Vinho Tinto

Carta para Elizabeth

Inesquecível Elizabeth,

Estou farto.
Já sou um homem velho, porém, sem muita experiência no amor.
Se eu sei o que é amor?
Essa é uma certeza que nunca tive, sei que amei e ponto.
O homem pode saber de muitas coisas, pode entender de gramática e aritmética, mas não acho que um dia entenderá de amor - se algum dia por acaso, algum homem entender, poderei afimar-te que este homem de tudo sabe e de tudo entende.

Passei a minha juventude amando uma mulher. Na minha velhice percebo que fora a única.
Acho que o amor tem dessas coisas.
Alguns amam o dinheiro, outros a fama.
Antes tivesse amado ao dinheiro e a fama do que a você, Elizabeth.
Foram tempos bons, é verdade, mas de repente você se encontra mergulhando em amores rasos, e mesmo que seja tão raso, não consegue chegar a superfície.

É insano o que o amor pode fazer às pessoa.
Como queria ter essas respostas no meu tempo de menino.
No entanto, se as tivesse, não teria vivido, nem amadurecido. Seria menino até hoje. 

Eu não a culpo mais, Liz.
Você também não passava de uma menina, vivendo sua juventude e se divertindo com rapazes.
A sua autenticidade me fez estar profundamente e incontrolavelmente apaixonado por você.
Não era recíproco. E eu tolo demais para perceber.

Estou farto da sua assombração acompanhando meus dias na velhice.

Estou farto da vida, do amor, de você.

Talvez eu ainda a ame, Elizabeth.
Mas não o suficiente para querer viver.

De seu não tão amado,
Antônio.