Capítulo 3

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Cecília e Amanda chegaram à festa juntas e o local já estava cheio. 

“CLARISSAAAAAA” gritou Cecília quando viu a aniversariante, que veio abraçar a menina com a mesma felicidade. 

“Cecíliaaaa, Amandaaa” disse a menina entre abraços “que bom que vocês chegaram!! O Henrique já ta por aí, Amanda, eu levo vocês até ele.”

Henrique, que também era amigo da Amanda, estava conversando com a Tati enquanto a menina se escorava em uma parede. Ela segurava uma garrafa de cerveja e o que, pra Cecília, parecia ser o sorriso mais bonito da festa até o momento. A dançarina afastou esse pensamento e foi oficialmente apresentada a Tati. Os quatro conversaram até Cecília decidir que tava na hora de abrirem a pista de dança, e Amanda, sem muita opção, a seguir até lá. Tati ria, um pouco afastada, das danças feitas pelo trio, até Cecília, já um pouco ofegante, se aproximar da menina roubando um gole de cerveja e, encostando a boca em seu ouvido a convidar, de forma irrecusável, a se juntar com eles. Cecília a pegou pela mão e guiou até o meio da pista, onde se divertiram por mais algumas músicas. Aquela altura da festa a aniversariante já dançava e aproveitava as coreografias inventadas na hora junto do grupo. 

“Cla, onde eu posso pegar mais cerveja?” Tati falou alto, tentando se fazer ser ouvida.

“Ali na copa, Tati, sinta-se em casa... ah, inclusive pra trazer uma pra mim” concluiu a aniversariante com um sorriso.

“Eu te acompanho” disse Cecília tentando ser simpática. As duas saíram da confusão da pista em direção ao isopor enquanto conversavam. 

“Você dança super bem, eu com certeza não consigo fazer nem metade daquilo” riu Tati. 

“É que eu sou dançarina mesmo” contou Cecília com um sorriso tímido “dou aula de jazz e sapateado, mas meus pais falam que danço desde antes de aprender a andar. E você, o que faz da vida?”

“Ah, então parece que a gente tem alguma coisa em comum. Eu também dou aula, mas de piano, e sou preparadora de cantores pra musicais, daí que eu conheço a Cla. Mas na verdade eu sou cantora, tô sempre por aí, casamentos, barzinhos, sabe como é essa coisa de artista."

As duas conversaram tempo o suficiente para 4 garrafas de cerveja serem tomadas e pro pedido da aniversariante ser deixado de lado. Tati sentia como se elas tivessem falado de tudo. Ela contou sobre seus dias, desejos e até alguns dos planos pro futuro. Cecília falou sobre seu novo projeto de dança, sua família e até sobre o fim do seu casamento. 

“Eu entendo, eu tive uma ex que agiu assim por muito tempo e eu precisei do meu tempo pra curar.” Concluiu Tati depois de escutar muito da história da menina.

Ao ouvir sobre a ex namorada da garota, Cecília não ficou exatamente surpresa, mas não pode negar o arrepio na espinha por seu sentimento estranho e platônico poder se tonar algo mais real, ela disfarçou bem.

“Mas por nossas última cervejas e conversas você parece ser uma pessoa incrível. Quer dizer, se você não estiver me enganando” continuou Tati, fechando a cara tentando fazer graça e puxar outro assunto, fazendo com que Cecília não conseguisse segurar uma gargalhada, a levando à encostar as costas em uma parede, tendo Tati a sua frente com os olhos brilhantes e um sorriso simples.

Cecília sentiu suas mãos gelarem e desviou o olhar pro que seria o fundo do ambiente, vendo dois meninos se beijando sentados em um sofá. Mesmo tentando afastar o pensamento, veio logo na cabeça que sua mãe, se estivesse na festa, já diria que esse povo de teatro não tem jeito mesmo.

“Acho melhor a gente ir, eles devem estar procurando pela gente.” Suspirou Cecília entres as frases “E a gente nem levou a cerveja da Clarissa ainda...”

“Acho que ela não precisa mais” respondeu Tati enquanto apontava pro seu lado esquerdo com a cabeça, mas sem tirar o olho da menina, fazendo sinal para onde Clarissa e Amanda se beijavam escoradas a uma parede próxima.

