A Lista De Porcos Da Menininha

Three little monkeys

João foi o primeiro a ir embora e o primeiro a perceber que Diego não tinha intenção nenhuma de ficar com nós três. Mas, por ser muito desobediente, não o levamos à sério.

As pessoas sempre dizem que meninos amadurecem depois, mas eu acho que as meninas que são obrigadas a amadurecer. Foi assim com Maria, com Ofélia nos deixando de lado, Maria era obrigada a cuidar de nós dois.

Mesmo na casa de passagem, quando recebeu algum descanso, sentia-se na responsabilidade de evitar que João fizesse alguma coisa errada, que manchasse os nossos históricos para os casais. Já com meu tio, ela tinha medo de que fossemos mandados embora de volta e todos os seus planos de ter uma família feliz fossem por água abaixo. Agora, na casa do meu pai, Maria não se importava com isso.

Minha irmã passava o dia inteiro no quarto. Quando aparecia, se aparecia, era para fazer as refeições e nesses momentos, sentava-se conosco à mesa com um olhar cansado, cheio de bolsas, sem nenhuma expressão no rosto.

Imaginei que ela ainda estivesse irritada, então tentei falar com ela algumas vezes, mas fui ignorada ou recebi respostas vagas, o que acabou me irritando e fazendo com que eu desistisse.

— Dê um tempo para ela. — Sugeriu Diego — É uma mudança muito grande, talvez ela precise de espaço.

Concordei, achando o conselho muito sábio, naquela época, tudo que meu pai falava me parecia inteligente.

No entanto, a "ausência" de Maria afetou João mais do que eu imaginava. Ele andava agressivo, batendo-nos sem motivo na ausência de um adulto por perto, quebrava as louças da casa para não ter que lavar e havia desenvolvido um hábito de fugir que enfurecia assistente social.

— Vamos, Diego, já estou sofrendo muita pressão do pessoal de lá por causa desse menino. — Disse Serena em sua última visita antes do meu irmão ir embora — O que acontece se um dia alguém vê ele andando por aí de madrugada e liga pro Conselho Tutelar?

— Eu tento, Serena. Mas o que você quer que eu faça?  — Diego argumentou — Não vou gostar nada também se eu trancar ele no quarto.

— Ele tem onze anos, Diego, eu não quero saber, dê um jeito ou isso pode impactar nos assuntos da Aime.

Meu pai estava muito nervoso e ascendeu mais cigarros do que o comum naquele dia, deixando um cheiro rançoso pela casa, que parecia acompanhá-lo.

Isso pode impactar nos assuntos da Aime, não esqueci as palavras da assistente social. Sem perceber, naquele dia acabei assumindo a mesma posição de Maria.

Preocupada com o fim da minha adoção, fui procurar João. Encontrei-o no quarto, chutando uma bola de futebol enquanto contava as embaixadinhas, quando me viu, ele parou.

Embora tivéssemos só um ano de diferença, não costumávamos nos falar muito. Era assim com Maria também, só estávamos ligados, porque o mundo nos disse que éramos irmãos.

— Que foi? — João perguntou, colocando a bola por debaixo do braço.

— Onde você vai? — Perguntei, entrando no quarto.

— Como assim?

— De noite, quando você foge, para onde você vai?