Não Posso Voltar Atrás.

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-Ah sim, querida, pode vir aqui quando quiser... -Antes de terminar a frase ela parou abruptamente e fez um barulho murmurando- Droga!- Provavelmente havia perdido o horário novamente, a Tia Aline não era bem uma pessoa muito organizada ou prevenida ou cuidadosa como a minha mãe.- É... querida, sinto muito tenho que ir mas...

Desta fez fui eu que a interrompi e disse:

-Tia, é muito importante eu...

-Querida tenho certeza de que seja lá o que for pode espe...

-Tia! O Dan morreu! –falei em um grito, mas rapidamente me calei com a mão, mas logo me lembrei de que estava sozinha, e novamente antes que ela pudesse falar eu retomei a fala –Bem... Ele ia morrer... mas eu vi e, desculpe foi tão rápido, fiquei desesperada.

A linha permanecia calada, quando pensei que talvez a ligação tivesse caído e ela disse:

-Querida, sinto muito, mas você devia tê-lo deixado ir.

-Tia, mas eu não pensei que...

-Abby, você não sabe do erro que cometeu, a morte não gosta de ser enganada.

Eu gelei, e fiquei encarando a cozinha a minha frente ainda com o telefone no ouvido, eu não sabia o que ela queria dizer, mas definitivamente não era algo bom.

-Tia, eu...

-Abby, tem um motivo para pessoas como nós não evitarmos a morte, ela volta por alguém que você ame mais, aconteceu a anos com o seu avô, meu pai,ele me falou sobre a maldição quando percebeu que eu havia herdado ela, ele estava frustrado e não conhecia mais ninguém com a madição, ela havia pulado mais de tres gerações antes dele, então ele salvou sua avó da morte, então no dia seguinte ele teve que salva-la novamente pois a morte havia voltado por ela, mas ele ainda não tinha percebido, então a morte veio atrás de mim, pois ele amava mais a mim do que minha mãe, ele teve que me salvar da morte quatro vezes, e durante esse tempo houveram intervalos apenas de mais ou menos duas horas,- eu permaneci calada na linha, e sentido os meus pelos da nuca se arrepiarem completamente e ela continuou- quando ele percebeu o que estava acontecendo já era tarde, a morte já havia ameaçado a sua mãe, e a minha vó, então ele entrou em desespero, e simplesmente se matou, ainda não satisfeita a morte levou a sua avó depois da morte dele, e partiu.

-Porque você nunca me disse isso antes, eu teria... Deixado ele... Morrer... Eu... – comecei a chorar desesperada- Me desculpe.

-Querida, quando você ver a morte dele novamente, você precisa deixar acontecer- disse ela ainda com uma voz calma e angelical, mas ela já estava chorando- Não podemos decidir esse tipo de coisa.

-Tia... Já aconteceu...- eu respondi chorando.

-Ah Ab, eu sinto muito, muito mesmo, você precisa aceitar isso agora e...

Antes que ela pudesse falar algo eu simplesmente disse:

-Eu não posso deixar ela levar a minha mãe.

E em um impulso desliguei e liguei para a minha mãe Elisa, ela não atendeu, então liguei para o meu pai, ele atendeu no primeiro toque e estava chorando, percebi pelos ruídos, ele disse:

-Abby, é você?

-Sim... Pai... Você esta bem?

-É a sua mãe Abby, ela teve um problema, e caiu da escada do escritório, ela se foi Abby, eu...- Ele perdeu o controle e chorou compulsivamente, e continuou- vou pegar um voo para casa, ainda hoje filha, não se preocupe, vai ficar tudo bem, eu amo você- e ele desligou.

Fiquei desesperada, eu queria estar morta no lugar dela, era culpa minha, não era a vez dela, não era a hora dela, a morte estava influenciando muito na morte dela, pensei que a morte só pudesse causar ataques cardíacos, ou coisas assim, de repente fechei os olhos e foi como um paraíso sombrio, sem perceber eu já estava sentada no chão da cozinha encostada na bancada atrás de mim, agora eu precisava esperar, eu não podia mais interferir nas mortes de Dan ou estaria prejudicando as pessoas que eu mais amo, pelo menos ainda tenho o meu pai, e a minha tia que poderia me fazer entender mais dessa maldição dos infernos.

Depois de o que pareceram horas eu ainda estava sentada encarando as paredes, e pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo.

O telefone tocou, o meu primeiro pensamento foi: Pronto, esta feito, ele se foi e estão ligando para avisar da minha perda, Eu sinto muito, Dan.

Atendi o telefone como eu havia previsto estava feito, ele havia morrido, em um acidente de carro novamente, eu já esperava, estava me preparando para isso, mas quando eu soube não pude evitar e chorei o restante do dia quando a minha Tia chegou para me consolar, mas tudo o que ela realmente fez foi chorar comigo, nem uma de nós ainda tinha forças para se sustentar.

Meu pai chegou depois de algumas horas e ele também não foi forte, fiquei sofrendo pelo resto da semana, eu queria ter um descanso, mas só nessa semana eu já havia visto mais de quatro mortes.

A tia Eline me falou que o meu pai sabia sobre a maldição, ele namorava a minha mãe desde bem nova e quando houveram suspeitas de que ela havia herdado essa porcaria, eles falaram para o meu pai ficar de olho na sanidade da minha mãe caso ela começasse a ver as mortes, e conversar com ela sobre isso, mas nunca foi preciso.

Eu vejo que dói, vejo tudo, sinto tudo, eu não quero isso, nunca quis, mas nunca havia me afetado dessa forma tão abrupta, mas ainda assim, serena, eu estava sozinha novamente, na rua em frente a casa, eu pude ouvir , sentir o odor e a raiva palpável da morte por não poder me tocar, por ser incapaz de me afetar, entrei em casa, subi até o banheiro, refiz a imagem do Dan sorrindo, mas essa imagem se tornou em um corpo, ou melhor, um saco de carne e ossos, inútil, de que vale isso? Nada. Fiz meu caminho até os remédios da noite passada, tomei um por um, e me entreguei a essa entranha e ainda assim, charmosa aventura, que conhecemos como morte.

Bad ChoicesOnde histórias criam vida. Descubra agora