— Quem você acha que são? — perguntou meu amigo, sussurrando. Ele estava com as sobrancelhas levantadas e uma expressão de dúvida.— Não faço ideia! — disse, dando de ombros. Tentei ficar na ponta do pé, mas a quantidade de pessoas me atrapalhava. Tentei mais uma vez, mas não deu certo. Logo me dei conta de algo muito importante... A PROVA!! — gritei, puxando meu amigo pela mão. Koa demorou para raciocinar e, quando ele se deu conta do que eu falava, começou a gritar para as pessoas nos darem licença.
Desviamos da multidão e corremos em direção à escola. Tivemos sorte, pois muitos ainda não tinham chegado. Me sentei na segunda fileira, ao lado de Koa. Suspirei aliviada e fiz um toque com o garoto, comemorando a nossa chegada. A porta foi aberta, revelando o grupo de pessoas, rindo e brigando. Era o famoso "grupinho" que não gostava de mim.
— Chegou o grupo de mimados! — sussurrou Koa. Tentei segurar a risada com a brincadeira que ele fez, mas foi em vão, e acabou escorregando um risinho. Esse pequeno barulhinho chamou a atenção do grupinho.
— Tome cuidado, hein! — disse, beliscando sua perna.
— Bom dia a todos! Irei passar a prova para vocês daqui a pouco! — disse a professora, entrando na sala. — Enquanto isso, alguém sabe quem são os novos moradores do castelo? — perguntou ela, fazendo todos se sobressaírem de suas cadeiras.
— Se estão se mudando para o castelo, devem ser muito ricos! — falou Tion, com um sorriso malicioso nos lábios.
— Talvez não! Aquele castelo está abandonado faz tempo — concluiu a professora.
— Bom, eu não sei, mas hoje eu e minha mãe iremos lá na casa deles dar as boas-vindas — disse Aelia.
Aelia era filha de uma costureira, as duas eram muito fofoqueiras e mimadas, se achavam donas da aldeia. Ela começou a me odiar quando tínhamos cinco anos, não entendo até hoje o motivo de tanto desgosto que ela carrega.
— Aposto que nem irão abrir a porta! — provocou Koa, colocando a mão na boca, abafando o som. O espírito sorrateiro do menino iria matá-lo um dia. Eu prefiro ficar na minha, odeio ser o centro das atenções.
— Ricos ou não, ninguém viu o rosto deles ainda! — falou a professora, sentando em sua cadeira com uma expressão pensativa.
— Que tal começarmos logo esta prova? — perguntei para a professora. Alguns alunos resmungaram, e bufei, porém tive uma ideia — assim teremos mais tempo para descobrir quem são os novos moradores!
Com a minha fala, as pessoas começaram a mudar de ideia, pedindo para a professora passar logo essa prova. Levei um pequeno susto com Koa batendo em minha mão, dizendo que não queria fazer a prova. Revirei os olhos e fiz sinal para ele ficar quieto.
A professora colocou a folha em minha mesa, no canto direito ela pediu para eu colocar meu nome e a data de hoje.
A prova foi fácil, como imaginei. Tinha apenas uma questão que eu fiquei em dúvida, então, espero ter acertado. Como eu tinha sido a primeira a terminar, fiquei do lado de fora esperando o meu amigo; coitado, ele parecia frustrado. A escola não era muito grande, parecia mais uma casa.
Senti a brisa bater contra meu rosto, comecei a observar a aldeia. Olhei para o castelo que já não era mais abandonado; percebi que o cocheiro carregava algumas malas e parecia ter um pouco de dificuldade, já que andava todo arreganhado com elas em seus braços. Foi quando de repente eu vi uma mulher com o vestido preto e um grande guarda-chuva saindo da carruagem. Ela andava apressada até a porta do enorme castelo. Me questionei o porquê dela usar guarda-chuva? Não estava fazendo tanto sol e nem chovendo.
— Calia? — disse Koa, me tirando do transe, estalando os dedos bem na frente dos meus olhos. — Estou te chamando faz um tempo! O que tanto olha? — perguntou ele.
— Nada... — respondi rápido, reparei que suas sobrancelhas estavam erguidas, e ele me encarava, provavelmente desconfiado.
— Ok! Soube de uma festa que vai ter no lago! Vamos? — perguntou ele.
— Está brincando, né? — perguntei num tom de deboche. Koa negou com a cabeça, franzindo o cenho — acha mesmo que vou a uma festa no lago sabendo que as pessoas que eu mais odeio vão estar lá?
— Não custa nada sair — deu de ombros.
— Custa sim! Minha paciência e a minha dignidade! — falei um pouco irritada pela insistência. Comecei a andar na frente dele, a fim de evitar o assunto.
Koa me acompanhou até a padaria. Perguntei se ele queria entrar, porém, ele explicou que terá que ajudar em casa. Entrei no estabelecimento e vi o meu pai encostado no balcão com uma cara de tédio.
— Como foi? — perguntou ele, sem mudar a expressão.
— Foi fácil! — disse, me encostando no balcão ao seu lado. — O que aconteceu?
— O movimento parou assim que os novos moradores chegaram! — meu pai pegou um pedaço do miolo do pão e comeu. O mais velho resmungava às vezes, dizendo que estava muito bom — esta gente fofoqueira que não tem o que fazer da vida — ri de sua carranca raivosa.
— Concordo com você! Agora vou lá em cima preparar o almoço e... o senhor precisa de um banho
! — tampei o nariz com o cheiro de suor que meu pai exalava. O velho cheirou o sovaco e balançou a cabeça com uma careta de nojo.
Entrei no meu quarto, coloquei minhas coisas na cama e andei até minha janela. Eu tinha o enorme privilégio de ter a visão quase nítida do castelo. Nossa casa era a mais próxima da colina. O lugar tinha um ar de mistério, o que o tornava ainda mais atraente. Agora, com as luzes finalmente acesas, o castelo ficou mais belo. Não sabia muito sobre o antigo dono; alguns diziam que um antigo casal o tinha comprado, mas nunca apareceram.
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Trono do Dragão (Degustação)
FantasiaEm um mundo encantado assolado pela devastadora Guerra dos Dragões e Bruxos, o Reino de Bolvin enfrenta um período sombrio. Criaturas mágicas se escondem com medo das novas ameaças que surgiram. Na aldeia esquecida pelo Rei, vive Calia, uma jovem cr...