Em outro compasso.

Capítulo 4

"Eu não sabia que aqui tinha música ao vivo!" sorriu Cecília ao cumprimentar Clarissa com dois beijinhos.

"Eu achei que seria uma boa ideia ouvir uma musiquinha mais calma" recebeu como resposta da menina que recebia um selinho de Amanda, agora parada ao seu lado.

"Eu particularmente, amo cantora" interrompeu Henrique, que acabara de chegar, enquanto sorria para as três, fazendo Cecília se perguntar se havia perdido algo.

Depois dos cumprimentos, os quatro adentraram o bar e subiram as escadas até o andar de cima, Cecília foi automaticamente atraída pela voz que cantava uma música muito conhecida, originalmente, na voz de Cássia Eller, mas muito bem honrada pela menina que segurava o violão e piscava para o grupo de amigos sem se desconcentrar do que estava fazendo.
Cecília sentiu suas mãos gelarem e sua espinha enrijecer.

"Ah, eu não sabia que esse era o bar onde a Tati trabalhava... Trabalha, né? Trabalha, ela tá aqui agora... eu vou até o bar, querem algo? Amanda me ajuda a trazer as bebidas. AMANDA. Vem, amiga." Disparou a garota, provavelmente quebrando algum recorde de máximo de palavras por minuto.

"Ela é boa mesmo, né? Adoro essa música." Afirmou uma Amanda despreocupada enquanto se encostava no balcão do bar e mexia a cabeça no ritmo da música.

"Ela é ótima, sabe que mais seria ótimo? Alguém me contar que ELA trabalha aqui."

"Calma aí, bravinha, eu também não sabia de nada. A Cla veio com a ideia de irmos a algum lugar com música e o Henrique sugeriu esse bar, pensei que você pudesse dançar um pouco, se animar." Disse Amanda olhando para amiga. "Se eu fosse você, eu tomava uma cervejinha só, ouvia um pouco de MPB e tentava me divertir. Ela tá trabalhando de qualquer jeito, amiga, talvez vocês nem precisem se eu falar. Mas fica tranquila, se você estiver muito desconfortável a gente não precisa ficar. Surge uma emergência e nós duas vamos embora agorinha mesmo, eles vão entender."

Cecília respirou fundo e pensando no que amiga tinha dito, resolveu ficar, mesmo que fosse só um pouco, até porque ela trabalhava no dia seguinte e precisaria estar bem. As meninas pegaram bebidas para os quatro e se encaminharam para mesa onde os dois amigos conversavam animados.

"Aqui entre nós, a Tati é perfeita, né? Queria eu cantar que nem ela ..." Suspirou Clarissa enquanto ouviam uma música da Marisa Monte na voz da garota "Será que vai dar para a gente conversar com ela e tal?"

"Claro" afirmou Henrique "o horário dela acaba em 20 minutos, por isso sugeri essa hora."

Cecília voltou a sentir sua mão gelar e trocou olhares com Amanda, que sorria de forma tímida, quase como um pedido de desculpas silencioso. A dançarina tomou um gole grande de cerveja e tentou organizar seus pensamentos da sua maneira preferida: em listas.

1- Tão logo sua cerveja e acabar e ela iria embora;
2- conversar um pouco com a Tati não faria mal, ela tinha se mostrado bem divertida, inclusive;
3- elas provavelmente não iriam falar nada sobre a noite anterior, isso não precisava ser uma preocupação, apesar de muito presente na mente da garota
e 4-a verdade é que não tinha nenhum problema, podia não ser a maior das listas, mas existiam aquelas outras pessoas ela beijou só por uma noite e nunca mais, provavelmente seria a mesma coisa. Então por que as borboletas no estômago? Ela tomou outro grande gole da cerveja e concluiu em sua cabeça que o nervoso era pela novidade de ser uma mulher. Uma mulher bem atraente. E simpática. Mas só isso.

Os minutos seguintes se passaram como se apostassem corrida e a garota foi retirada de seus pensamentos a força pela cantora, que agradecia a presença de todos e se retirava da frente do bar, sentando na cadeira vazia que a esperava na mesa dos amigos. As duas se cumprimentaram com sorrisos e a conversa do grupo continuou, ficando cada vez mais animada. Para Cecília, Tati parecia cada vez mais bonita e atrativa, com certeza era a pessoa mais interessante do bar.