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Ali, o pecado da luxúria era elevado a um pedestal quase sagrado.

Poucos sabiam, no entanto, que o castigo para o vício e as paixões mundanas era ser asfixiado em fogo e enxofre. Se soubessem, pouco mudaria.

Talvez, no lugar de fantasias que beirassem a nudez, usassem artifícios para tentar enganar o diabo. Jamais saberiam que apenas uma pessoa havia conseguido.

- Não vai me pagar uma bebida? - um homem, já no auge de seus trinta anos, perguntou quando viu a criatura de cabelos loiros se aproximar mais uma vez.

Naquele lado do bar, longe do tumulto e dos corpos dançantes, era quase possível falar normalmente. A música alta que tocava nas caixas de som parecia distante o suficiente para não se precisar elevar o tom de voz mais do que alguns decibéis. Qualquer um razoavelmente perto ouviria.

Mesmo assim, ele preferiu recostar o corpo no balcão e fingir que o homem logo ao lado sequer existia.

Era sua estratégia. Sempre foi. Usar da falsa ingenuidade para evocar os desejos mais profundos. Dar a sua presa a sensação ilusória de estar no controle, de ser o predador, para só então cravar sua mordida poderosa.

- Ei - o homem chamou mais uma vez, ganhando sua atenção e um sorriso sem precedentes. Ah, aquele sorriso... O diabo bem sabia que o sorriso da luxúria poderia sujeitar o inferno inteiro. - Qual é seu nome?

- Jimin - ele respondeu, breve, antes de se aproximar cuidadosamente. - Park Jimin. Como preferir.

A bebida chegou no tempo perfeito. Ele apenas virou-se para o balcão, ainda sustentando o sorriso sensual que poucas vezes deixava sua boca. Depois, sussurrou alguma coisa para a atendente antes de fechar os lábios grossos ao redor do canudo, e ainda olhou uma última vez para o homem sob os cílios grandes para só então voltar à pista de dança.

- Caralho...

- Lindo, né? - a bartender suspirou detrás do balcão. - Me faz esquecer que sou lésbica, às vezes.

- Você conhece? - o homem perguntou, sem desviar os olhos da figura bonita dançando no meio da multidão, ao longe.

- Ah, sim. Ele sempre vem. É o cliente número um da lista de presença das sextas.

- Cliente número um? - o homem se virou para o bar.

- Sim - ela confirmou, um sorriso discreto se abrindo no canto dos lábios enquanto preparava um coquetel. Então, explicou: - Sempre o primeiro a chegar e o último a sair. É bizarro. Às vezes ele já está aqui quando chego para trabalhar, conversando com o dono.

O homem assentiu, pensativo.

- Existe até um boato sobre ele, sabe? Desses bem fantasiosos - ela voltou a dizer. 

Ele virou o corpo apenas para olhar a bartender.

- Que boato?

A atendente soprou um riso. Depois, levou o pano ao ombro habilmente para só então declarar:

- Dizem que ele fugiu do diabo. E que veio para a Terra para levar todo mundo com ele.

- Você acredita nisso? - ele diz em um riso debochado.

- Não sei - ela pondera por um segundo. Depois, completa: - Mas se eu tivesse que apostar, apostaria que ele é o próprio diabo.

A garota finalizou o drink colocando uma cereja no fundo da taça. Depois, deslizou o coquetel até ele.

- O que é isso?

- Receita especial da casa. - Ela disse. Então, apontou com o queixo na direção de Jimin ao dizer: - Cortesia do nosso amigo garanhão, ali. Mas vai com calma, é meio afrodisíaco.

Libidine ❦ JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora