- Não! Você só pode está louco se acha que eu vou aceitar isso. - dei as costas para ele e fui para ajudar o meu tio, não ficaria nem mais um minuto perto daquele homem. - Eu vou arranjar outro jeito de te pagar e depois disso espero que nunca mais cheguei perto da minha família outra vez! - cuspi as palavras sem me importar com o que ele fosse fazer depois, minha cabeça estava em chamas.
- Escute aqui! - ele segurou meu braço com força e depois apontou a arma para a minha bochecha. - Deveria me agradecer pela minha paciência em querer fazer um acordo com você, eu te fiz uma boa proposta e se você quer dar uma de durona tudo bem. - ele esfrega o cano da arma em meu rosto e aperta ainda mais o meu braço. - Amanhã eu quero que comecem a pagar nem que seja um porcento do que vocês me devem, agora some daqui. - Ross finalmente me solta e eu seguro o braço do meu tio ajudando ele a andar, precisava sair dali o mais rápido possível, precisava da minha casa, da minha cama, do meu irmão, do Lou, precisava chorar.
O caminho até em casa foi silencioso, não ouvi se quer um suspiro do meu tio e por incrível que pareça isso me incomodou, também não lembro dele ter dito nada quando estava conversando com Ross. Assim que chegamos dei de cara com o Lou na frente da porta sentado esperando por nós.
- Ei, vocês estão... - ele parou de falar quando meu tio esbarrou nele e entrou em casa as pressas sem dizer uma única palavra. - então, pelo visto não tá tudo bem não é? - ele perguntou meio cabisbaixo, parecia cansado.
- Temos uma dívida de cinquenta mil. - disse tentando segurar as lágrimas.
- Como seu tio pode fazer isso com vocês, ele realmente passou de todos os limites e.... - ele parou de falar quando viu uma lagrima solitária escorrer em minha face. - Ei, não fica assim, eu posso conseguir isso para você. - ele abre os braços e eu nem êxito em correr para seus braços em busca de conforto emocional.
- Eu nunca deixaria você fazer isso por mim. - digo em meio as lágrimas e sinto uma de suas mãos passear pelos meu cabelos e a outra me apertar contra o seu peito.
- Me deixa te ajudar, somos amigos Claire, por favor. - sua voz sai baixa e doce, e eu nem me lembro a última vez que o vi falar assim.
- Não. - me afasto para limpar as lágrimas e olhar em seus olhos. - Você já faz muito por mim e eu vou ser eternamente grata por tudo, mas isso é um problema exclusivamente meu. - ele abre a boca para dizer algo mais eu não deixo. - Eu sei que quer o meu bem, mas deixa eu fazer do meu jeito ok? - ele revira os olhos, balança a cabeça em reprovação e volta a me encarar com uma expressão brava.
- Eu não vou te forçar a nada, sabe onde me encontrar quando precisar. - ele sai pela calçada e segue em direção a rua antes mesmo de eu responder. - Tenha uma boa noite.
- Louis volta aqui. - tento chamar sua atenção mais ele continua caminhando até eu não vê-lo mais.

