O homem bêbado e barbado

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Levantei-me de minha cama subitamente no meio da madrugada. 

Ouvi a porta principal se abrir com um rangido metálico, logo acima, na escadaria externa. Estava começando a ficar definitivamente  ansioso, porque isto não era nem um pouco normal. Comecei a andar em direção à janela, sem tirar meus olhos do jardim à frente.  

Agora eu estava amedrontado! Um homem vinha descendo as escadas. Sua pele estava toda suja, sua face muito pálida, e ele possuía uma barba. Parecia ser um ladrão, mas também poderia se tratar apenas de um bêbado. Seus olhos eram os maiores que eu já vi em toda a minha vida.

Devo chamar minha mãe...? Devo chamar pela polícia...? Alguma coisa deveria ser feita! - pensei comigo mesmo.

Quanto mais desesperado eu ficava, mais o homem se aproximava da minha casa, vindo em direção à janela de meu quarto.

Eu tentei, fazendo um esforço anormal, gritar. Eu chamaria pela minha mãe, que estava adormecida.

O homem desceu um degrau da escadaria externa.

"Vamos, vamos! preciso alertar minha mãe!", pensei, mas nenhuma palavra poderia escapar de meus lábios.

O homem descia mais um degrau...

"Rápido, rápido! Preciso ser rápido!"

O homem desceu mais um degrau, e outro, e outro...

"M-m-m-m-m", tentei falar, vacilante, mas a palavra "mãe" não deixava minha boca.

O homem desceu mais um degrau... E AGORA ELE ESTAVA MUITO PERTO!

"M-m-m-m-m", mas nenhuma palavra, eu sabia, deixaria meus lábios. Eu não conseguia entender o porquê. O que havia de errado?

O homem estava agora apenas a poucos passos de distância da minha janela, e eu podia ver seu rosto mais nitidamente do que nunca. Ele era o próprio diabo! Sim!

Sua face estava encardida pela impureza das ruas. Suas roupas estavam todas rasgadas. Ele trazia na mão direita uma faca!

Ele estava apenas a dez passos de distância da minha janela.

Nove passos...

"Devo chamar a polícia!", a ideia persistia em minha mente. Porém, eu não podia sequer mover meus pés de onde eu estava! A razão disto, eu também não conseguia explicar.

Oito passos...

O grito estava na ponta de minha língua, pronto para sair de minha boca, mas nenhum som seria emitido. Eu não sei por quê.

Sete passos...

Seis passos...

Cinco passos...

E o homem estava cada vez mais perto... talvez ele não fosse ladrão coisa nenhuma, mas um maníaco, o que seria muito pior!

O homem parou à minha janela, fitando-me com estranha obsessão. Senti calafrios subirem por toda a minha espinha. Mas o homem não podia me fazer qualquer mal, pois as portas estavam trancadas.

Mas aquele olhar, aquele estranho olhar vindo daqueles olhos enormes, como se estivessem prestes a saltar de seu rosto... aquilo tudo me deixou realmente nervoso.

Desisti de chamar por minha mãe. Ela não acordaria, pois estava imersa num sono profundo. Nenhum esforço seria efetivo.

Tentei gritar "Por favor, vá embora!", mas isto não seria útil, também.

Eu apenas permaneci onde estava, atordoado, esperando pela morte.

O rosto do homem desapareceu da janela aberta de meu quarto. Mas eu sabia que ele ainda estava em algum lugar perto de mim e que eu ainda não estava seguro.

Dirigi-me à cozinha.

Embora a porta dos fundos, que ali se encontrava, estivesse trancada, o homem conseguiu empurrá-la para um lado, violentamente.

Ele ficou parado à porta.

Desta vez deixei escapar um grito, preenchendo todas as paredes com um rugido poderoso vindo de minha garganta.

Em seguida, tudo de que consegui me lembrar foi que eu estava desperto em uma outra realidade.

Eu não sabia dizer se eu havia morrido ou não. Apenas sabia que as cenas que visualizei e expus acima se repetiram de novo e de novo, como numa rotina vivida num mundo de pesadelos.

Sonhos MórbidosOnde histórias criam vida. Descubra agora