Capítulo 2

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As sextas de Tati costumavam ser bem parecidas, ela era a preparadora de canto dos atores em um musical que vinha sendo ensaiado, além de responsável por grande parte da música e das harmonias. Era um grupo grande e todos acabaram se aproximando durante o processo, os ensaios costumavam acabar por volta das nove da noite e era comum que eles fossem beber depois disso.

Ainda no teatro onde aconteciam os ensaios, Tati dava as últimas dicas pra protagonista manter a nota em uma música na qual tinha dificuldade e as duas eram apressadas pelo resto do elenco, que buscava a diversão pós trabalho da semana.

"Mas, terminando a parte de ensaio, hoje você vem com a gente, né Tati?" Perguntou a atriz, enquanto colocava sua mochila nas costas "Já furou semana passada, estamos só observando."

"Vou sim Ju, mas não quero inventar de virar noite de novo pelo amor de deus" respondeu Tati, sendo coberta por risadas ironicas do grupo que as esperava

Enquanto saiam do teatro e caminhavam até o bar mais próximo, seu amigo e companheiro de apartamento Henrique, que fazia parte da construção de identidade visual do musical e a puxou pra conversar:

"Tati, hoje eu vou pra casa mesmo, ainda tenho trabalho pra fazer e espero que a senhorita não tenha esquecido a festa da Clarissa amanhã, preciso do meu soninho de beleza, baby"

Tati riu e mandou um beijinho pro no ar pro amigo "relaxa, vai lá e daqui a pouco eu chego em casa também, não tô querendo demorar. Se cuida."

"Tatianne, escuta aqui" uma voz vinda de trás interrompeu a ultima palavra da menina, se aproximando de Tati, que estremeceu ao ouvir seu nome completo e virou pra garota que já estava no meio do grupo, caminhando, onde ganhava a atenção de todos "eu espero que a senhorita esteja presente na minha festa de aniversário amanhã, se não vamos ser obrigadas a cortar relações. E isso vale pro Henrique também! Sei que hoje você precisa ir embora cedo" ela olhou pro rapaz, que não escondia o sorriso no rosto, "mas amanhã não tem desculpa." Concluiu ela com um risinho perdido.

"Que susto, garota" repreendeu Tati "precisa me chamar assim? Doida, claro que a gente vai, bem, relaxa, boatos até de que o Henrique não vai beber pra dirigir"

Ela apontou pro Henrique, que negava o boato desde ja, enquanto se despedia de todos rapidamente e seguia pra casa.

O grupo chegou ao bar, onde permaneceram por mais sabe-se lá quantas horas e quantos litros de bebida. Tati percebeu que não iria embora cedo já perto das 4 da manhã, quando eles estavam dentro de uma balada fechada e ela ainda não pretendia ir embora.
(...)

No sábado, Tati acordou sentindo dor de cabeça e arrependida da quantidade de álcool bebida no dia anterior, sabendo que até sua voz podia ser prejudicada se continuasse nesse ritmo.

Ela olhou ao redor e notou que não estava em casa, depois de coçar os olhos e ver a mulher deitada sem camisa ao seu lado lembrou de um pouco do que tinha acontecido na noite e principalmente, madrugada, anterior.

Rapidamente ela se levantou, colocou as roupas que usara na sexta a noite e saiu do apartamento. Ainda no elevador ela se lembrou de deixar uma mensagem pra dona da casa e de parte da animação na noite anterior, dizendo que tinha adorado a noite, mas que teve de sair e ficou com pena de acorda-la. O relógio marcava 11 da manhã quando Tati chegou em casa. 

"Oi, coisa liiinda" Tati ouviu assim que abriu a porta do apartamento. Henrique, que assistia algum reality show na televisão, estava sentado no sofá segurando um copo de suco verde "a princesa tava demorando, achei que te veria em casa há umas 12 horas, só não me preocupei porque te conheço. E também porque a Ju mandou uma mensagem dizendo que sua bateria tinha acabado e que você não parecia estar voltando pra casa. A noite deve ter sido boa" ele apontou para a bancada que dividia a sala e a cozinha, que contava com um liquidificador com a quantidade exata para preencher outro copo com o suco.

