II A cachoeira

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Passaram-se anos e jamais ninguém ouviu nada a respeito da pequena Luna, quem a deixou lá e o por quê não passa de um grande mistério. 

Frederico, desta vez não acordou tão cedo, tampouco acordou sozinho. Abriu seus olhos lentamente, sentindo algo em cima de seu peito. E viu a pequena Luna, brincando e soltando gargalhadas sonoras.

- Ela não te dá descanso, né? - Diz Léia a frente, dobrando roupas, no canto da cama.

- Não mesmo, a minha pequena já está com seis "aninhos". Parece que foi ontem que eu a achei.

- Ela está cada vez mais linda, os cabelos negros estão cada vez maiores, agora entendo o motivo do nome que a deu.

Frederico, após fazer sua rotina nas manhãs de domingo, saiu com a miúda, para a pequena horta que se encontra no canto inferior da casa. Estando ali, começou a colher o que já havia dado fruto, colocando em uma cesta. Tão distraído em sua tarefa, não percebeu a emoção de Luna, ao ver as crianças brincando em uma árvore, do outro lado da casa.

Quando Frederico terminou suas tarefas, percebeu que Luna, já não estava ao seu lado, e sim com as crianças que moravam por ali.

- Vamos brincar por aí, até mais! - Disse o menino, dando as mãos para a neta do Frederico.

- Tenha cuidado! - Disse em um tom de preocupação.

Frederico entrou em sua casa, sem perceber estava sorrindo, feliz, como um "bobo". Sentou-se no sofá, e logo Léia chegou, e sentou ao lado dele.

- Ela vai gostar de brincar com as outras crianças, é importante. Temos esse benefício em morar em um lugar tão tranquilo.

- Sim, você está certa.

Luna:

Eu caminho junto dos meninos. Eles cantarolavam por entre os arbustos, brincando e pulando para todos os cantos. Eu me sentia como um um pássaro ao lado deles, livre para fazer o que eu quisesse.

- Qual seu nome? Esqueci de perguntar. - Disse o menino olhando para mim.

- Luna. - Digo, tentando olhar para todos ao mesmo tempo.

- Sou Anthony, o mais velho. O que está ao seu lado é Benjamin. E o mais novo é João.

- Tá bem, estou com fome. - Digo, colocando as mãos na barriga.

- Vamos procurar comida. - Diz Anthony alegremente.

Procuramos, e achamos uma mangueira, pegaram muitas frutas, nos jogamos na grama, e começamos a comer. Após isso, voltamos a caminhar, passamos por árvores e plantas muito bonitas, e em um certo momento começo a ouvir um barulho de água, acelero meu passo, e vejo uma linda cachoeira.

Fico maravilhada com tamanha beleza, e logo começo a correr até a cachoeira, tiro o vestido e entrou na água, não é tão fundo onde estou, então consigo ficar a vontade. Os outros, foram e fizeram o mesmo. Fiquei muito empolgada, não parava de me mexer e brincar espirrando água nos outros.

Mas algo acontece, sinto meu coração acelerar e me vejo em um lugar diferente, involuntariamente, as lágrimas caem de meus olhos, até às outras crianças perceberem. Eles vieram até mim e viram que eu estava chorando. Não um choro como quando me machuco, ou um choro de quando quero alguma coisa, era triste.

- Por que está chorando? - Benjamin e Anthony, perguntam preocupados.

- Eu me lembrei de uma coisa... - Digo, mas logo interrompi minha fala. Não entendo o que senti, mas não acho que devo me importar, não deve ser nada de mais.

- Lembrou de que? - Pergunta Anthony, confuso.

- Não é nada, eu não sei... - Digo, secando as lágrimas e saindo da água.

Por hora, o caminho de volta foi silencioso, mas logo nós voltamos a conversar normalmente. Me deixaram em casa alegando: amanhã nós voltamos. Eu escondi algo, mas estava tão feliz que não dei importância para meus pensamentos.

Minha infância foi graciosa e feliz, os dias eram similares a este, mas nunca parecia repetitivo, era como se fossem emoções novas a cada dia. Ao lado dos meus amigos e avós. Não precisei de muito para sentir emoções e viver intensamente, aproveitando cada instante, de fato. Entretanto, essas espécies de "pressentimento" por toda a minha infância me atormentaram, e eu nunca conseguia entender. E isto, se misturou no fato de eu não saber de onde eu vim, quem me trouxe e quem me abandonou.

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