CHANCE - Capítulo 1: Na gaveta

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_Seokjin! _ouviu lhe chamarem, enquanto tinha a mente distante, mal prestando atenção no que era dito naquela reunião.

Ora, uma mesa com mais de dez homens, os mais importantes do país e dois do exterior, o projetor apresentava a bolsa de valores, havia café preto e quente nos copos sobre a mesa, papéis e tablets abertos em seções de economia e política que envolviam a empresa... Era fácil imaginar por que estava com o olhar perdido.

_Sim? _questionou, se aprumando na cadeira e olhando em volta, tentando passar um pouco mais de seriedade, alinhando o terno caro escuro e a gravata que já lhe apertava demais para o horário de onze da manhã.

Seria um longo dia.

_Precisamos da sua opinião. _um dos acionistas disse, apontando para o papel que sequer notou que lhe foi passado, bem diante dele. Números a perder de vista, apenas passando o olho notou.

Ergueu o olhar para o pai, que esperava pacientemente sua resposta.

_Ah... _murmurou, piscando algumas vezes e erguendo as folhas com as mãos, tentando ler um pouco. Tabelas incompreensíveis, de fato. _Eu prefiro ir de acordo com o que meu pai decidir. Sou o acionista mais novo nesse ramo sentado aqui, acho seguro confiar nos olhos treinados dele. _respondeu, balançando a cabeça.

Pronto.

Em alguns segundos todos já estavam de volta à reunião, sem encará-lo mais.

Uma hora correu, até que falassem em uma pausa para o almoço. Seokjin quase ergueu as mãos para o alto, mas apenas se levantou, reunindo suas coisas como fazia sempre, esperando que a maioria saísse para evitar um pouco o corredor cheio, e conversas desnecessárias. Uma surpresa, talvez, que agora fosse assim.

Mas antes era diferente. As pessoas a sua volta eram diferentes, e tudo...

Suspirou, indo para a porta.

_Filho. _ouviu o pai lhe chamar, e parou no lugar, se virando.

_Sim?

O mais velho lhe encarou, antes de dar um longo suspiro, afastando os papéis e se levantando também, se aproximando do mais novo.

_Quer ir para casa essa tarde? _questionou.

Ao contrário de anos atrás, o pai era mais atencioso, talvez por tê-lo por perto, o que não acontecia enquanto estava rodando o mundo em turnês.

_Ir para casa? _questionou e o outro assentiu.

_Hoje é o último dia da semana, porque não tenta chamar uns amigos para sair?

Ah, de novo aquela palavra. Embora sua resposta fosse apenas dar um sorriso mínimo, ele tinha sim algo a dizer quanto à aquilo.

Amigos... Não, não tinha mais amigos. Tinha ouvido falar antes da analogia do ninho vazio, ou de colocar todos os ovos numa cesta só. Bom, eles eram tudo que tinha antes, e obviamente ficou sem nada quando tudo acabou, e apenas viu costas se virando para si. As ligações foram ficando mais escassas, e quando finalmente se passaram aqueles sete anos, minha nossa... Não tinha restado nada. Ligações, mensagens, ou qualquer conexão, mesmo que fosse indireta.

Dois tapinhas nas costas depois de um curto abraço, se despediu do pai, descendo pelo elevador e indo para o carro caro, deixando a empresa. Passaria a tarde assistindo vídeos, talvez tutoriais de coisas que não seguia e nem precisava, ou séries, para passar o tempo.

Séries foram sua escolha. Quando colocou na televisão enorme de seu quarto, se encolheu, escurecendo a janela, e deixando os olhos na tela, um pouco entediado.

Ele se sentia idiota.

Não sabia bem aonde cada um deles estava, mas certamente não estavam tão presos ao passado quanto ele.

Era lamentável, tanto que queria guardar ao máximo para si o fato de sempre ficar pensando sobre como era antes. Sobre como estaria sozinho naquele quarto por apenas um pouco de tempo, até que alguém entrasse pela porta falando alto, ou lhe chamando para comerem juntos. Rir. Fazia muito tempo que não dava uma boa gargalhada.

Ele tentou, obviamente tentou. No primeiro ano ainda era difícil, mas nos anos seguintes tinha mergulhado de cabeça naquele trabalho, confiante de que conseguiria seguir aquela carreira.

Mas parecia ter retrocedido ao primeiro, quando se completaram sete anos. Simplesmente sentia falta todos os dias, e revivia memórias que até achava que tinha se esquecido, mas aparentemente apenas passou a reconhecer ainda mais a importância de cada um daqueles momentos tão...

Suspirou, se virando de lado, já não se importando mais com a série na televisão.

No andar de baixo tinha um estúdio, que estava trancado, como sempre ficava. Não era como se não entrasse ali há anos, ele entrava. Tocava nos objetos, passava os dedos pelos álbuns enfileirados. Claro.

Mas não conseguia fazer nada. Cantava apenas quando estava distraído demais para suprimir aqueles sentimentos, e acabava deixando algumas notas saírem. Mas nada era como antes.

Talvez dormir de bruços tenha feito sua imaginação fluir durante o sono que teve naquela tarde. Talvez ter almoçado comida demais e dormir com o estômago pesado realmente mexa com os sonhos das pessoas.

Mas quando despertou suando frio, olhando em volta jurando que encontraria os outros seis, no alto daquele prédio, se agarrando aos lençóis da cama, não tinha certeza se era um sonho ou não.

Respirou fundo, massageando o próprio peito, balançando a cabeça.

_Calma... Foi... Um sonho...

Piscou, se lembrando que pensou demais sobre os álbuns antes de dormir. Talvez aquela música tivesse ficado presa em sua mente.

Ainda aterrorizado se deitou novamente, se virando de lado, olhando para o nada. Talvez...

Talvez devesse ligar para ele. Ele sempre foi meio adulto e meio criança, mas aos olhos de Jin tinham a mesma idade, o mesmo jeito de pensar em muitos aspectos. 

Se pudesse voltar no tempo...

Voltou a suspirar, apertando os olhos. Nada disso era possível.

Passaria o fim de semana daquela maneira, certamente, mas precisava se fortalecer e se preparar para a semana seguinte. "Eu gostaria que fosse diferente desta", pensava. Mas há muito tempo, todos os dias eram iguais.

Se esticou, segurando o porta-retrato com a mão, analisando os rostos por apenas um instante, antes de abrir a gaveta e... Iria guardar. Iria deixar ali para que mofasse, talvez. Mas nunca conseguia. 

Estava mais preso a tudo aquilo do que imaginava.


CHANCE - BTS |Jikook & VhopeOnde histórias criam vida. Descubra agora