Que tipo de castigo o universo está tentando me dar hoje? Como e quando tudo começou a desmoronar desse jeito, debaixo das minhas vistas e eu só percebi agora? Infelizmente eu não sou o tipo de pessoa que repete frases como "vai dá tudo certo!" no intuito de manter a calma, eu uso o estoque de lágrimas que não foram usadas quando a mamãe foi embora ou quando eu bati o meu dedinho no pé na cômoda. Eu nem passei no quarto do Jack, fui direto para o banheiro e fiquei meia hora debaixo daquele chuveiro no intuito de lavar a minha alma que precisava de uma faxina das boas. Chorei o suficiente para que quando eu entrasse no quarto o cansaço me segurasse até amanhã, mas ouvi batidas na porta e já sabendo quem era eu levantei rapidamente para abrir.
- Oi. - Bobby diz seco, cabisbaixo me encarando com os olhos marejados.
- Oi, tio. - demorei para responder depois do tio pois não sabia como formular nenhuma frase. - Não tente se explicar de nada, muito menos pedir desculpas. - disse firme.
- Eu sei que está magoada, eu decepcionei você pondo a vida de vocês dois em risco. - virei as costas e entrei no meu quarto sentando na cama, meu tio fez o mesmo.
- Não estou com raiva de você. - disse abaixando a cabeça. Era verdade, era impossível sentir raiva do Bobby mesmo ele fazendo merda. - Só estou perdida, como vou pagar isso tudo? - essa pergunta era mais para mim do que para ele.
- Essa dívida não é sua, eu vou dar o meu jeito. - ele tenta e falha na arte do consolo. - Eu posso ver com uns amigos meus, posso fazer um serviço por aí sabe, e além disso... - não deixei ele terminar a frase.
- Bobby! - disse firme. - Chega desses negócios errados, chega de tudo isso, entendeu? Eu vou dar o meu jeito pois você e Jack são a minha única família e eu não viveria sem vocês, eu tenho as economias da faculdade guardadas aqui, é pouco mas deve quebrar o galho por enquanto. - me levanto e abro a última gaveta da minha cômoda no canto esquerdo do quarto, tiro de lá um envelope pouco volumoso e entrego para ele que continua me olhando, parecia surpreso e sem dizer uma palavra ele pega de minhas mãos, se levanta e vai em direção da porta, mas se vira para me encara antes de sair. - Eu realmente sinto muito por isso, sou um péssimo tio. - ele deixa cair uma lagrima e eu não aguento ver gente chorando que já me derreto toda. - Eu prometo que vou melhorar, prometo! - eu corro para abraçar-lo.
- Preciso que você seja o meu tio, e não um bêbado qualquer. - digo em meio ao abraço.
- Eu sei querida, sinto muito. - depois de uns minutos ele se despede de mim e vai embora, finalmente o cansaço me derrota eu caiu na cama.

Que dia é hoje? Terça? Nossa se eu pudesse não levantava desta cama jamais, mas a vida pede não é mesmo? Preciso ver o Jack e ver se o meu tio está bem depois de ontem.... Falando nele, olha só....

- Tem que aprender a bater na porta. - disse mal humorada, levantando da minha cama.
- Bom dia, você parece radiante hoje! - disse empolgado, entrando no meu quarto.
- O quê deu em você? - lembrei dos meus compromissos e procurei o meu celular como uma louca por meio dos lençóis. - Ah não pode ser, são 10:00! O Jack perdeu a creche.
- Não, não, eu já levei. - Bobby disse sorridente.
- Ok, que tipo de brincadeira é essa Bobby? - cruzo os braços com total indignação.
- Não seja tonta, eu levei o garoto para a creche e fiz café da manhã para você. - ele se levanta e vai em direção a porta.
- Por quê? - estava enraivecida e não sabia o motivo, afinal ele fez o que deveria fazer todos os dias, ser responsável.
- Você abriu mão de algo importante para você, acha que não me importo? - ele pareceu surpreso, mas não mais do que eu.
- Só quero saber o motivo da mudança repentina, não é possível que aquele bandalho tenha batido tão forte em sua cabeça. - disse mais calma, em tom de brincadeira para desfazer aquele clima.
- Finja que fui abduzido e agora sou um novo homem! - ele disse brincalhão. - Agora desça, panqueca fria é muito ruim.
Quando ele saiu do quarto fui direto para o banheiro tomar um banho e me vestir a caráter para procurar um emprego, não gosto de admitir mas estive procrastinando este dia. Coloquei uma calça, blusa simples e blazer, espero que seja o suficiente e que combine com o meu salto preto. Na verdade, ele era da minha mãe e eu sempre gostei de vê-la usando ele, me trás lembranças boas sempre. Em fim terminei de escovar os dentes e fui direto para a cozinha e me impressionei com o cheiro bom da panqueca.

- Você só pode está de brincadeira! - corri e sentei na mesa como uma criança animada. - Tem chantilly e morangos! - não dava para esconder a minha alegria e sorriso radiante.
- Eu me esforcei. - tio Bobby caminha até a sala e não demora muito para voltar com um envelope em mãos. - Isso aqui chegou para você.
Assim que peguei o envelope de suas mãos me dei conta do que se tratava, era da faculdade, eu não acredito que esse dia finalmente chegou. Abrir sem um pingo de delicadeza e comecei a ler em voz alta enquanto meu tio mantinha seu olhar confuso em mim.
- Senhorita Claire.... - comecei a ler em voz alta. - Blá blá blá, estamos felizes em informar que você foi aceita... - olhei para o meu tio e ele estava em choque e eu comecei a gritar. - Tio, tio, tio eu entrei!

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