02. Capítulo Dois

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— Você é a Chicago.

A ambulância não demorou a chegar, mas não parecia uma boa ideia deixar o carro na rua então Marjorie decidiu dirigir até o hospital. Seu coração estava pesado e sua mente rebobinava as palavras do homem a todo momento, mas nada mexia mais com ela do que a maneira com a qual ele a olhou, parecia estar mais do que só cobrindo o ar de palavras confusas e sim revelando um desejo antigo.

Ele havia apagado logo depois, aparentemente devido a uma concussão, segundo os paramédicos. O que a fez pensar que ele estava delirando, apesar daquela menção curiosa a Chicago, afinal, ela havia estado na tal cidade acerca de dois anos atrás.

O caminho foi um pouco dificultoso graças a um pequeno engarrafamento — que por pouco não levou o resto da sua paciência — mas não custou muito do seu tempo e logo ela chegou ao hospital. Estacionou, sentindo que tudo aquilo havia servido para ela assumir um pouco mais de controle sobre o volante.

Ou não.

A verdade é que ela não acreditava naquilo, mas estava tentando ser otimista e não deixar o medo fazê-la querer arrancar as unhas com os dentes. Era quase sempre difícil lidar consigo mesma, contudo ela estava tentando se aperfeiçoar e ser mais gentil com seus botões, principalmente depois do que enfrentou nos últimos meses.

Ela apanhou sua bolsa do banco de trás, respirando fundo antes de descer do carro, travando-o. Tentou manter-se calma mas acabou correndo, entrando e se encaminhando diretamente para a recepção.

— Boa noite. Eu...

Marjorie ofegou em direção a recepcionista que até então estava de costas, no entanto assim que ela se virou a mulher a reconheceu de imediato. Era Carla, uma amiga de certa data.

— Marjô! O que faz aqui, menina? Como tá o seu pai?

— Carla, acho que você nem vai acreditar. — Ela fez uma pausa, passando a mão pelo cabelo tentando organizar seus pensamentos que flutuavam acima dela. — Eu atropelei um cara e prometi que o acompanharia, mas eu não, não sei o nome dele. E, quanto ao meu pai, bom, ele está ótimo.

A mulher a olhou por um segundo antes de rir, abanando a cabeça. Logo notando a forma acelerada e nervosa com que ela se portava, e por fim, a olhou com a atenção dobrada.

— Tá falando sério? Meu Deus, menina...

— Eu não ia brincar com uma coisa dessas né, Carlinha. — Marjorie disse ainda notando um riso frouxo nos lábios da amiga. — Eu deixei meu nome e número com os socorristas. Não te disseram nada?

Carla correu os olhos pelo estande até que ergueu seu dedo indicador, como se houvesse se lembrado de algo. E, assim apanhou um pedaço de papel rasurado que estava na parte baixa da bancada e estendeu a ela.

— Eles comentaram sobre uma moça. Mas nem cheguei a associar com o seu nome. Desde quando você dirige que eu não tô sabendo?

— Era meu primeiro dia.

Inevitavelmente, as bochechas de Marjorie ficaram vermelhas de vergonha devido a risada que ressoou pela sala de espera. Que felizmente, só tinha alguns gatos pingados entretidos com suas próprias vidas, ou melhor dizendo, aparelhos celulares.

— Olha, ele tá aqui sim mas não posso deixá-la entrar. Parece que só a família tá autorizada.

A visão da jovem tornou-se turva e a tontura se manifestou, fazendo-a cambalear para trás.

— Ai, meu Deus, Marjô. Você tá bem?

— Sim, sim. É só a minha pressão.

Ela murmurou ao comprimir os olhos, abrindo-os tentando ficar focada na bela pintura que estava atrás da recepcionista, apoiando-se na bancada.

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