Cecília podia sentir a respiração de Tati em seu rosto, de tão próximas que estavam. Os olhos da menina pareciam imensos e agiam como um imã do qual Cecília achava que não ia conseguir se desgrudar naquele momento, não que ela tivesse tal objetivo. Colocando as duas mãos no rosto da menina sem pressa, Tati teve tempo de se aproximar e a beijar com a maior calma do mundo, como se tudo já tivesse sido coreografado. Cecília se deixou relaxar e aproveitar o momento, não pensando em mais nada, pelo menos por alguns segundos. Depois de mais uns beijos finalizados com um sorrisinho de canto de boca, as duas resolveram voltar a procurar os amigos pra aproveitar o restinho de festa que sobrava, o que fez com que Cecília notasse seu batimento cardíaco acelerado e suas mãos ainda geladas. 

“E posso saber onde estavam as bonitas?? Que sumiram a festa toda” perguntou Henrique enquanto sorria sem, de fato, esperar por alguma resposta. 

“Vou procurar a Amandinha” disse Cecília sem muita atenção, enquanto tirava seu celular do bolso, ao mesmo tempo que Henrique fezia um sinal para Tati apontando para seus lábios, como se tivessem sujos de batom borrado. A menina, já preocupada, passou e repassou a mão sob a boca, e lembrando que nenhuma delas estava de batom fez uma falsa cara feia pro amigo, que ria alto. 

A festa se seguiu com a mesma animação de antes. Henrique, que já tinha encontrado mais conhecidos na pista, continuava dançando e fazendo pedidos especiais pro dj, que atendia a maioria. A Amanda e a aniversariante, apesar de sumir e reaparecer por alguns momentos, pareciam radiantes e se divertindo em todos os momentos; Tati, que parara de beber ao se lembrar da noite anterior, ria com os amigos e cantava todas as músicas, era do tipo que jogava os braços pra cima e sorria com os ritmos, já Cecília tentava voltar a animação de antes mas mantinha na cabeça o beijo com Tati, ela nunca tinha se considerado preconceituosa, mas também não era do tipo que questionava sua sexualidade.

Os pensamentos foram expulsos de sua cabeça quando foi puxada por Amanda, que mantinha um sorriso que mal cabia em seu rosto e perguntava o que havia acontecido enquanto ela estava longe.

O fim da festa chegou mais cedo do que esperavam, ao se despedir de Tati, Cecília não sabia bem qual seria o certo a fazer e lidou bem com um abraço não muito demorado e beijinhos no ar, mirando as bochechas. No carro que seguia para a casa de Amanda, ela ouviu, com um sorriso no rosto, detalhes sobre a Clarissa e a combinação das duas e de Henrique de irem a um bar conhecido no dia seguinte.

"E você, no papel de minha melhor amiga, precisa estar presente." Afirmou Amanda ao notar a súplica de preguiça no rosto da amiga "Ceci, vai, não vem com essa carinha pra cima de mim, vai ser divertido, a gente nem precisa sair tarde, você vai gostar. Ah, já sei!" Se interrompeu a menina, com cara de quem javia tido uma grande e perigosa ideia "Se eu chamar a cantora bonitinha você vai?"

Cecília corou e soltou um sorriso sem graça falando que não precisava, que era melhor irem sem ela mesmo.

"Inclusive, amiga, como se sente tendo beijado a terceira mulher mais linda da festa?" Amanda perguntou enquanto abria a porta de sua casa, já tendo saído do carro e sendo seguida por sua amiga

"O que você quer dizer com TERCEIRA mais bonita, Amanda?"

"Olha, eu não te contei porque você não pode se beijar. A mais bonita da festa é obviamente a Clarissa e eu mesma tive esse privilégio, depois vem a melhor amiga que vos fala e aí a misteriosa do cabelo vermelho lá" Amanda imitava o jeito de Cecília de enumeração enquanto falava "qual é o nome dela mesmo? Thaís?"

"É Tati, amiga. Sei lá, foi bem legal, até, mas acho que é meio novidade pra mim, né?"

"O que? Ficar com gente legal?"

"Amanda!" A amiga bronqueeou segurando uma risada "Não, ficar com uma garota."

"Amiga, nunca mesmo tinha rolado? Nem adolescente? Nem no início da faculdade? Ai Cecília você ainda me surpreende"

Entre risos, e algumas reclamações, as duas se aprontaram para dormir e se deram boa noite. Cecília já estava deitada no sofá-cama da amiga e se sentia cansada, mesmo que sua cabeça continuasse a mil, o que ela conseguiu ignorar afirmando pra si que seria besteira se preocupar com o acontecido de uma noite e com uma menina que não veria nunca mais. Assim, a garota adormeceu, sem se esquecer do cheiro do perfume que ainda pairava em seus dedos.

Em outro compasso.Onde histórias criam vida. Descubra agora