Capítulo 23

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Senti uma cutucada em meu braço e ignorei completamente, me aconchegando mais ao meu cobertor, prestes a voltar ao meu sono, mas um barulho de panela em meu ouvido quase me fez pular da cama. Isso era o que confirmou que era o aniversário da minha tia, ótimo dia para ela, piores dias para mim. Se acharam que ela nunca mais me fizesse de empregada depois disso, estão enganados. Esse dia era dela e ela colocou na cabeça que toda a minha prioridade deveria estar inserida nela, ou seja, me acordando cedo para fazer o café da manhã, me proibindo de sair com qualquer pessoa, como se eu fosse permitido no dia a dia, além de me fazer chef do almoço e janta, se for dia de faxina de suas empregadas pior ainda, porque ela dispensa a empregada e me obriga a fazer. Então, basicamente, estou presa para fazer todos os serviços que ela quer, enquanto suas filhinhas estão relaxando junto com ela, menos à escola, já que ela não pode tirar meus direitos básicos, tive que negociar isso com ela.

-Levante logo da cama que eu quero panqueca de café da manhã. Já pedi ontem para comprar as coberturas, então só falta você fazer.- Como era a última gota de paciência dela, ela me empurrou da cama.-Ops, desculpinha, agora levante já da cama, esqueceu o dia?- Levantei, Indo direto para o banheiro.

-Só panqueca?- Perguntei, como ela sempre me exigia.

- Por hoje sim. Ah, talvez precise dos seus serviços depois da escola, então esteja preparada. E, lembrei, eu gostaria de uma jarra de suco de laranja, ok?

- Mais alguma coisa?

- Não.

- 25 reais.- E coloquei a minha mão em sua direção.

- Muito engraçadinha, doce Esmeralda.- E ela saiu do meu quarto, sem antes dizer:- Seja rápida.

-Será que posso fugir?- Murmurei para mim mesma.

-Nem pense.-Ela disse, colocando sua cabeça de volta do meu quarto.

-Você ainda está aí?

- Só vim buscar uma coisa.

- Buscar o q...?- Abri a porta do banheiro e vi ela saindo com meu celular.- Tia, você sabe das suas regras, não fiz nada de ruim.- Andei atrás dela.

- Calma, já te devolvo.- Ela fez um sinal como se me dispensasse.

- Não! Traz de volta!- Ela não ia fazer isso hoje, não mesmo.

-Quem você pensa que é para falar assim? Você só é a empregada da casa, ouviu? Isso é quem você é, ok? E o que você faz.- Assim que ela me valoriza, okay.

-E enquanto estou com essa função, eu sei que empregadas trabalham muito mais que você.- Murmurei e me arrependi. Ela me puxou pelo braço, com raiva e me levou para cozinha.

- Hoje você não vai para escola.

- Mas...

-Fica quieta que eu estou responsável por você. Entendido?

-Nã.....-Ela me olhou com uma expressão de desdém.- ....Sim.

-Ótimo, agora saiba que você irá cozinhar e limpar tudo depois para a minha festa. Vou te dar a lista e as receitas e deixe tudo pronto para hoje a noite. Agora, pode começar com o café da manhã.

Então fiz o café da manhã, fiz para mim também e esperei para comer depois. Até porque era do meu direito e estava com uma baita de uma fome. Se ela me proibir....

-Como é meu dia, não quero que coma o café da manhã.- Ela pegou a minha panqueca e ia comer, mas desistiu quando percebeu algo na janela, não sabia bem o que havia acontecido. Eu olhei e só vi o lixo na frente da nossa casa.- O máximo que você pode é o suco de laranja. Estou sendo boazinha hoje, não é?

-Claro.- Que não. Só sorri e quis mais do que nunca ir para escola. Com minha tia ali, sabia que não seria possível. Tomei meu suco e belisquei um pedaço da minha panqueca, não queria desperdiçar então comi tudo, jogando o lixo na frente para ela achar que tinha jogado fora, eu estava com uma fome de manhã então comida era necessária, além de aprovar meu suco de laranja delicioso. E comecei, fazendo a lista de salgados e doces, sabia que estaria exausta depois e teria que ir para a festa ainda. Massas sobre massas foram minha manhã, colocando todos os ingredientes no balcão, raspando a panela de doces já que fui eu quem fiz e dando pausas entre as comidas para adicionar o fermento. Algumas ficaram já prontas, fiz as que não tinha problema de fazer antes da hora e fui fazendo os doces, colocando-os em forminhas e em uma bandeja para colocar na geladeira.

Na hora do almoço,  minha tia estava só relaxada, sem preocupação nenhuma e toda a carga de serviço estava em cima de mim. Faltava muito a se fazer e lá estava eu já cansada.

-Toma teu celular, Esmeraldinha.- Ela botou no balcão e peguei inspecionando o que ela fez nele. Fui nas minhas redes sociais e lá estava a foto minha com ela de ontem a noite, com um recado que era para ser meu, dizendo: "Hoje é o dia dela. Minha tia, melhor amiga, minha segunda mãe. Me recebeu de braços abertos para sua casa e hoje posso mostrar o quanto eu admiro essa rainha, guerreira. Sempre está ao meu lado em todas as horas, me inspirando a ser uma pessoa melhor e sendo uma modelo para minha vida. Obrigada por tudo, tia. Te amo. Parabéns pelo seu dia." Chocada, mas não surpresa, bem a cara dela fazer isso para ninguém desconfiar o que acontece nessa casa. Mas como minha tia sempre fala, sou a formiga aqui, elas são superiores, talvez eu só precise ter isso na aceitação como um fato. Essa sou eu. Como meu pensamento me previne de aceitar, continuo no debate.- Fiquei emocionada do seu texto, minha sobrinha. Realmente amei. Como você me emocionou, vamos celebrar meu aniversário em um restaurante. Desligue tudo e continue depois.- Ela é louca e muito confusa.- Vamos só buscar suas primas na escola.- Provocativa também. Mais um dia, mais uma exaustão.

Esmeralda- A Famosa CinderelaOnde histórias criam vida. Descubra agora