1830
Filipe encarava a casa onde cresceu. O amarelo desbotado das paredes onde passou seus melhores e piores momentos. As brincadeiras com seus pais, as brigas que resultavam em broncas e desculpas, a injusta morte de sua mãe, e agora, a de seu pai. Não era só uma casa com algumas paredes, era um lar. Lar dos Lombardi. Ele sabia que poderia ficar lá, continuar morando, mas seria difícil viver sozinho ali, queria apenas as lembranças com a casa cheia, então resolveu se mudar para a muvuca da sociedade londrina.
Londres...ele não saberia se conseguiria se adaptar e viver exposto às mães desesperadas em busca de pretendentes endinheirados para suas filhas, libertinagem, fofocas e críticas.
Estava pensando em como sua vida mudaria, quando um pensamento o atordoou. Ele seria o Duque de Montenaro. Será que conseguiria fazer isso sozinho? Lembrou-se da carta de seu pai, de como sua mãe o ajudou, e pensou em como seria ter uma esposa. Mas não qualquer uma, queria alguém de opinião que dissesse que ele está fazendo algo errado, ou que está sendo burro, não somente concordar com com ele e sorrir. Tirou o pensamento da cabeça, era pedir demais por alguém assim, quase impossível.
Terminou de organizar e guardar seus pertences e foi até o jardim, onde seu cavalo o esperava.
— Pelo visto será só você e eu por um tempo, Eclipse.
O cavalo relinchou, como se entendesse o que o dono dizia, e talvez entendesse mesmo.
Partiram em direção à sua nova casa, decididos a um recomeço digno de um Duque e de um grande cavalo.
O sol já se despedia quando Filipe chegou em sua moradia. Era simples e sofisticada, não gostava de chamar atenção, mas também não passava despercebido. Uma senhora de olhos azuis, com cachos grisalhos presos em um coque, baixinha e roliça o aguardava nas escadas da propriedade, imaginou ser a governanta contratada.
— Senhora Martha? É a senhora? - perguntou enquanto subia os degraus, pulando alguns.
— Isso mesmo, senhor Lombardi. - a senhora se curvou, em uma espécie de reverência.
— Não há a mínima necessidade disso, sou uma pessoa qualquer. - Filipe ficou desconfortável com o tratamento especial.
— O senhor é um Duque. Merece, no mínimo, um respeito. - a indignação da mulher era perceptível.
— Apenas sou Duque por ter nascido na minha família, não foi nenhum mérito. A senhora pode me chamar de Filipe, já que conviveremos diariamente. - tirou a chave dos bolsos, chacoalhando-a em seus dedos enquanto se aproximava da porta.
— Nunca ninguém foi tão gentil assim comigo, senhor Felipe. - Martha estava falando com as costas do Duque, enquanto ele abria a porta.
— Apenas Filipe. - virou a cabeça por cima de seu ombro direito para olhá-la. — Infelizmente, gentileza se tornou raridade, e está mais para obrigação. - e abriu a porta, suspirando, pensativo sobre como as pessoas eram mal educadas umas com as outras, deixando-o inquieto. Balançou a cabeça para dissipar esses pensamentos e abriu um sorriso, voltando à senhora.
— Vamos entrando, essa é sua casa também.
Os olhos azuis da mulher brilharam, e a boca apertada, sorriu.
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Nunca rejeite um Duque (DAMAS NÃO EXEMPLARES 01)
RomansaAnabel Donabella é uma das três donzelas menos cobiçadas da temporada Londrina. Não que sejam feias, longe disso, mas não se parecem nem um pouco com damas exemplares. Falam o que lhe dão na telha, acham irresponsável se casarem por conveniência e q...