I O velho carvalho

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Tão cedo, o céu ainda está escuro. Pela penumbra a qual a casa se encontra, Frederico, caminha vagarosamente até a cozinha. Tudo o que se pode ouvir é o barulho do contato dos seus pés com o chão de madeira, sucessivamente.

"Traga-me um café" Tudo o que ele consegue pensar e querer nesse momento. Chegando na simples cozinha, ele se encontra com sua esposa Léia, já acordada, preparando um café. Ela o serve, e lhe dá um simples beijo, gentilmente.

Uma adorável rotina, a qual ele vive há um bom tempo, no auge dos seus 65 anos de idade, só consegue querer tranquilidade, uma vida estável e saudável. E desta forma tem vivido, nesses preciosos anos, trabalhando no campo, com muito orgulho. Assim como a maioria dos poucos habitantes que moram pelas redondezas.

Saindo de casa para mais um dia de trabalho, sua mente já acostumada com o caminho, o leva de forma automática para o campo. No caminho, depara-se com lindas flores silvestres, as quais ninguém da tanto valor, ao menos não como dão a rosas ou orquídeas, mas deve-se admitir, sua simplicidade a faz bela.

Quando ele se encontra próximo de seu destino, cruza um grande e velho carvalho. Essa árvore pode viver por centenas de anos, o quanto será que ela já viu passar? Está tudo muito bonito nesta estação, as folhas e flores ficam lindas na primavera.

Seus pensamentos e indagações são cortados de repente. Uma centelha de luz, chamou-lhe a atenção do outro lado do grande tronco de madeira do velho carvalho. Ele se aproxima, um pouco hesitante.

Frederico, deparou-se com algo que o deixou paralisado, perplexo... Sem saber o que fazer ou como reagir, se ajoelha e leva suas mãos para o cesto amontoado de cobertas, que estava envolto de um pequeno bebê, uma linda menina.

Em um solavanco, começou a olhar para todos os lados, desesperadamente. Mas não há nada, nem ninguém. Novamente se aproxima da pequena alcofa de vime, e fica parado por uns segundos, analisando a pequena criança.

Ele a pega e corre. Hoje, definitivamente, não será um dia comum de trabalho.

Ilubriado com sentimentos empáticos pela menina, segue em direção a sua casa, rapidamente, outrora não se imaginária tão ansioso em seu cotidiano pacífico.

Por todo o caminho, só consegue se questionar em quem teria deixado esta pequena criança ali, sozinha. Sabe-se que é praticamente impossível alguém dos arredores, porque todos se conhecem.

Chega em sua casa tropeçando em seus próprios passos, e bradando veemente o nome de sua esposa.

- Léia! - Grita repetitivamente.

- O que foi? Por que está gritando assim... - Ela para de questiona-lo instintivamente ao vê-lo, sentindo um misto de curiosidade e confusão sobre a neném. - Frederico, que criança é essa?

- Eu a achei... - Ele fala contemplando a pequena menina e sorrindo afetuosamente.

Léia permanece inerte, com um olhar que pode facilmente ser decifrado por: preciso de mais respostas!

- Na ida para o serviço, me deparei com ela, no grande carvalho. Não havia ninguém lá, ela estava completamente sozinha, eu não poderia deixá-la.

- Podemos ficar com ela se não soubermos de nada a respeito? - Pergunta de forma esperançosa.

- Você sabe que isso é muito inesperado, certo?

- Eu sei, mas sinto que posso ajudar... - Respira fundo e diz convicto. - É tão nova e foi deixada, como eu Léia.

- Tudo bem, eu não tenho como recusar, ajudaremos por enquanto, porém com certeza alguma informação sobre isso os moradores devem ter. - Diz ela com brandura, pegando a bebê e segurando em seus braços.

- Será que ela tem um nome? - Léia pergunta com um grande sorriso.

- Luna. - Responde sem hesitar.

- Tão convicto... - Diz ela, sorrindo. - Eu não posso negar, novamente, mas não sabemos. - Frederico, ela é tão linda... - Léia fala olhando com ternura para a pequena. - Por que alguém teria feito algo assim?

- Eu também gostaria de saber, isso é muito cruel. - Responde com dúvida e tristeza. - Cuidarei dela, da melhor maneira que eu puder, para que ela jamais sofra.

- Cuidaremos! - Diz Léia, corrigindo a fala dele.

Desta forma terminou o dia, o qual foi um misto de emoções inexplicáveis e agitações inesperadas, e o princípio de um novo tempo. Contudo, esta mudança de certa forma o deixou feliz. Até seu último suspiro, cuidará da pequena Luna, com afeto e brandura. 

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