Capítulo Três

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Luiz Antônio, São Paulo

2013

- Andorinha sozinha não faz verão, Inácio. Como é que eu vou cuidar disso aqui sozinho?

Airton exclamou enquanto se recostava no fogão de lenha vermelho, bebericando seu café recém passado. Inácio, seu filho, suspirou sentindo o peso do que suas palavras significavam. O dia estava frio e o nevoeiro cobria o campo, mal era possível enxergar alguma coisa através da larga janela da cozinha. O sol estava escondido por entre as nuvens e indicava que não daria as caras tão cedo.

- Eu sei, pai.

- Então por que continua teimando comigo?

Seu olhar era duro e quase impassível. Deixando o adolescente com um nó na garganta. Aquela discussão já estava se prolongando há alguns dias.

Dois cabeças duras tentando chegar a um acordo, segundo dona Doralice.

- Porque eu quero sair dessa cidade, ué. Quero fazer faculdade, viajar...sei lá, sair desse buraco.

- Buraco? Que buraco? Isso é jeito de falar, menino! Foi dessa terra que você comeu a vida toda.

Ele havia deixado a xícara de lado, indignado. Apesar da culpa por vê-lo daquela maneira, Inácio tinha completo discernimento sobre o que havia dito, já que tais anseios estavam guardados há um longo tempo e não deixavam seu peito descansar.

- Pai, você nunca pensou em ter um filho doutor?

- Duvido que você quer ser doutor, Inácio. Eu te conheço, você tá querendo é coisa de arte que eu sei.

O garoto liberou uma risada baixa, balançando a cabeça ao vê-lo gaguejar com o leve nervosismo, ele estava certo, como de costume. Inácio aproveitou e se levantou da cadeira abandonando o copo de café na mesa, caminhando de encontro a ele, acompanhando-o ao se apoiar no fogão e então virou o rosto para olhar firmemente para o seu velho pai.

- Eu quero ser arquiteto, pai. Fazer prédio, casa...- Ele abriu um sorriso de lado, esboçando aquele ar sonhador que o pai já conhecia. - Fazenda. O que eu quiser.

- E onde que você vai fazer isso?

- Bom, eu tava pensando em São Paulo.

Inácio murmurou, coçando a nuca trazendo à tona aquela ideia que era bastante perigosa para sua relação com o pai.

- Vocês tão brigando de novo?

A voz autoritária de dona Dora ressoou pelo cômodo, fazendo o olhar de ambos seguir na direção da porta imediatamente, a postura dos dois foi recomposta assim que a mulher deu alguns passos.

- Não, não...só tô conversando com meu pai, mãe.

- Sei. - Um sorriso seguido por um olhar desconfiado foi estampado em seu rosto. - Já contou pra ele, Airton?

O jovem virou-se para o homem que ajeitava o chapéu na cabeça, seu semblante era o mais sério que já havia visto, as paredes do peito de Inácio mal podiam aguentar os saltos que seu coração dava naquele pequeno instante até que o senhor sorriu largo afastando a carranca.

- Contar o que?

Ele não saberia dizer se existiu voz ali, devido a toda a ansiedade que transbordava pelo seu peito, ocupando a sua garganta e deixando-o mais do que temeroso.

- Você passou, Inácio.

- Passei? No que?

Ele trocou um olhar confuso com os pais, até que a mãe veio para o seu lado lhe dando um abraço apertado. A verdade é que ele não estava entendendo nada, no entanto gostara daquele gesto. Seu Airton, o olhava ainda meio tonto, logo o rapaz notou um acumulo de água em seus olhos e então compreendeu tudo aquilo, ou pelo menos uma parte. O homem sorriu antes de envolver a esposa e o filho com seus braços largos.

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⏰ Última atualização: May 21, 2021 ⏰

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