†Duo

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- Me vê duas doses do uísque mais forte, por favor.

A música que estoura nas caixas de som da boate parece dar uma trégua naquele canto do bar.

E é por isso que, depois de virar os copos habilidosamente sobre o balcão e enchê-los com a bebida mais amarga, Yeji sequer precisa elevar o tom da voz ao cumprimentá-lo.

- Chegou cedo hoje, Jungkook. E pedindo uísque... O que foi, brigou com seu pai?

A resposta veio com um revirar de olhos. Em seguida, ele se acomodou na banqueta para só então afrouxar a gola da camisa.

- O que me entregou? - e disse, um segundo antes de entornar a bebida garganta abaixo.

- Uau... vai devagar, mocinho! Eu não sou paga para embebedar o filho do chefe.

- Nem ganha nada por ser uma boa amiga - retrucou ele, mal-humorado. - Então, por favor, me deixe entrar em coma alcoólico só dessa vez.

Yeji soprou um riso seco e tampou a garrafa do uísque quando Jungkook fez menção de alcançá-la.

- É sério, Jeon. Chega de beber. Seu pai não vai gostar de saber que você passou por aqui e ainda encheu a cara de... - ela fez uma pausa ao espremer os olhos para enxergar o valor da dose. - exatamente doze mil wons.

- Ah, qual é... Não é como se ele fosse descontar do seu salário.

Yeji o encarou sob os cílios grandes; as sobrancelhas claras se erguendo acima dos olhos escuros.

- E o que você sabe? - perguntou, irritada. - Quantas vezes precisou se preocupar com o pagamento dos funcionários no final do mês, hm? Não sei se você sabe, meu amor, mas eu tenho contas para pagar.

Apenas um segundo foi necessário para que ela arrancasse de vez a garrafa das mãos de Jungkook - o filho do chefe -, e o fez resoluta, decidida, sem nem piscar, antes de caminhar sobre os tênis velhos até guardá-la na vitrine junto das outras bebidas.

Se não conhecesse Yeji há mais tempo, seria fácil admitir que, daquele segundo em diante, seriam inimigos irreparáveis.

- E então? Ainda não me disse o que aconteceu. - Ela retomou quando se apoiou sobre o balcão outra vez, os olhos seguindo o mesmo percurso que os de Jungkook faziam ao viajarem até a pista de dança. - Está pensando em fazer merda, não está?

- Você me julga muito mal, meu bem - ele a encarou de volta.

- Mas acerto quase sempre - Yeji pontuou.

O som amargo do ar escapando pelos lábios de Jeon foi a única coisa que veio em resposta. Quão difícil seria explicar a ela que, apesar de ter um verdadeiro império nas mãos, não andava nem um pouco satisfeito com o rumo que as coisas estavam tomando?

A enfermagem caiu de paraquedas em sua vida. Durante tanto tempo, o preservou das discussões fervorosas a respeito da administração das empresas da família e, de bônus, o poupou do trabalho que era lidar com os pais.

Agora, com a morte do avô e a iminente aposentadoria de sua mãe, nada o desesperava tanto quanto saber que o momento estava chegando.

O momento em que renunciaria voluntária e vergonhosamente à posição de filho de ouro para assumir o cargo de decepção da família. Aquele que deu errado. A negação. O menino que tinha tudo para dar certo mas...

- Eu não quero assumir o Éden - ele disparou de uma vez.

Yeji arregalou os olhos em falsa surpresa.

- Está brincando?! Nunca sequer passou pela minha cabeça que...

- Pare de ser sonsa, Yeji, é um assunto sério. - Jungkook advertiu. Depois, deslizou os cotovelos pela bancada até deitar sobre o próprio queixo. - Eu não sei como contar para ele.

Libidine ❦ JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora