• DOIS •

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– Não sabia que entendia tanto de investimentos, Rubens.

Eu estava entediada, já há mais de duas horas naquela mesa de restaurante ouvindo meus pais serem conquistados completamente pelo meu "namorado". Ele se apresentou como Rubens, e eu não contestei, já que nem sabia seu nome mesmo. Depois que meus pais fizeram o maior questionário da vida, começaram a falar do que mais gostam: dinheiro.

Rubens parecia saber bem do assunto. Ele assumiu de verdade a capa de namorado investidor.

– Eu sou curioso, sempre estou estudando um pouquinho quando tenho tempo livre.

Enquanto eles falavam, eu encarava o prato sobre a mesa, com meu queixo apoiado na mão que meu cotovelo sustentava.

– Sabe, Rubens, sempre gostamos de investir. Quando Bia era criança, conhecemos a bolsa de valores e investimos em cursos para saber mexer com ações. Hoje colhemos o fruto dessa nossa paixão e tentamos fazer com que nossa filha também goste. Ela chegou a fazer administração e contabilidade, pois tem o sonho de ter sua própria empresa um dia, mas não se interessa por nada que oferecemos. É cabeça dura demais.

Meu pai comentou, me fazendo encará-lo com tristeza. Eu não gosto quando ele fala de mim como se eu nem estivesse no ambiente.

– Sei bem como ela é. Hoje mesmo, eu tinha um compromisso inadiável, mas ela decretou que era para eu estar aqui e ponto. Sabe como a Bia é quando teima com algo. – Rubens brincou e todos riram.

Ahá, engraçadinho!

Olhei para ele disfarçadamente e o que vi fez meu coração falhar uma batida: Ele sorria de uma forma tão natural, como se realmente estivesse gostando de estar ali. Quando seus olhos me encontraram, se firmaram de um jeito hipnotizante.
Eu estava ficando louca, só pode.

Balancei a cabeça, afastando os pensamentos ilusórios e peguei meu celular para enviar uma mensagem a ele.

"Chega. Vamos embora. Já comemos, já conversamos e eu já passei vergonha, agora vamos"

Enviei pra ele e segundos depois, ele leu e respondeu.

"Ok, meu céu ;)"

Revirei os olhos por sua brincadeira boba e inventei que tinha que dormir muito cedo naquele dia, para me despedir logo dos meus pais.

Dona Lívia e seu Joaquim me deram uma boa educação, apesar de tudo. Eles sabem que eu sou mesmo teimosa e cabeça dura, mas me amam e me entendem, e eu os amo demais apesar de qualquer divergência que possamos ter.

Rubens e eu nos despedimos e eu neguei o uber que minha mãe quis chamar. Rubens disse que me levaria para casa.

Andamos de mãos dadas até o lado de fora, e quando pisamos na rua, soltei a mão da dele e fiz sinal para que atravessássemos a pista. Do outro lado, parei e falei:

– Obrigada, Rubens. Obrigada de coração. Eu não consigo expressar quão feliz eu estou em ter conseguido alegrar meus pais. Você foi perfeito!

Estávamos frente a frente. Rubens com as mãos dentro dos bolsos frontais de sua calça social com a luz do poste sobre ele, naquela noite estrelada.

– Não me chamo Rubens. Me chamo Daniel. Rubens é o nome do meu falecido irmão.

Pela primeira vez na noite, sua voz estava mais suave, séria.

– Meus pêsames, me desculpe. – pus a mão na testa, lamentando. – Eu sou uma tapada mesmo. Era para ter te dado um nome falso, assim você não pensaria em usar o do seu irmão. Desculpe.

MEU CEO ALUGADOOnde histórias criam vida. Descubra agora