Capitulo 1

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25 de dezembro.


Acordo sobressaltada.

Mais um maldito sonho com o mesmo homem, no mesmo lugar. Levo a mão ao peito, tentando conter a respiração acelerada. Sempre fico desse jeito quando tenho um desses pesadelos: um homem com rosto escondido por uma máscara, olhos cristalinos e o gazebo. Nunca sei o que acontece depois. Não há continuação. Só o que sei é que ele em nada tem a ver com Gustavo, o homem por quem estou apaixonada.

O despertador traz-me de volta a realidade, indicando que meu expediente está prestes a começar. Hoje, além de comemorarmos o Natal, será anunciado o noivado de Nick e Laura e é meu primeiro dia como babá oficial das crianças Delamont.

Sinto o famoso friozinho na barriga.

Odeio lidar com empregos novos, mesmo que eu já conheça os meus chefes.

À noite, assim que ficamos prontos, caminhamos pelo hall, e a enorme árvore de natal, com alguns presentes já postos, chamam a atenção dos gêmeos: Dora e Felipe. Eles observam as enormes caixas empilhadas, enquanto vejo-me como reflexo de uma das bolas que enfeitam o extensivo pinheiro de plástico.

Meus olhos, entristecidos, e sei o motivo, mas não gosto de pensar sobre isso. Estar longe de minha família, numa data tão importante, me deixa emotiva, mas não é apenas isso que tem me incomodado, uma vez que Gustavo e eu discutimos noutra noite. Ele não parece disposto a assumir um relacionamento, mas continua me procurando.

Cansada de ver meu semblante, seguimos para os jardins, e os gêmeos correm na direção dos anfitriões da festa, enquanto Alice permanece ao meu lado. Ela não diz nada, mas seu olhar de águia observa a tudo.

— Por que não aproveita para dar uma volta? — questiono enquanto sinto olhos sobre mim.

— Mais? Não teria graça. — A menina dá de ombros e me faz rir. Faz sentido, uma vez que ela deve estar cansada de andar pelos arredores da mansão. De repente, como se tivessem um imã, meus olhos são guiados até Gustavo. Seus olhos estão tão negros quanto a noite, mas não devido à cor que possuem. Seu semblante irritado diz tudo. Franzo a testa, porque realmente não entendo o motivo de sua fúria.

— Ei! — Laura aproxima-se sorrateiramente, e a cumprimento com dois beijos nas bochechas. Felipe está ao seu lado. Ele a adora e não esconde isso. — Como está seu primeiro dia? — Ela aponta com a cabeça para Alice, que emburra a cara.

— Eles estão sendo fofos! — sou sincera, e Alice estufa o peito, orgulhosa.

— Menos mal, né! Porque são uns pestinhas! — Laura replica baixinho, e Alice pisa de propósito em seu pé. — Ei!

— Aprenda, Duda! — Alice comenta no pé do meu ouvido, e gargalho.

— Precisamos conversar! — Gustavo aparece de repente e, assim que dá de cara com Laura, amansa o tom de voz: — Oi, Laura! Posso roubar sua babá rapidinho?

Minha amiga dá de ombros e me encara posteriormente. Seus olhos repetem a mesma pergunta de Gustavo. Assinto, sentindo minhas pernas tremerem e minhas mãos suarem frio. Não faço ideia do que ele pretende falar, mas confesso ansiedade.

Caminhamos para longe dos convidados, um ao lado do outro, num silêncio incômodo, até nos depararmos com um dos vários jardins da mansão.

— O que aconteceu, Gusta...? — Ele não me dá tempo de falar, quando toma minha cintura para si e gruda nossos lábios de forma bruta. Ele tenta enfiar a língua dentro da minha boca, mas não deixo. Então, sinto-o morder a ponta do meu lábio inferior. — Ei! — reclamo.

— Isso é para você parar de vestir essas roupas indecentes! Não precisa se exibir assim. — Olho para o vestido vermelho que estou usando, e o decote na altura dos seios realmente começa a me incomodar. Decido ajeitá-lo, mas infelizmente não consigo.

— Nem adianta mais esconder. Está tudo à mostra!

— Sério? Está muito ruim...? — ele me corta:

— Ah, Duda, fala sério! Você não é tapada, nem nada! Deixa de cinismo! — Seu tom de voz me magoa, e vejo-o embaçar diante de mim. — Às vezes, acho que você se faz inocente para sobreviver! — Pisco os olhos, atordoada. As lágrimas descem, e não quero que me veja chorar, por isso, passo por ele, decidida a voltar para a mansão.

— Você não é nada meu, Gustavo! Nem tem esse direito! — grito e ando a passos largos, a fim de voltar para o lugar que me encontrava há poucos minutos, e, assim que olho para frente, meus olhos se deparam com um par de safiras cristalinas.

Nos entreolhamos e, de algum modo, ele me parece familiar, mesmo que eu tenha certeza que jamais vira seus selvagens cabelos dourados e rosto simétrico. Suas sobrancelhas se franzem e seus lábios rosados chamam a minha atenção. Ele não me parece estranho.

— Eu te amo, Duda, e quero largar minha vida louca por você! — A voz de Gustavo me tira do torpor, e arregalo os olhos diante de sua declaração. Volto o meu olhar para ele e vejo um sorriso lindo em seu rosto. Sinto o coração acelerar, feito um louco, e corro em sua direção, roubando um beijo apaixonado.

— É sério mesmo? — questiono baixinho ao nos distanciarmos. Ele faz que sim com a cabeça, e beijo-o novamente. De repente, lembro que não estávamos sozinhos e olho na direção em que o homem de cabelos dourados encontrava-se há meio minuto, porém não o encontro.

— Algum problema? — Gustavo questiona, e respondo que não. Seria uma miragem? — Quer ir para outro lugar? Longe desse barulho todo? — Seu sorriso demonstra suas intenções maliciosas.

— Não posso! — sorrio passando as costas das mãos no meu rosto, de modo a limpar os vestígios das lágrimas. — Estou trabalhando!

— Hm... Verdade! — Caminhamos devagar até onde está acontecendo a pequena reunião. De repente, Gustavo para diante de um dos garçons e pede duas taças de champanhe. — Aqui! — Ele me oferece uma e, com a ajuda da chave de um dos carros em que dirige, bate na outra. — Gostaria de propor um brinde. Se o Nick me permitir, é claro! — Sinto que coro, diante de tantos olhares em nossa direção. — Pedi essa linda mulher em namoro e ela aceitou! — Franzo a testa. Ele não me pediu nada! Gustavo me puxa através da cintura, novamente, e sorrio fracamente. É tudo meio louco, mas confesso estar gostando! Ele me beija, apaixonadamente, e continuo sem reação. Jamais gostei de ser o centro das atenções.

Corto o beijo ao meio e decido procurar por minha amiga no meio dos convidados de Nikolas. Preciso encontrá-la logo, para voltar a ser a velha e invisível Duda. Vasculho o rosto de Laura em meio à pequena multidão de rostos desconhecidos, e um em especial chama a minha atenção: o homem de cabelos dourados e olhos cristalinos. Um sorriso enfeita a minha face.

Ele não era uma miragem, afinal.

Um bebê para Andrew - Duologia Amores Intensos Livro 2 (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora