⚜Capítulo 3⚜

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Era ele. O cara do ponto de ônibus. Eu teria reconhecido aquela roupa estranha em qualquer lugar - seu sobretudo e suas botas -, para não falar em sua altura imponente. Só que dessa vez ele estava perto o bastante para eu ver seus olhos. Eles eram negros, mas possuíam um brilho que se parecia uma explosão de constelações em uma galáxia distante. Seu olhar cravou em mim de uma forma tranquila e irritante. Engoli seco, congelado na cadeira.

O mais estranho de tudo é que eu não o tinha notado na sala antes. Ele estava presente esse tempo todo? Como eu não havia percebido? Talvez por estar mais afastado do resto de nós e o canto que ele ocupava ser um pouco mais escuro, considerando que a luz fluorescente sobre sua cadeira estava apagada. Mas era mais do que isso. Era como se ele  consumisse toda a luz em sua volta e exalasse escuridão. O que é completamente ridículo, Jimin. Ele é uma pessoa, não um buraco negro...

- Você precisa de um instrumento de escrita, não é mesmo? - Repetiu ele, estendendo seu braço comprido, musculoso e extremamente pálido, para me oferecer uma caneta prateada. Não era nada parecida com as canetas de plástico que adolescentes comuns estão acostumados a utilizar. De longe dava para perceber que era cara. Quando hesitei, uma expressão irritadiça passou por seu rosto fino e ele balançou a caneta para mim. - Creio que esteja familiarizado com uma caneta, certo? Deveria ser um objeto de fácil reconhecimento.

Não gostei do tom sarcástico que ele havia utilizado nem da forma como ele surgiu do nada duas vezes no mesmo dia. Fiquei olhando estupidamente para ele até que Chona Saja se inclinou pra frente e beliscou meu braço. Com força.

- Ai! Por que você não belisca o seu... - Ia resmungar um palavrão, mas me contive assim que a atenção de algumas pessoas se voltou para mim.

- Só assina o mapa, Jinin, beleza?

- É Jimin! - protestei.

- Tanto faz! Só assina logo!

Esfreguei o que iria virar um hematoma, desejando ter coragem para gritar todos os palavrões do mundo bem alto para que Saja escutasse, tanto por me beliscar quanto por trocar meu nome. Mas a última pessoa que resolveu criar intrigas com essa naja acabou sendo transferida para uma escola católica em outra cidade. Com relutância, aceitei a caneta da pessoa estranha. Quando nossos dedos se tocaram, tive a sensação mais bizarra de todas. Senti calafrios em todo o meu corpo e meu cérebro parou de funcionar por um instante, como se estivesse completamente cansado de raciocinar.

Então ele sorriu, revelando os dentes brancos e perfeitos, apesar de não serem completamente alinhados, mas perfeitos. Eles brilhavam. Acima dele, as lâmpadas fluorescentes piscaram por um breve momento, como um relâmpago.

Isso foi muito esquisito.

Minha mão tremeu um pouco enquanto eu escrevia meu nome no mapa de lugares. O que era uma completa idiotice, considerando que ele era apenas mais um aluno normal, obviamente recém-chegado. Talvez morasse perto da parada de ônibus, estava ali para pegar o ônibus e, de alguma forma, acabou o perdendo. Seu surgimento misterioso - e pertinho de mim - também não devia ser motivo de alarme.

Olhei para Taehyung procurando sua opinião. Estava na cara que ele estava esperando eu fazer contato. Com os olhos arregalados, balançou seu polegar em direção ao rapaz, falando sem som "Ele é muito gato!"

Gato?

- Tá doido? - Susurrei. É, ele era tecnicamente bonito. Mas também era aterrorizante com o lance do sobretudo e das botas, sem falar de sua capacidade de se materializar perto de mim.

- O mapa, anda! - Resmungou Saja atrás de mim.

- Toma, inferno! - Passei o mapa por cima do ombro, e quando Saja puxou o papel da minha mão com brutalidade, ganhei um corte fino e profundo.

Linhagem [jjk+pjm]Where stories live. Discover now