunca fui e planejava não ser, mas como nem tudo é como a gente quer... Respirei fundo e estacionei já na empresa e entrei correndo, dando "bom dia" pra todos que eu via pela frente. Entrei no meu escritório e já fui abrindo a caixa de e-mails, ansioso para saber se algum esportista me respondeu.

Se eu não achasse ninguém, eu que teria que posar. E definitivamente ficar só de cueca para uma revista, outdoors e comerciais não era meu forte.

Bufei e praguejei ao ver minha caixa de e-mails vazia. Comecei a preencher algumas planilhas quando Melody entrou depois de bater na porta. Ah sim, ela era uma das poucas pessoas que eu continuava a manter contato. Ela virou uma garota bonita com o passar dos anos e eu fiquei feliz em vê-la seguir em frente depois que a dispensei. Ela merecia algo melhor que o bobalhão aqui.

The Rose and The DragonWhere stories live. Discover now