Lágrima Azul

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"O meu coração encheu-se de azul que rapidamente se tornou num perfume murcho.

Não obtenho resposta quando chamo pelo teu nome.

Apenas o ouço ecoar.

Tu és a minha tristeza.

Como se fosse sempre assim.

Encho-me de saudades.

É lindo mesmo quando se espalha.

A palavra "amor".

Essa palavra que tanto me faz recordar-te.

- Taeyeon - Blue -


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O verão tinha acabado e Mark voltara para o Canadá. Ele e Katy concordaram em manter uma relação à distância, o que até tinha resultado razoavelmente bem nos primeiros três meses. Contudo, houve um dia em que tudo descambou.

- Katy, nós não podemos continuar juntos. – diz Mark do outro lado da linha de telefone.

- Mas porquê, Mark? Qual é o problema? – Katy chorava. Ela não conseguia conceber a ideia de que o namorado estava a acabar com ela, e nada deste mundo a fazia entender o porquê quando ele lhe explicou.

- O problema não és tu, sou eu. Eu não consigo estar preso a uma pessoa que eu não posso ver todos os dias. Desculpa. – E, dito isto, ele encerra a chamada, deixando a, agora, ex-namorada a chorar no canto do seu quarto.

Pensar nisto ainda magoava muito a jovem de cabelo claro, ainda mais porque passaram apenas duas semanas desde o seu término de namoro e ela vira que Mark postou no seu Instagram uma fotografia com a sua atual namorada.

E foi aí que ela entendeu tudo. Foi quando tirou o anel prateado que Mark lhe dera no inicio da relação. Foi quando o gelo voltara a preencher o seu peito. Foi aí que ela entendeu porque é que ele não queria continuar preso a uma pessoa que não pudesse ter ao seu lado. Ele preferiu libertar-se dela para se prender a outro alguém que ele tivesse mais próximo de si.

Ao encarar essa dura realidade, ela percebeu que todo o amor que foi pintado em tons de amarelo e vermelho, todo o laranja que resultou da linda união entre os dois, estava agora desvanecido em tons esfumados de preto e branco. Onde havia fogo, agora já só há fumo, pois todas as lágrimas, como se fossem chuva torrencial e carregada de mágoa, apagaram o fogo que ela sentia em seu peito.

Fogo esse que foi fruto de um amor que agora não passa de uma memória em tons cinzentos. Tudo se tornara cinza e a sua tela, que antes era reinada por cores quentes, tinha agora vestígios de um guache azul tão líquido que borrava toda a pintura que haviam feito neste verão que passou. Um verão que ela não pode reaver por mais que ela queira voltar atrás no tempo para essa época onde ela era feliz.

Agora ela estava deitada, devastada e deprimida. A chuva lá fora batia com força na janela como se fosse simples gotas excessivas de tinta azul que manchavam a sua obra-prima com uma dor incontrolável e insana.

Usava apenas um pijama cor-de-rosa enquanto via um filme antigo onde a protagonista era abandonada no meio da festa. Ela vestia um belo e melancólico vestido azul lápis-lazúli e tinha cabelo ruivo bem preso num rabo de cavalo. Tal como Katy, ela estava dolorosamente magoada numa sala. Completamente sozinha. Ela segurava um copo e estava junto ao piano.

Isso lembrava-lhe aquele ensaio fotográfico que estava na revista que ela viu momentos antes de conhecer Mark. Onde havia uma modelo ao piano e estava tudo em tons contrastantes de preto e branco.

Subitamente ela lembrou-se do que estava escrito no ensaio e apercebera-se de que ignorou completamente esse conselho desde esse dia.

Nunca deixes a tela branca ser ocupada por tinta negra!

Ela fora uma idiota em deixar que alguém que ela não conhecia enchesse a sua tela de cores sem saber sequer o que ele poderia pintar. Mesmo tendo havido uma fase quente nessa tela, tudo se desmoronou quando o azul escorreu por cima da pintura. Todas as cores se misturaram entre si, deixando um grande borrão preto no meio da pintura que outrora foi bela e delicada.

É o que acontece quando se entrega a paleta para um pintor que mal conhecemos. Ele pode ter tudo a ver connosco. Pode ser coincidência do destino quando somos apenas duas pessoas iguais numa sociedade completamente diferente, mas, se ele é um estranho, não sabemos se podemos confiar nele por completo. Nós nunca o sabemos.

A princípio, ele pode fazer maravilhas na nossa tela, mas nós nunca conhecemos verdadeiramente uma pessoa até a ver errar.

Infelizmente, quando vemos alguém errar, por vezes, é irremediável e acaba por deixar um grande borrão azul de tristeza na nossa vida.

Nem todos aqueles que passam o pincel pela nossa tela têm o cuidado de não a arruinar. É por isso que não devemos entregar a nossa paleta de cores a qualquer um. É nossa e única. Quando alguém a parte, já não há nada a fazer.

E a jovem de pele pálida tinha a sua paleta de cores partida por um pintor inexperiente. 

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