Tati serviu o suco em um copo de vidro e pegou uma coxinha com catupiry que a esperava em um saco de papel vindo da padaria. Apesar de parecer estranho, esse era o café da manhã clássico de ressaca dos dois amigos, eles diziam que a coxinha levava a gordura desejada no pós bebedeira e o suco os nutrientes dos quais eles precisariam, além de concordar que equilíbrio é tudo. 

"Noite? Você deve querer dizer esses flashes martelando na minha cabeça." disse Tati enquanto sentava ao lado de Henrique, segurando seu café da manhã.
"Pode parar, Tatianne, eu sei bem que álcool não te faz esquecer nada. Mas podemos tentar relembrar juntos, se você quiser." Henrique estava certo, apesar da forte dor de cabeça, Tati, que reforçou a cara feia ao ouvir o amigo a chamando pelo nome completo, conseguia se esforçar para lembrar o que havia acontecido na noite anterior, ela e o Henrique repassaram tudo mesmo assim.

Depois do tempo no bar, eles chegaram à balada um pouco bêbados e muito animados. Tati se lembra de ter beijado algumas meninas aqui e ali e de em algum momento da noite conversar muito com o barman, que apesar de ocupado tentava dar atenção para o que ela dizia, fora a parte de ter conhecido a menina com quem passara a noite e ter ficado calada a maior parte do tempo, sem prestar muita atenção no que a menina dizia, e como já estava perdida do resto do grupo com quem havia ido pra balada ela não se importou em não seguir pra casa naquela noite.

"Mas sério, Tati, eu me preocupo com você." Disse Henrique a tirando de suas lembranças "Você mesma de um tempo atrás nem se reconheceria, você sabe que os excessos podem machucar, inclusive, sua voz. Tem alguma coisa acontecendo? Algo com o qual eu possa ajudar?"

A menina, que não esperava essa conversa, respirou fundo antes de dizer: "Não é nada, parece alguma parte de mim querendo viver algo diferente, sabe? Mas eu acabo tendo só mais do mesmo, mais ressaca e mais garotas desconhecidas. Talvez seja melhor ir com mais calma, você ta certo. Eu preciso me cuidar mais."

"E cuidar mais dos seus atos, né senhorita? Qualquer dia desses essa porta vai estar com a fila dos corações quebrados e é capaz de você nem abrir" relaxando um pouco mais o clima, os dois riram, conversaram mais e assistiram o tal reality por algum tempo.

Depois de tomar um banho, Tati cochilou no sofá mesmo e acordou algumas horas depois, com Henrique saindo arrumado do banheiro e a lembrando da festa da Clarissa, e resmungou como tentativa de resposta. Colocando um travesseiro na cara pra se esconder da luz acessa da sala, ela queria desistir de sair e pensava em qual desculpa daria pra aniversariante.

"Anda, Cinderella, daqui a pouco eu viro abóbora e a gente nem saiu." disse Henrique enquanto andava de um lado pro outro, terminando de arrumar a si e ao pequeno apartamento.

"E se a Cinderella faltasse ao baile hoje?" Perguntou Tati forçando uma cara de sofrimento.

"E o príncipe vai ficar com quem??? Com a irmã malvada? Anda Tati, vai se arrumar, sapatinho de cristal, roupa bonita, vamos, eu sei que você precisa desacelerar um pouco mas a Cla ficaria muito chateada se você faltasse. A gente vai com calma, vai ser legal"

Tentando ignorar a preguiça e o arrependimento, ambos gerados pela noite anterior, ela se arrumou em alguns minutos, pensando que a Clarissa realmente sentiria sua falta e os dois saíram de casa sem muito atraso, carregando presentes embaixo dos braços.

Em outro compasso.Onde histórias criam vida. Descubra agora