• Capítulo 13 •

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- Precisamos conversar sobre elas. - Digo, mexendo na minha comida. É o dia seguinte, e aparentemente, Jimin ficará como companhia minha até eu sair do hospital. E agora estamos no restaurante do hospital, particular para os pacientes e parentes ou acompanhantes. Não estou com muita fome, mas sim perdida em pensamentos sobre todos os meus sonhos e sobre o que será dos dias que virão.

Olho para o Jimin, ele também tinha um prato de comida na sua frente, e comia com um sorriso calmo no rosto. Ele usava roupas comuns novamente e de certa forma, era muito reconfortante ver ele usando roupas como as minhas. Parecíamos mais parecidos, mais próximos. Mesmo que eu já tenha sido tantas pessoas diferentes que nem sei mais quem eu sou, em algo ainda podemos ser semelhantes, e é bom.

- Com "elas", você quer dizer...você, né? - Jimin responde.

- Bom, tecnicamente, sim. - Fico em silêncio por alguns segundos, tentando continuar e falar sobre tudo o que lembrei. Fazer perguntas, comentários. Mas me sinto desconfortável.

Tem essa sensação estranha de que fui tantas pessoas que não sei mais quem sou. É claro que teoricamente eu sei quem sou, mas depois de viver minhas últimas vidas desde que conheci Jimin todas de uma vez, minha cabeça está uma bagunça. Quase não me reconheço direito.

E acima de tudo, inseguranças tomam todo o espaço.

Jimin está aqui porque se apaixonou por quem eu fui. Fez tudo o que fez porque achou que valia a pena se arriscar e criar um vínculo genético com magia que com certeza é contra as regras. Seja lá quais forem as regras da criação e existência dele. Mas e eu agora? Ele...ainda sente o que sente? Quem ele ama de verdade? Ele me ama? Afinal, nunca há certeza de quem e como serei na próxima vez, na próxima vida. Mas ele continua vindo até mim. Essa é a resposta? Já que ele continua me buscando, então ele gosta de mim? Mas como? Se mal nos conhecemos? Ele continua sendo o mesmo, mas e eu? Que sou apenas a reencarnação da mulher que ele amou? Como ele pode saber que me ama? Será que ele espera que ao menos 1% do que eu fui ainda exista em mim? Será que ele prefere quem eu era?

Eu sei que é muito pra pensar, e eu mesma vou acabar não me suportando se eu continuar com isso nos próximos dias. Essas perguntas constantes e inseguras. Mas é inevitável depois de tudo que eu vi de uma vez. Agora que sei exatamente como eu era antes, sei que não sou nada do que ele amou. E como posso ter certeza de que as coisas vão continuar bem agora? Não posso. Não há certeza. E tenho medo disso.

- Eleanor? - Jimin para de comer e aproxima seu rosto de mim, se debruçando na mesa. Parece preocupado. Também pudera, não é a primeira vez desde ontem que fico distraída assim de repente. Estive viajando demais pra quem ainda está hospitalizada. - Tudo bem? Você fez de novo.

- Na verdade...não muito. - Pigarreio, com um frio na barriga incomodando ao me preparar pra me abrir sobre isso. - Eu sonhei com elas. Todas. Uma atrás da outra. E...acho que foi um pouco demais.

- Eu imagino que sim. Sabia que depois de levar o choque, algo assim aconteceria. Suas memórias voltariam. Esse era meu medo, porque todas essas reencarnações, eu tinha certeza de que isso que matava você. Acho que seu corpo e seu cérebro não aguentavam isso. Por isso não queria falar de maneiro alguma. Sentiria que estaria matando você...de novo. - Ele diz, com culpa clara no olhar.

- Jimin, não. Não diga isso. Você não me matou. Muitas coisas me mataram nas últimas vidas, mas nada foi culpa sua. - Ele não parece convencido, e não consegue me encarar. - Guardas, meu corpo fraco, velhice, um carro...e algum tipo de fraqueza...não sei. Mas não foi culpa sua. Não se culpe por isso.

Tento me aproximar dele e tocá-lo, mas ele parece prestes a chorar e muito desconfortável com o assunto, sem nem olhar pra mim. Como se não conseguisse. E tenho medo do que ele tem de tão forte e complexo na mente que o deixa com essa expressão de medo e em estado de defesa, como se ele se fechasse entre paredes de culpa e nada pudesse quebrá-las. Ele cerra seus punhos, inquieto. Um silêncio estranho paira no ar.

Ponho um pouco de força em cima das minhas pernas. Estão fracas. Com as mãos na mesa, tento me dar mais apoio e tento de novo. Dói um pouco. Acho que ser muito ativa fisicamente antes de um mês em coma de cama não ajudou muito meu corpo. Fiquei fraca. Mas quero fazer isso. Então forço meu peso sobre as pernas, sentindo meus joelhos quase cedendo e dobrando. As pernas tremem.

- ...Eleanor...!? Que que você tá fazendo?! - Jimin finalmente olha pra mim, parecendo assustado. Ele automaticamente direciona suas mãos e braços na minha direção como se escolhesse por onde me segurar. - Não tenta se levantar, você está fraca ainda. Suas pernas não aguentam.

Com muita dificuldade, mantenho meu peso sobre as pernas.

- Então presta a atenção em mim. - Digo, com a voz afetada pelo esforço e a dor.

- Desculpa. Eu não queria... - Quando o ouço tentando pedir desculpas, paro de tentar chamar atenção e me sento na cadeira de rodas novamente. Então ele parece se acalmar um pouco e empurro a cadeira pra perto dele. Paro na sua frente e ele me olha, confuso. - O que foi?

- Eu sei que esse assunto te deixa triste, mas não se isole. Não se feche entre quatro paredes e sete chaves aqui dentro. - Aponto pra sua cabeça. - Eu posso ser nova na sua vida, mas se você escolheu me seguir até a minha casa desde que te tirei da lâmpada, passar pela minha porta e viver comigo, vai seguir as minhas regras. E a minha regra principal é...deixa eu te ajudar... - Sinto vontade de chorar. - Não quero ser egoísta, mas...não se feche. É indecifrável pra mim e me assusta. Eu não quero que...você fique triste sozinho. Se passaram anos e anos. Reencarnações e reencarnações. Já está bom, não é? De sentir medo e tristeza sozinho. Então, por favor...me deixe estar com você.

Algumas das minhas palavras me sinto obrigada a falar olhando para as minhas pernas, porque uma parte minha se sente sem graça de ser tão direta nas palavras, como se eu quisesse até mais dele do que estou pedindo. "Como se". Não quero ser intrusiva, mas quero entendê-lo. Quero que ele me entenda. Quero saber se...nós dois podemos...?

Vejo uma gota molhar o tecido da minha calça. Mas não estou chorando. Ele quem está. Olho pro seu rosto, e vejo o dele prostrado, e seu nariz fungando.

- Jimin...? - O chamo, com medo de ter ido longe demais. - Eu disse algo que... - E sou cortada por um abraço. Um abraço forte. Hesito por conta da surpresa, mas me permito amolecer assim como ele amolece. Tomo sua exibição de fragilidade como gesto de confiança, e fico feliz, porque minhas palavras serviram de algo.

Talvez eu realmente esteja me apaixonado por ele novamente.

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