Capítulo 4 - Lucas e Alice

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Capítulo 4

Lucas

Chegamos à fazenda uma hora e meia depois. Por sorte o trânsito e o tempo ajudaram bastante, está um dia agradável. Ou talvez seja eu que esteja vendo tudo lindo hoje.

Apesar do começo da minha manhã.

A fazenda continua linda como sempre foi. Paulo cuida dela muito bem, fico feliz que ele nunca quis ir embora, mesmo depois de sua mulher ter ido embora com um peão que trabalhava para ele, deixando Paulo com seus dois filhos, mas isso já faz uns dez anos.

Aqui entre nós, ela sempre foi oferecida e nunca gostei dela.

Estaciono o carro na frente de casa e olho para trás, as minhas meninas estão dormindo. Minhas. Essa palavra não sai da minha cabeça.

Ana e seu marido Edgar, já estão na porta nos esperando. Eles trabalham pra gente desde que me conheço por gente. Desde a época do meu pai. Essa fazenda é praticamente deles e do seu filho Paulo.

— Boa tarde, menino Lucas.

Edgar se aproxima e me dá um abraço assim que saí do carro. Ele está mais forte do que me lembro, quando tiver sessenta anos quero estar como ele. Saudável como um touro.

— Como vai, Edgar? — Retribuí o abraço.

— Estamos todos bem. Tudo em ordem por aqui e já providenciamos tudo que pediu ao Paulo por telefone.

— Obrigado, Edgar. Ana, não vai falar comigo?

Aproximo-me da mulher que foi mais minha mãe que a minha própria. Ela me olha com os olhos marejados como se estivesse a ponto de chorar.

— Por que você não me disse que eu sou avó? Isso é imperdoável — indaga e já vai abrir a porta do passageiro, sem nem chegar perto de mim. Mas depois converso com ela.

— Não liga para ela, daqui a pouco passa — diz Edgar sorrindo.

— Depois explico tudo para vocês.

— Ah a Lindalva vai parir por esses dias. — Lindalva é minha égua querida.

— Que bom que vou poder ver. Faz muito tempo que não vejo o meu bebê. Mas agora vamos entrar e acomodar as meninas.

Como Ana já está com Clarinha, abro a outra porta e pego Alice nos braços. Nesse momento ela abre os olhos e me olha com tanta saudade que parece que não me via há dias, sorri e se aconchega mais em mim. Acho que ela ainda está dormindo.

— Olha só para esse anjinho, Edgar, como é linda. — Com certeza a minha pequena arrumou mais uma fã.

Vamos direto para o quarto para que elas possam descansar. Como tinha pedido, o berço está próximo a cama e tem um monte de coisas de criança que eu não me lembro de ter mencionado ao Paulo. Isso deve ser coisa da Ana.

Olho para Alice e ela ao invés de estar olhando ao redor do quarto como eu, está olhando para mim.

— Oi.

— Oi.

Ficamos nos olhando até que alguém resmunga. Sorrimos e olhamos para a resmungona.

— Acho que tem alguém carente aqui — digo, colocando Alice na cama.

— Parece que sim. Oh me desculpe, eu sou Alice. Não queremos dar trabalho a senhora.

— Eu sou Ana, e não é trabalho nenhum. Eu amo casa cheia e faz muito tempo que ninguém se importa em vir nos visitar. — Olha para mim como se eu fosse um vilão malvado. — E eu nunca vou perdoar vocês por não terem me informado antes, que sou avó de um anjinho tão lindo como esse aqui.

Um Simples Olhar - livro 1 da Série Olhar. DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora