CHICAGO
ABRIL, 2018Inácio Cordeiro havia saltado da cama mais cedo naquela manhã, estava em seu último dia na cidade e após a conferência de arquitetura que havia lhe custado todos os dias hospedados na grande Chicago, sendo essa pertencente ao notável estado de Illinois, ele sentiu que tinha o direito de aproveitar a metrópole com direito a guia e tudo mais. Por sorte, ele havia conseguido contatar uma brasileira que residia na cidade e embora dominasse a língua estrangeira, preferiu a companhia de alguém que pudesse entender seu jeitinho brasileiro. Mesmo que adorasse estar ali, aprendendo tanto e sendo guiado aos altos níveis de arquitetura proporcionados pelo lugar, a saudade lhe apertava o peito.
A companhia estava custeando tudo, o que fez Inácio e seus colegas optarem por um hotel, no mínimo, luxuoso. Ele destoava facilmente daqueles que acompanhavam-no naquela viagem, já que seu berço poderia ser de tudo menos de ouro. As coisas mais singelas poderiam deixá-lo encantado sem o menor esforço, e isso o guiava, além, é claro, do seu anseio por viver momentos inesquecíveis. Seu apartamento no Brasil poderia ser considerado simples, uma vez que ele mal investia em móveis ou na decoração, e sim em câmeras, principalmente, as analógicas, sua maior paixão. E apesar de estar na cidade por causa da sua profissão como arquiteto, sua real motivação era fotografar o maior número possível de prédios, o que faria logo com a ajuda de sua câmera récem adquirida com muito choro.
Por isso, talvez, ele tenha se atrapalhado ao tomar seu café, em razão de sua pressa em explorar a famosa Chicago, acabou por derramar um pouco da bebida na sua bela camiseta azul clara de botões e ao tentar limpar com um guardanapo complicou mais ainda a sua situação. Ao menos ele estava em uma mesa afastada, sem testemunhas para condená-lo a vergonha, o pobre homem somente foi capaz de bufar irritado consigo mesmo.
Sem demora Inácio retornou ao seu quarto que, felizmente, era individual, se trocou o mais rápido que pôde, dessa vez escolhendo uma camiseta lisa branca. Lembrou-se da experiência do dia anterior no qual esquecera de levar seu blazer, portanto, apanhou uma jaqueta jeans levemente puída, ciente de que ainda que o sol radiante estivesse posto sobre os céus os ventos poderiam soprar em sua direção.
Tornou a deixar o quarto após uma última conferida no espelho, arrumando o cabelo assumindo o homem vaidoso que era, não voltou ao restaurante e decidiu sair do hotel, rumando — com o auxílio do Google — para o popular The Bean, ou originalmente chamado de Cloud Gate, onde encontraria Daniele, sua guia.A caminhada não havia sido muito longa, como previsto pelo seu auxiliar só levou 3 minutos para chegar a Avenida Michigan, Inácio contava com a boa localização do hotel e assim que atravessou a avenida alcançou o Millennium Park. Não levou muito mais tempo para avistar o pavilhão de eventos, aquele de que ouvira um americano se gabar de ter uma acústica invejável, registrou uma pequena sequência de fotos do lugar fazendo uso da câmera que havia pendurado no pescoço durante o caminho até ali.
Inácio mal pôde crer no que seus olhos viam, uma escultura muito bem polida que refletia a cidade ao seu redor em todos os ângulos imagináveis, direcionou a lente para o inigualável monumento a sua frente. A julgar pelo horário até que o lugar estava vazio, as pessoas andavam de um lado para o outro encarando seus reflexos na superfície de aço inoxidável, provocando um sorriso bobo no homem que capturava todas as nuances daqueles pequenos instantes, aproximando-se com mais alguns passos fotografou a imagem distorcida de si mesmo. Virou-se olhando ao redor, antes de abaixar a cabeça para fazer alguns ajustes no ISO e no foco, voltando a erguer a câmera e capturando a bela imagem dos arranha-céus que logo ele iria visitar.— Inácio?
Ouviu seu nome através de uma voz animada, seu olhar se direcionou para a possuidora da mesma e ele reconheceu a mulher com quem havia se correspondido dias atrás. A mulher de cabelos curtos e loiros, ergueu os óculos apoiando-os na cabeça revelando seus olhos verdes, ela também se mostrou preparada para o clima da cidade uma vez que carregava um agasalho consigo.
— Daniele! Tudo bem?
Ela era mais alta do que ele havia suposto, acabou abrindo um sorriso aproximando-se dela e a cumprimentando conforme um bom paulista faria, dando-lhe um beijo no rosto.
— Sim e você? E aí, gostando desse feijão aqui?
A loira questionou, correspondendo ao cumprimento e expondo um sorriso singelo nos lábios, tombando a cabeça para o lado ao indicar a escultura.
— Posso dizer que sim, e logo respondo as duas perguntas.
Ele diz exalando bom humor, ainda se sentindo um pouco tímido mas sabia que isso não duraria muito.
— Bem, teremos boas horas e bons lugares para explorar. Mas precisamos ter energia pra isso, então, já tomou café?
— Tentei. — Inácio ri, levando a mão a nuca, coçando-a, claramente envergonhado.
— Vou julgar isso como um não. — A risada dela apesar de fraca e levemente nasalada, o fez sorrir. — Vem, vou te levar pra comer o melhor cachorro quente daqui, creio que já abriram.
— Cachorro quente?
— Não se preocupe, é muito gostoso e vai te manter satisfeito por tempo suficiente.
Ela riu mais uma vez, diante da expressão incrédula da qual o rosto dele se apossou.
Inácio só gastou mais alguns minutos ali no "feijão", partindo na companhia de sua guia, sem saber para onde estava indo mas confiando na mulher que tentava deixá-lo mais relaxado ao contar suas experiências na populosa localidade.
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Chicago
RomanceInácio Cordeiro um arquiteto viajando à fins profissionais, acaba se hospedando na cidade de Chicago para aproveitar uma conferência exclusiva de Arquitetura. Se tratando de um amante da fotografia e colecionador de câmeras analógicas, ao fim de sua...