Atravessando o jardim cheio de fontes, flores verdes, estátuas e lírios, com nossas coisas em saco de lixo, parecíamos pequenos e ridículos diante da casa de Diego Silva. Cuja extensão era enorme, para o compensar o fato de ter apenas um andar. Além disso, a mansão do escritor contava com uma quadra de tênis e uma piscina de comprimento olímpico.
— Não chora, pequenininha, isso tudo é só um mal entendido. Logo, logo as coisas vão se ajeitar. — Disse Tio Marcos, sem qualquer tipo de convicção em sua voz.
Ele parecia apenas estar falando essas coisas para acalmar Maria, que apesar de já ter quinze anos, chorava como um bebê.
Minha tia havia ficado em casa com Roberta, recusava-se a olhar para nós desde o ocorrido e havia se recusado ao deixar o quarto nos últimos dias que passamos lá. Mas Marcos, fez questão de nos acompanhar em seu próprio carro até a casa de Diego, para que pudesse se despedir.
Meu tio aproximou-se de mim, na tentativa de me dar um abraço de despedida, mas Serena o impediu, segurando-o pelo ombro.
— Isso é mesmo necessário? — Perguntou ele, com um olhar caído desolado.
— Tem sorte de eu não mandar te prenderem. — Respondeu a assistente social, impassível.
Queria que ela tivesse deixado, já que sabia da verdade.
Observei a cena, pergutando-me se tinha feito a coisa certa. Jamais imaginei que a separação entre os dois fosse causar tanta comoção e temi que os sentimentos de Maria pelo meu tio fossem verdadeiros, não apenas uma fachada para ser adotada. Mas agora, não havia nada que pudesse fazer em relação a isso, o diário já estava escrito e voltar atrás seria admitir que menti.
Antes que pudéssemos tocar a campainha, a porta se abriu, interrompendo meus pensamentos e Diego Silva saiu.
Ele parecia mais magnífico do que a última vez que o vi, mesmo que não estivesse mais usando seu terno, mas sim um jeans e uma camiseta polo branca com detalhes azuis, que combinava com seus olhos claros. A primeira coisa que ele fez, foi me pegar no colo e estender a outra mão para cumprimentar Serena, segurando-me em um braço só com facilidade, apesar de eu já ter dez anos. Creio que perto dele, mesmo por um breve momento, até Serena deve ter se sentindo minúscula.
— Boa tarde. — Disse ele para a assistente social, em seguida deu um beijo bem apertado na minha bochecha — Kovich, fiquei te esperando há tanto tempo.
— Imagino o tanto. — Serena sorriu.
Kovich... As palavras dele ecoaram na minha cabeça, como se significassem algo bem além daquela tarde e sorri de volta, pensando em como ninguém mais me chamava assim.
Diego virou-se para meus irmãos, parecendo igualmente feliz e deu um beijo na bochecha de cada um. Da mesma maneira que fez com a assistente social, quando pode. Por fim, viu que meu tio também estava ali.
Senti a mão de Diego apertando minha coxa com um pouco mais de força, como se estivesse tentando conter a raiva e lembrei do meu diário falso. Será que ele sabia? Meu coração acelerou, temendo que ele fizesse alguma coisa contra meu tio.
— Vou indo. — Disse Marcos, parecendo ter perdido toda a esperança dentro de si de nos recuperar.
Meu tio se encolheu, parecendo ter medo e se retirou sem dizer mais nada. Com a consciência pesada, escondi o rosto no peito de Diego, para não ter que vê-lo naquele estado.
— Vamos entrando? — Convidou Diego, tentando melhorar o tom para se livrar do clima tenso.
A sala era do mesmo tom de azul do lado de fora, com uma parede central branca com alguns enfeites de madeira típicos de Paraty, como pequenas esculturas de barcos e peixinhos. Logo abaixo, estava uma televisão enorme e um videogame que parecia recém comprado, em cima de um hack com um pote cheio de chocolate.
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A Lista De Porcos Da Menininha
RomantikDiego Silva é um escritor renomado, mas por trás do seu sucesso, há uma mente perturbadora. Quando Aime perde a mãe e recebe a notícia da identidade de seu pai, até então, desconhecida, ela fica deslumbrada com o mundo glamouroso que Diego aparenta...